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    Lava Jato

    Delegados da Lava Jato dizem que nunca pediram instalação de escuta

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA

    16/09/2015 21h52

    Reprodução
    CURITIBA, PR, BRASIL, DATA DESCONHECIDA: O doleiro Alberto Youssef mostra equipamento que ele diz ter achado dentro da cela, na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba (PR). O doleiro foi preso na Operação Lava Jato, desencadeada pela PF do Paraná, sob acusação de comandar um esquema que teria movimentado R$ 10 bilhões. Ele também é investigado pelas relações suspeitas com o deputado André Vargas (PT-SP) e com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. O aparelho de escuta teria sido descoberto pelo próprio doleiro, no final de março de 2014, ainda de acordo com o advogado. (Foto: Reprodução) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Youssef mostra equipamento que disse ter achado dentro da cela, na carceragem da PF em Curitiba

    No primeiro depoimento público que deram sobre a escuta encontrada na cela de Alberto Youssef, os delegados da Operação Lava Jato negaram que tenham pedido sua instalação e disseram que não tinham conhecimento do aparelho.

    A escuta, instalada sem autorização judicial, teria sido usada para monitorar conversas do doleiro e de outros presos na operação. Policiais federais acusam os delegados da Lava Jato de terem ordenado a instalação do equipamento, que foi encontrado por Youssef em abril do ano passado.

    A corregedoria da PF investiga o caso. Advogados de defesa têm dito que o episódio foi uma violação às garantias dos investigados.

    "Isso me parece totalmente descabido", disse o delegado Marcio Adriano Anselmo, em depoimento à Justiça Federal nesta quarta-feira (16).

    Ele e o colega Igor Romário de Paula, ambos à frente das investigações da Lava Jato, foram ouvidos como testemunhas numa ação penal.

    Os dois disseram que ninguém deu ordens para a instalação da escuta, que jamais receberam qualquer tipo de gravação do aparelho e que só ficaram sabendo da sua existência quando ela foi noticiada pela defesa de Youssef.

    "Essa ordem [para a instalação da escuta] não existiu por nenhuma das autoridades envolvidas na investigação da Lava Jato, nem da superintendência. Até o momento em que ela foi encontrada, nós desconhecíamos que existisse esse equipamento", disse Paula.

    O delegado disse que Youssef nem sequer ficou, nos primeiros dias de custódia, na cela onde estava a escuta. Por isso, não haveria possibilidade de que eles houvessem instalado o equipamento propositalmente para monitorá-lo.

    VERSÕES

    É o oposto do que afirmou o agente Dalmey Fernando Werlang, que também depôs à Justiça nesta quarta. Werlang, que já falou à CPI da Petrobras e prestou informações à sindicância da PF, diz ter instalado a escuta a pedido de Paula, Anselmo e do superintendente Rosalvo Ferreira Franco.

    "Eles estiveram na minha sala, numa manhã, solicitando a instalação com urgência em uma das celas. Isso foi às vésperas, horas antes da operação."

    O agente disse que entregava, de dois em dois dias, um pendrive para os delegados com os arquivos de áudio, mas que nunca degravou nem ouviu o conteúdo. Isso ocorreu durante aproximadamente dez dias.

    Uma sindicância interna da PF no Paraná apontou, em setembro do ano passado, que o equipamento estava desativado. Um memorando do próprio Werlang levantava a possibilidade de que ele já estivesse instalado no local anteriormente, na época em que o traficante Fernandinho Beira-Mar ficou preso no Paraná e um juiz de Mato Grosso autorizou a instalação de uma escuta ambiental.

    Na audiência desta quarta, o agente disse ter sido pressionado a escrever essa informação, que não seria verdadeira.

    "A gente estava numa situação difícil. Eles colocaram a gente na parede. O delegado [Maurício] Moscardi [responsável pela sindicância] chegou e disse que tinha que escrever que já existia [a escuta]. Eu questionei, mas ele insistia que tinha que ser daquela maneira", disse Werlang ao juiz Sergio Moro. "Eu não tinha segurança na época para confrontá-lo."

    A nova sindicância da PF sobre o caso ainda não foi concluída.

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