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    'Prefeita ostentação' passa a noite em alojamento com ar-condicionado

    JOÃO PEDRO PITOMBO
    DE SALVADOR

    29/09/2015 11h21

    Diego Chaves/OIMP/D.A Press.
    Prefeita afastada de Bom Jardim (MA), Lidiane Leite, 25, se entrega à polícia em São Luís

    Prefeita afastada de Bom Jardim (MA), Lidiane Leite (sem partido), 25, passou a noite desta segunda-feira (28) num alojamento de médicos do Corpo de Bombeiros, em São Luís. No local, há ar-condicionado, duas camas de solteiro e banheiro privativo.

    Suspeita de desviar recursos da merenda escolar, Lidiane se entregou à Polícia Federal após ter ficado 39 dias foragida. Sua defesa conseguiu uma liminar suspendendo a decisão que determinava transferência da ex-prefeita para a Penitenciária de Pedrinhas, conhecida por violações aos direitos humanos.

    A decisão de transferência foi proferida pelo juiz da 2ª Vara da Justiça Federal, José Magno Linhares, que entendeu que a prisão da ex-prefeita num presídio comum seria um risco para sua integridade. Nos bombeiros, o alojamento onde ela está é usado por médicos oficiais da corporação.

    No início da noite de segunda, antes da transferência, Lidiane prestou depoimento na sede da Polícia Federal. Ela estava acompanhada de três advogados.

    Aos policiais Lidiane alegou que estava em uma aldeia indígena da cidade e que não sabia que estava sendo procurada. A versão foi rechaçada pelo delegado Ronildo Lajes, responsável pela investigação. "Está claro que é uma estratégia dos advogados", afirmou o delegado.

    Segundo ele, a PF está investigando outras denúncias de desvio de recursos públicos em Bom Jardim, que podem resultar em novos inquéritos.

    Conhecida como "prefeita ostentação", Lidiane postava "selfies" ostentando luxo nas redes sociais. Reportagem da Folha também mostrou que ela chegou a governar, de São Luís (cidade a cerca de 270 km de Bom Jardim), pelo WhatsApp, aplicativo de mensagens pelo celular.

    A prefeita, que foi afastada do cargo pela Câmara Municipal no início deste mês, estava foragida desde a deflagração da Operação Éden, da Polícia Federal, em 20 de agosto.

    Ela é suspeita de desviar recursos que podem chegar a R$ 15 milhões da área da educação da cidade, onde há escolas funcionando debaixo de árvores. Deve responder pelos crimes de peculato, fraude à licitação e associação criminosa.

    O inquérito da Polícia Federal que apurou o desvio de recursos públicos em Bom Jardim foi encaminhado à Justiça Federal nesta terça-feira (29).

    Além da prefeita Lidiane, foi pedido o indiciamento do ex-namorado da prefeita e ex-secretário de governo Beto Rocha e do ex-secretário de Agricultura, Antônio Cesarino.

    A Folha tentou nesta terça-feira (29), mas não conseguiu contato com Sérgio Muniz, um dos advogados da ex-prefeita.

    Reprodução/Facebook
    A prefeita afastada Lidiane Leite, 25, em foto postada por ele em redes sociais

    PREFEITA POR ACASO

    Eleita chefe do Executivo na cidade aos 22 anos, Lidiane chegou ao cargo pelo PRB por acaso. A dias da eleição de 2012, assumiu a candidatura no lugar do namorado, o pecuarista Beto Rocha, barrado pela Lei da Ficha Limpa.

    Após assumir a função, ela nomeou o namorado como seu secretário de Assuntos Políticos. Preso em agosto pela Polícia Federal, Beto é quem tocava o dia a dia da prefeitura, segundo políticos locais.

    Antes, Lidiane vendia leite na porta de casa e ajudava a mãe em uma loja de roupas. Deixou a vida de classe média após conhecer Beto, que tem patrimônio avaliado em quase R$ 14 milhões, segundo a Justiça Eleitoral.

    Com novo padrão de vida, passou a ostentar luxo nas redes sociais. Postava fotos em festas, com bebidas caras e afirmava a quem a criticava que comprava "o que quiser" e que seu dinheiro estava "sobrando".

    Enquanto tocava a administração da prefeitura, Lidiane passou a enfrentar acusações de corrupção. Foi afastada do cargo três vezes, mas voltou amparada por decisões judiciais provisórias.

    Ela responde a ações por cortar salários dos professores, não cumprir o calendário escolar e não regularizar o fornecimento de merenda.

    Posteriormente ao pedido de prisão de Lidiane, o PRB anunciou a desfiliação da prefeita foragida.

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