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    Lava Jato

    Cunha usa estrutura da Câmara para produzir sua defesa na Lava Jato

    CATIA SEABRA
    RANIER BRAGON
    DE BRASÍLIA

    30/09/2015 09h22

    Por determinação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a presidência da Câmara encaminhou à bancada do PMDB modelos de requerimentos com o objetivo de produzir documentos para uso em sua defesa na apuração do esquema de corrupção na Petrobras.

    Nos modelos elaborados por Cunha e distribuídos à bancada do PMDB –a maior, com 66 cadeiras–, cada deputado autoriza a direção da Casa a elaborar relatórios de suas viagens, além do histórico das vezes em que apareceram "logados" no sistema digital.

    Os requerimentos vão de 2011 até a presente data.

    A intenção, segundo o próprio Cunha, é sustentar um de seus argumentos de defesa: que deputados tinham como costume repassar suas senhas para uso de funcionários -apesar de as normas, alteradas recentemente, estabelecerem que as senhas eram "pessoais e intransferíveis".

    Entre os argumentos dos procuradores para denunciar Cunha na Lava Jato, há afirmação de que ele é o real autor de requerimentos usados em 2011 para achacar uma fornecedora da Petrobras.

    Os requerimentos suspeitos foram apresentados em uma comissão da Câmara pela então deputada Solange Almeida (PMDB-RJ). Como a Folha revelou em abril, o nome de Cunha aparece no sistema como real autor dos papéis.

    A Procuradoria, em diligência nas áreas técnicas da Casa, colheu informações mostrando que Cunha e Solange estavam conectados no sistema digital da Casa no instante em que os papéis investigados eram formulados.

    Para atender aos requerimentos distribuídos à bancada do PMDB, os técnicos da Câmara estão fazendo o levantamento pedido, a partir do qual será feito um cruzamento para mostrar que, desde 2011, seria comum deputados repassarem suas senhas para assessores.

    A ideia é reunir exemplos de datas em que o deputado aparece "logado" mesmo estando fora de Brasília.

    O deputado federal Darcisio Perondi (RS) conta que os requerimentos foram enviados pela direção da Câmara.

    "A presidência mandou o requerimento e eu assinei. Não vejo mal algum nisso", afirmou Perondi.

    José Prianti (PA) também confirmou que foi a assessoria da Câmara que distribuiu os requerimentos.

    Já o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), disse que Cunha pediu-lhe pessoalmente que assinasse o documento. "Ele encaminhou e pediu que eu assinasse. Eu fiz no meu computador", disse.

    OUTRO LADO

    O presidente da Câmara dos Deputados nega que esteja usando a estrutura da Casa em seu benefício.

    "Não é isso [uso da estrutura]. É para mostrar que assessores de gabinete é que trabalham, e não os deputados", afirmou Cunha.

    O presidente da Câmara disse que solicitou aos peemedebistas a assinatura dos requerimentos para "ter condições de mostrar que existem situações diversas e que terceiros usavam [as senhas dos computadores]."

    Eduardo Cunha sempre negou que tenha sido o verdadeiro autor dos requerimentos suspeitos apresentados em uma comissão da Câmara pela então deputada Solange Almeida (PMDB-RJ).

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