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    o impeachment

    Sem propostas, maratona de Dilma no NE deixa rastro de descontentamento

    PATRÍCIA BRITTO
    DO RECIFE

    18/09/2015 12h09

    Yala Sena/Folhapress
    Yala Sena/Folhapress Dilma Rousseff anda de trem durante visita à ferrovia Transnordestina, em Paulistana, no Piauí
    Dilma Rousseff anda de trem durante visita à ferrovia Transnordestina, em Paulistana, no Piauí

    Planejada como uma estratégia para reverter sua queda de popularidade, a série de viagens que a presidente Dilma Rousseff faz pelo Nordeste desde agosto ainda não trouxe os resultados esperados pela petista.

    Por onde ela passa, é recebida com uma lista de cobranças e sai deixando empresários frustrados.

    A maratona já incluiu 6 dos 9 Estados da região que deu à petista 72% dos votos no segundo turno de 2014.

    Nesta semana, ela interrompeu o roteiro para uma agenda do Minha Casa, Minha Vida em Presidente Prudente (SP), na quarta (16), e faria outra em Belo Horizonte nesta sexta (18), que acabou cancelada. A petista deverá retomar as viagens ao Nordeste nas próximas semanas.

    Sem novos investimentos para anunciar ou obras novas para entregar, a presidente visitou projetos que acumulam anos de atrasos, como a transposição do rio São Francisco e a ferrovia Transnordestina, com conclusões previstas só para 2017 e 2018, respectivamente.

    No Ceará, entregou moradias do Minha Casa, Minha Vida, mas não escapou de reclamações sobre os atrasos nos repasses do programa. Dias depois, ela admitiu que o governo terá que "suar a camisa" para entregar todas as casas prometidas.

    Segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará, André Montenegro, o débito com as construtoras no Estado chegou a R$ 160 milhões e gerou mais de 6.000 demissões.

    "A resposta foi o silêncio. O que nos deixa intranquilos é o descumprimento dos prazos", disse. Segundo ele, metade da dívida foi paga após a visita presidencial, mas as empresas não sabem quando receberão o restante.

    Para evitar um protesto em Pernambuco, a presidente teve que se reunir de última hora com representantes do setor canavieiro, que cobram a liberação das subvenções para cerca de 30 mil produtores afetados pela seca. O pagamento foi aprovado há mais de um ano, mas o dinheiro nunca chegou.

    "[A reunião] Gerou uma expectativa positiva, mas até agora nada se efetivou", critica o presidente da União Nordestina dos Produtores de Cana, Alexandre Lima. No encontro, Dilma prometeu dar uma resposta em até 20 dias. O prazo se esgotou e os canavieiros já planejam um protesto para a próxima viagem presidencial à região.

    Roberto Stuckert Filho/PR
    Presidenta Dilma Rousseff posa para foto com trabalhadores durante cerimônia de Entrega da Estação de Bombeamento EBI-1 e de 45 KM de Canal do Eixo Norte, do Projeto de Integração do São Francisco - PISF. (Cabrobó - PE, 21/08/2015) Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
    Dilma posa para foto com trabalhadores na entrega de trecho da transposição do São Francisco

    APELO

    Políticos também aproveitam as agendas presidenciais para fazer cobranças, nem sempre atendidas. Em Campina Grande (PB), o presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino (PSB), entregou a Dilma um "voto de apelo" para a liberação de recursos para obras contra a seca –com apoio de deputados da Paraíba, do Rio Grande do Norte e de Pernambuco.

    "Os recursos do governo federal estão sendo repassados a conta-gotas", afirma. Na Paraíba, 88% dos municípios estão em estado de calamidade por causa da estiagem. Segundo Galdino, Dilma autorizou a entrega de um equipamento para perfurar poços, mas não deu prazo para a liberação de recursos.

    As viagens frustraram até mesmo governadores aliados, como Rui Costa (PT), na Bahia. As equipes dele e do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), esperavam anúncios de verbas para obras de VLT, BRT e contenção de encostas. Nada se concretizou.

    Nesta quinta (17), o PT ainda perdeu o único prefeito de uma capital do NE, Luciano Cartaxo, que anunciou ida para o PSD em João Pessoa.

    'PROBLEMAS DELA'

    Outra dificuldade tem sido recuperar a confiança do empresariado, um dos objetivos das viagens. No Piauí, Dilma ouviu críticas ao aumento de impostos e cobranças por recursos para obras paradas, como a duplicação da BR-343.

    "Demos 78% dos votos a ela, será que nem assim a gente consegue alguma coisa?", cobrou o vice-presidente da Associação Industrial do Piauí, Gilberto Pedrosa. "Ela só está aqui para resolver os problemas dela, não os nossos", disse.

    A maratona coincide com o agravamento da crise, com uma nova polêmica a cada semana –atritos com o vice-presidente, nova CPMF, Orçamento deficitário, perda do grau de investimento e pedidos de impeachment.

    Nesse cenário, em busca da agenda positiva, Dilma e sua comitiva de ministros têm aproveitado as viagens para defender o mandato da petista e destacar programas do governo federal, como Bolsa Família, Mais Médicos e Pronatec. São acompanhados por plateias favoráveis à petista, com declarações de amor à presidente e gritos de "não vai ter golpe".

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