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    Lava Jato

    Operador do PMDB recebeu R$ 20 mi de empreiteiras suspeitas da Lava Jato

    GRACILIANO ROCHA
    DE SÃO PAULO

    21/09/2015 16h26

    Uma das empresas de João Augusto Rezende Henriques, preso nesta segunda (21) sob suspeita de ser um dos operadores do PMDB na diretoria internacional da Petrobras, recebeu R$ 20 milhões de empreiteiras suspeitas de integrarem o esquema de corrupção na estatal.

    Henriques é apontado pelo Ministério Público Federal como uma espécie de preposto do ex-executivo da Petrobras Jorge Luiz Zelada, preso desde julho, para recolher e repassar propina em contratos da diretoria internacional, no Brasil e no exterior.

    Os investigadores detectaram que a Trend Empreendimentos, que pertence a Henriques, recebeu transferências bancárias da Andrade Gutierrez, da Mendes Júnior, da UTC e do Consórcio Novo Cenpes (liderado pela OAS) e de empreiteiras menores no valor de R$ 18,4 milhões. Além disso, a Procuradoria também encontrou evidências de que a Engevix pagou outros R$ 1,8 milhão à firma de Henriques.

    A Procuradoria sustenta que a empresa não tem capacidade técnica e que contratos de assessoria às grandes empreiteiras eram somente um disfarce para a propina.

    "Há fundada suspeita de que ele teria intermediado o pagamento de propinas em contratos da Petrobras para dirigentes da referida empresa e para agentes políticos ainda não identificados", escreveu o juiz federal Sergio Moro, ao justificar a prisão de Henriques.

    Uma das operações suspeitas envolvendo a Trend Empreendimentos ocorreu em 2011, quando ela distribuiu R$ 1,4 milhão a títulos de lucro para Vitor Pereira Delphim, que nunca foi sócio da empresa. Henriques entregou-se no início da tarde desta segunda e Delphim foi levado para prestar depoimento à Polícia Federal.

    No pedido de prisão, os investigadores também dizem ter encontrado rastros da atuação de Henriques como operador de suborno em outros negócios da área internacional: o contrato de afretamento do navio-sonda Titanium 10000 por US$ 1,8 bilhão com a Vantage Drilling e um contrato de US$ 825 milhões vencido pela Odebrecht para serviços de segurança, meio ambiente e saúde em ativos da estatal no exterior. Mais tarde, o contrato foi reduzido para US$ 485 milhões porque a Petrobras vendeu ativos no exterior.

    NAVIO-SONDA

    O lobista Hamylton Padilha, também ligado ao PMDB, descreveu em um dos depoimentos de sua delação premiada como João Augusto Henriques agiu nos bastidores como intermediário de Zelada.

    Padilha era o representante da Vantage e foi informado por Raul Schimidt, outro lobista ligado a Zelada e que é réu em ação penal por corrupção e lavagem de dinheiro, que o negócio do afretamento do Titanium 10000 só iria para frente se houvesse o pagamento de propina. Representantes da Vantage toparam, segundo o delator, pagar o pedágio.

    No final, parte da propina teria fluido por meio de um contrato de comissionamento de US$ 14,5 milhões entre a TMT, uma acionista da Vantage, e a Oresta Associated, uma offshore baseada em Belize, controlada por Padilha.

    Só dois terços deste valor foram efetivamente pagos, nas contas de Padilha na Suíça, porque a TMT decretou concordata no período, travando o desembolso da última parcela da comissão. Dos US$ 10,8 milhões recebidos, Padilha repassou US$ 5 milhões a Raul Schimidt e, a partir dele, parte do dinheiro teria chegado às contas de Zelada.

    A Procuradoria ainda suspeita da atuação do lobista na venda pela Petrobras da refinaria de San Lorenzo, na Argentina, e na aquisição pela Petrobras de 50% de um bloco de exploração de petróleo na Namíbia, país da África ocidental.

    OUTRO LADO

    A Folha ainda não conseguiu ouvir a defesa de João Augusto Henriques. Em depoimento em julho, ele negou que tenha ligações políticas com o PMDB ou intermediado propina.

    A defesa de Zelada também refuta a acusação da Procuradoria de que o ex-diretor tenha recebido propina por contratos de empreiteiras com a área internacional da Petrobras.

    A Andrade Gutierrez disse que não fará mais qualquer pronunciamento sobre os processos em andamento para garantir que não haja qualquer prejuízo à defesa de seus colaboradores e ex-colaboradores. A Engevix e a UTC também disseram que não se pronunciariam sobre os pagamentos feitos à Trend.

    Já a Odebrecht disse que o contrato firmado com a Petrobras foi "resultado de licitação pública conquistada em 2010 de forma legítima por menor preço, em total respeito à lei".

    "O contrato era destinado à execução de serviços em instalações da Petrobras fora do Brasil, e teve seu valor reduzido em janeiro de 2013 - exclusivamente em decorrência do plano de desinvestimento dos ativos da Petrobras no exterior, e não em virtude de auditoria interna, como está claro no aditivo contratual assinado entre as partes", afirmou a empresa, em nota.

    "O plano de desinvestimento da Petrobrás, com a alienação de várias instalações, em diversos países, resultou na diminuição de escopo de trabalho previsto originalmente no contrato, que passou a abranger atividades em cinco países, quando a previsão inicial era atuar em nove países", finalizou a nota da Odebrecht.

    A Folha não conseguiu localizar o advogado de Raul Schmidt. Em ocasiões anteriores, ele havia negado o envolvimento com atos de corrupção e pagamentos de propina no exterior.

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