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    Lava Jato

    PF prende operador que seria ligado ao PMDB

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA
    BELA MEGALE
    FLÁVIO FERREIRA
    DE SÃO PAULO
    GABRIEL MASCARENHAS
    DE BRASÍLIA

    21/09/2015 07h23

    A Polícia Federal prendeu nesta segunda-feira (21) João Augusto Rezende Henriques, apontado como operador ligado ao PMDB, em nova fase da Operação Lava Jato que investiga a suspeita de desvios em contratos da estatal Eletronuclear.

    A prisão preventiva havia sido determinada pela Justiça pela manhã e o operador se entregou, por volta das 13h, à Polícia Federal no Rio de Janeiro. Ele deve ser transferido até o início da noite para Curitiba, sede das investigações. Sua prisão é válida por cinco dias, prorrogáveis por mais cinco.

    Segundo a Procuradoria, Henriques seria o "sucessor" de Fernando Soares, o Baiano, na relação com a diretoria Internacional da Petrobras. De acordo com o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, o operador é "um dos maiores" da Lava Jato, e foi responsável por movimentar "valores milionários".

    Os investigadores conseguiram chegar a ele por meio de documentos apresentados por um novo colaborador. Eles demonstraram o suposto pagamento de propina à diretoria Internacional da Petrobras, na época comandada por Jorge Zelada, na compra de um navio-sonda Titanium Explorer, de US$ 1,816 bilhão.

    Henriques foi o responsável por operacionalizar o pagamento, por meio de contratos de fachada e emissão de notas frias. Dos cinco mandados de busca cumpridos no Rio de Janeiro, onde ele mora, quatro foram em endereços ligados ao operador.

    José Antunes Sobrinho, um dos sócios da construtora Engevix, também foi preso, preventivamente, em Florianópolis. Ele será levado para a superintendência da PF em Curitiba, sede das operações.

    Sobrinho já é réu num processo por suspeitas de participação no esquema de corrupção da estatal.

    Serão cumpridos ainda sete mandados de busca e apreensão e duas conduções coercitivas (quando alguém é levado para prestar depoimento e esclarecer fatos da investigação). As diligências ocorrem nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis.

    No Rio, um dos mandados de busca e apreensão está sendo cumprido na empreiteira Mendes Júnior. Uma outra empresa ligada a um dos suspeitos e três imóveis de investigados também são alvos das diligências no Rio. Em São Paulo e Florianópolis as buscas estão sendo feitas em imóveis de suspeitos.

    Lava Jato - 19 ª Fase "Nessun Dorma" - 35 policiais cumprem 11 mandatos

    CASA CIVIL

    Durante a coletiva de imprensa, o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima disse acreditar que o esquema investigado pela Lava Jato foi gestado dentro da Casa Civil do governo Lula (2003-2010) –comandada pelo ex-ministro José Dirceu, também preso na operação.

    "Mensalão, petrolão, [desvios na] Eletronuclear são todos eles conexos, porque dentro deles está a mesma organização criminosa. No ápice dessa organização, estão pessoas ligadas a partidos e, não tenho dúvida, à Casa Civil do governo Lula", declarou.

    Lima admite que esta fase é "um rescaldo" de anteriores, e se queixa de que a força-tarefa está em compasso de espera após a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a última etapa da investigação, a Pixuleco 2.

    O Supremo decidiu separar uma parte da investigação, que envolve suspeitas contra a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e desvios no Ministério do Planejamento. O ministro Teori Zavascki, que vinha decidindo sobre os inquéritos da Lava Jato, entendeu que, como os fatos da última fase não ocorreram na Petrobras, eles não são de sua competência.

    Investigadores temem que essa decisão comprometa as demais etapas da investigação e levante questionamentos sobre a competência do juiz federal Sergio Moro e da força-tarefa da Lava Jato sobre os desvios que não sejam da Petrobras.

    "Tudo faz parte de uma mesma organização criminosa, num esquema de compra de apoio político-partidário para o governo federal", sustenta Lima.

    NINGUÉM DURMA

    A 19ª etapa da operação, deflagrada nesta segunda, foi apelidada de "Nessun dorma" –expressão em italiano que significa "ninguém durma".

    O nome foi um "recado" para os envolvidos em corrupção, segundo a PF.

    "Fica como dica para quem achava que a Lava Jato estava diminuindo suas ações", disse o delegado federal Igor Romário de Paula, que conduz as investigações.

    A expressão também faz referência a uma famosa ária da ópera italiana Turandot, de Giácomo Puccini. Nela, a princesa Turandot proclama que ninguém no reino deve dormir até que se descubra a identidade do "príncipe desconhecido", Caláf.

    Os delegados preferiram não comentar sobre a referência ao "príncipe desconhecido".

    ELETRONUCLEAR

    A Eletronuclear já foi alvo de uma fase anterior da Lava Jato, no final de julho, quando foram presos o presidente licenciado da estatal, almirante Othon Pinheiro da Silva, e o executivo da Andrade Gutierrez Energia, Flávio David Barra.

    Na época, foram investigados desvios em contratos da usina nuclear Angra 3. O então presidente da Eletronuclear teria recebido R$ 4,5 milhões em propina, por meio de contratos de fachada com as empreiteiras Engevix e Andrade Gutierrez. Ele e outras 13 pessoas foram denunciados à Justiça e respondem à acusação de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

    Os investigadores verificaram que uma empresa sediada no Brasil recebeu entre 2007 e 2013 cerca de R$ 20 milhões de uma empreiteira que é alvo da Lava Jato. Segundo a investigação, os pagamentos de propina pelas obras de Angra 3 ocorreu até pelo menos janeiro deste ano.

    No dia 15 deste mês, o juiz federal Sergio Moro aceitou a denúncia contra o executivo e mais 14 pessoas, entre elas o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.

    Outro foco da investigação são os desdobramentos da 15ª fase "Conexão Mônaco", que investiga agentes públicos e políticos que tenham se beneficiado de recebimento de propina no exterior proveniente da Diretoria de serviços da Petrobras.

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