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    Lava Jato

    Baiano diz que ajudou Cerveró a comprar Range Rover para a mulher

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA

    21/10/2015 17h01

    Geraldo Bubniak/AGB/Folhapress e Sergio Lima/Folhapress
    O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró (à esq.) e o delator Fernando Soares, o Baiano

    Em meados de 2012, era quase impossível encontrar uma Range Rover Evoque vermelha no Brasil. Era esse o presente que Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras e preso na Operação Lava Jato, queria dar de aniversário à sua mulher.

    A solução foi recorrer ao lobista Fernando Soares, o Baiano. Em delação premiada, ele próprio disse que negociou e viabilizou a compra do veículo para o executivo. O depoimento foi divulgado pela Justiça Federal no Paraná nesta quarta-feira (21).

    A compra do carro já era alvo de suspeitas da Justiça desde sua apreensão, em janeiro deste ano, quando o ex-diretor foi preso.

    Baiano diz que apenas emprestou dinheiro a Cerveró, e que não sabe se os valores reembolsados por ele vieram de negócios escusos. Foram R$ 170 mil em dinheiro vivo para que o negócio fosse efetivado. O carro, blindado, custou R$ 220 mil.

    Não é a primeira vez que este modelo aparece envolvido na operação.

    O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa ganhou uma Range Rover Evoque do doleiro Alberto Youssef –para o juiz Sérgio Moro, adquirida com recursos desviados da refinaria Abreu e Lima. O presente desencadeou a Operação Lava Jato.

    FILA DE ESPERA

    A Range Rover havia sido lançada naquele ano, e estava em falta nas concessionárias. A cor vermelha, desejada por Cerveró, era ainda mais concorrida.

    Baiano e Cerveró eram amigos, segundo contou o lobista aos investigadores da Lava Jato. O operador costumava ir todo mês à casa do ex-diretor Internacional da Petrobras, que na época estava na BR Distribuidora. Baiano, por sinal, tinha um carro da mesma marca.

    Foi Cerveró quem procurou Baiano. O executivo já havia contatado duas concessionárias no Rio de Janeiro, e nada de achar o carro. A espera pelo modelo era de até 60 dias. Cerveró "insistia" na cor vermelha.

    O lobista, então, ligou para um amigo que trabalha numa concessionária em São Paulo, de quem costumava comprar outros veículos, e esperou pelo pedido.

    Semanas depois, a Range Rover chegou à concessionária. Cerveró pagou pelo veículo, mas emprestou R$ 170 mil em dinheiro de Baiano para viabilizar o negócio. A quantia foi entregue na concessionária em São Paulo, por um contato de Baiano, Diego Candolo, com quem ele tinha créditos no exterior –foi daí que vieram os recursos.

    Baiano não esclarece, no depoimento, se esses recursos eram oriundos de propina. A nota fiscal foi emitida em nome da mulher de Cerveró, Patrícia Cerveró, mas um e-mail do lobista apareceu como contato.

    RESSARCIMENTO

    Cerveró pagou a dívida a Baiano, em dinheiro, cerca de um mês depois, durante um encontro na sua casa no Rio. Foram 17 maços de R$ 10 mil, em notas de R$ 50 e R$ 100.

    O delator afirma, no depoimento, que "não exclui a possibilidade de esse dinheiro ser proveniente de vantagens indevidas obtidas na Petrobras".

    A defesa de Cerveró nega veementemente, afirma que ele pagou pelo veículo com dinheiro lícito e que as acusações de Baiano são descabidas.

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