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    TVs públicas de MG e RS mudam de cara após trocas de governadores

    JOSÉ MARQUES
    DE BELO HORIZONTE
    FELIPE BÄCHTOLD
    DE SÃO PAULO

    23/09/2015 17h00

    Criadas com autonomia para difundir cultura e informações sem precisar concorrer por audiência, emissoras de TV pública dos Estados mudaram a programação e diretrizes de conteúdo após as trocas de governo.

    Em 2015, ao menos duas televisões estaduais, a Rede Minas e a TVE gaúcha, ganharam "a cara" dos novos governadores após adversários políticos da antiga gestão assumirem o poder.

    Fernando Pimentel (PT) substituiu 12 anos de comando do PSDB em Minas. Já José Ivo Sartori (PMDB) conseguiu impedir a reeleição do petista Tarso Genro.

    A principal mudança em Minas é a aproximação da TV de setores ligados à militância de esquerda, como movimentos sociais, além de um compromisso assumido de contribuir na administração.

    Já na Educativa do Rio Grande do Sul houve extinção de programas do governo PT e proximidade dos redutos eleitorais de Sartori.

    Ambas as emissoras têm orçamento apertado e sofrem com a crise financeira dos Estados, de quem dependem para bancar a maior parte das suas despesas. A TVE-RS tem gasto de custeio de aproximadamente R$ 250 mil mensais. Na Rede Minas fica em cerca de R$ 400 mil.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Nomeados pelos governadores, os presidentes das fundações que controlam as duas TVs confirmam que fizeram mudanças, mas dizem ser independentes em relação aos gestores.

    Na Rede Minas, a primeira medida da nova diretoria que chamou atenção foi a substituição do jornal da TV Cultura, ligada ao governo de São Paulo –do tucano Geraldo Alckmin–, pela exibição do Repórter Brasil, da TV Brasil, do governo federal.

    O presidente da rede, Israel do Vale, afirma que o jornal era custoso e transmitia pouco conteúdo sobre Minas Gerais –o que é contestado pela gestão anterior.

    Também houve mudanças administrativas, como no conselho curador, que reunia entidades como a Federação de Indústrias de Minas e opinava sobre decisões tomadas pela direção. O órgão, por exemplo, deu aval à reprodução do Jornal da Cultura. Agora, o conselho ter representantes ligados a movimentos sociais.

    Uma das pretensões de Vale é transformar a Rede Minas em uma "plataforma de governança eletrônica", que transmita as demandas das regiões do Estado ao governo. A ideia se aproxima do principal programa de Pimentel, os "Fóruns Regionais", reuniões entre representantes do Estado e municípios distantes da capital. Ao fim, será produzido e exibido um documentário.

    O presidente anterior, Júlio Miranda, diz que as decisões têm sido "políticas" e "um pouco irresponsáveis". Vale contesta: "as mudanças não são chapa-branca". Segundo ele, a modificação torna a TV mais próxima da população de modo geral –e não só da classe média.

    TROCA DE FILIADOS

    No RS, a nova administração da TV reformulou a programação, deu espaço para o conteúdo da TV Cultura e tirou do ar programas idealizados no mandato anterior –como o "Mídia em Debate", sobre a imprensa.

    O governo Sartori também encerrou contratos de profissionais admitidos na gestão do PT, incluindo alguns petistas. No programa "Galpão Nativo", de música regionalista, saiu o apresentador Carlos Cachoeira, filiado ao PT, e entrou para a vaga Elton Saldanha, músico do PMDB.

    Também será ampliado o espaço do interior no conteúdo. A presidente da fundação que administra a TV gaúcha, Isara Marques, diz que há agora uma "visão editorial" diferente. "Mas não é uma TV do governo, é do Estado."

    'DEMOCRACIA FRÁGIL'

    Para o doutor em comunicação e professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia) Fernando Conceição, as constantes mudanças nas televisões dos Estados apontam "um problema da fragilidade da democracia no Brasil". "Para mudar isso é só pegar o modelo de grandes TVs públicas, como a BBC."

    O jornalista Pedro Luiz Osório, que até 2014 dirigiu a associação brasileira das emissoras públicas, diz que os dirigentes deveriam ter mandatos que não coincidissem com as mudanças de governo. "O dano colateral nas TVs é muito grande."

    MEMÓRIA

    Um dos casos mais controversos de mudanças em emissoras públicas ocorreu entre 2003 e 2010, nos mandatos do peemedebista Roberto Requião no governo do Paraná.

    O então governador costumava exibir na emissora Paraná Educativa ataques a adversários, respostas a críticas da mídia e anúncios de sua gestão. Um dos programas era uma reunião semanal com secretários e discursos transmitidos ao vivo. Requião também fez um acordo para exibir conteúdo da Telesur, estatal venezuelana.

    Hoje, no governo do tucano Beto Richa, a TV paranaense retransmite na maior parte da programação conteúdo da paulista TV Cultura.

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