• Poder

    Sunday, 19-May-2024 11:10:58 -03

    o impeachment

    Renan dá 45 dias para governo apresentar defesa sobre pedaladas

    MARIANA HAUBERT
    DE BRASÍLIA

    21/10/2015 19h24 - Atualizado às 20h48

    Pedro Ladeira - 23.set.2015/Folhapress
    O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL)
    O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL)

    O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiu nesta quarta-feira (21) conceder um prazo de 45 dias para que o governo federal envie ao Congresso uma defesa prévia sobre a decisão do TCU (Tribunal de Contas da União) que recomendou a rejeição das contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff. Apenas após este período, o processo começará a ser analisado pela Comissão Mista de Orçamento, que terá 77 dias para analisar a decisão da corte.

    De acordo com o despacho assinado pelo senador, o Congresso Nacional fará não apenas um "julgamento técnico" e o parecer do TCU é um elemento de "formação da convicção dos parlamentares". "Sendo assim, a fim de garantir o devido processo legal e o direito ao exercício do contraditório, bem como para evitar eventuais alegações futuras de nulidade, entendo devido conceder à parte interessada, nos mesmos moldes que se fez no âmbito do Tribunal de Contas da União o prazo de trinta dias, prorrogável por mais quinze dias, para que, se desejar, possa exercitar o contraditório nos presentes autos", afirma Renan no documento.

    Pela manhã, Renan havia dito que a CMO não é capaz de garantir o direito de defesa. "Se o prazo é para apresentação de emendas e designação do relator, se você utilizar esse prazo para o contraditório, você estará invadindo um outro prazo especificado. [...] Os prazos da CMO não garantem o direito de defesa. O próprio TCU abriu um prazo, inicialmente de 30 dias, depois de 15 dias, [totalizando] 45 dias para receber o contraditório. A grande pergunta é se esse contraditório feito no tribunal de contas, ele do ponto de vista do Congresso, do ponto de vista de decisões do Supremo, ele resolve", disse.

    Com isso, o governo ganha na prática dois meses até o fim da análise da decisão pelo Congresso. O temor do Planalto era que uma possível manutenção da decisão pela rejeição das contas de Dilma pudesse acelerar um processo de impeachment contra a presidente. No entanto, com a decisão, o processo só deverá ser concluído no ano que vem, após a volta dos trabalhos legislativos.

    Há ainda uma segunda questão, levantada por parlamentares tanto da oposição quanto da base aliada, de que o governo pode atuar para ter mais influência sobre a CMO no ano que vem porque os membros do colegiado serão trocados.

    Por sua vez, a presidente da CMO, senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), criticou o procedimento. Para ela, o governo deveria se defender no âmbito da comissão. "Me parece claramente que há uma intenção de jogar as contas para o ano que vem. É uma manobra regimental. Mas esse é o livre arbítrio dele como presidente do Congresso. Se der o prazo, eu vou dizer para ele que isso deveria ser arbitrado dentro da comissão", disse.

    A senadora argumenta que o governo deve ter 15 dias para apresentar uma defesa dentro do prazo inicial de 40 dias que a comissão tem para designar um relator e apresentar um parecer, que poderá manter o entendimento do TCU ou poderá divergir do tribunal e aprovar as contas da presidente ou aprová-las com ressalvas. No total, o colegiado terá 77 dias para analisar o caso.

    A peemedebista questionou ainda as motivações de Renan para conceder o prazo. De acordo com ela, o governo não se manifestou publicamente para obter o prazo de defesa prévia. "Eu não ouvi, em momento nenhum, que o governo queria esse prazo para se defender aqui no Congresso antes da CMO. Não sei se é apenas uma vontade dele ou se ouviu esse pedido em uma outra instância", disse.

    Entenda as pedaladas

    DISCUSSÃO

    Logo após a publicação do despacho, Rose e Renan discutiram no plenário do Senado sobre os procedimentos adotados. Rose questionou se o peemedebista havia recebido um pedido por parte do governo para que fosse concedido o prazo de defesa.

    "Como abriu o prazo, quer dizer que nós não a receberemos esse ano a tempo de fazer a sua análise. [...] O Brasil não tem tempo de esperar para o ano que vem para que essas contas sejam apreciadas na comissão de orçamento", disse.

    Renan respondeu, então, que não foi procurado pelo Planalto. "O governo não se manifestou. Certamente, o governo se manifestará porque esse prazo só ocorrerá se o governo desejar", afirmou.

    "Para que amanhã nós não sejamos responsabilizados por ter causado a nulidade de um processo que é importante, muito importante em um momento difícil da vida nacional. [...] O governo não deixará de exercer o contraditório por omissão do presidente do Congresso Nacional. Eu prefiro não errar por omissão", completou.

    Rose encerrou a discussão ao dizer que a comissão fica, dessa forma, parada.

    RELATOR

    Após a decisão de Renan, Rose anunciou a indicação do senador Acir Gurgacz (PDT-RO) para relatar o processo quando ele começar a ser analisado pela CMO.

    Gurgacz é forte aliado do governo no Senado. É um dos poucos parlamentares que tem votado sempre a favor de matérias de interesse do Planalto e tem atuado, nos últimos tempos, como um dos ganchos que mantêm o PDT na base aliada do governo.

    A decisão sobre a sua designação para ser o relator das contas coube exclusivamente à Rose de Freitas no âmbito da CMO. No entanto, como fiel aliada de Renan, Rose debateu o nome escolhido com o peemedebista, que deu o aval para a escolha.

    Publicamente, Rose afirmou que usou como critérios de escolha a "maturidade, experiência, conhecimento básico de economia e sabedoria suficiente para discernir que o papel dele não é de julgamento político, é de critério técnico para avaliar um relatório prévio feito por um organismo, o TCU, que é um órgão auxiliar do poder Legislativo".

    "Tem que ser alguém com a sobriedade das posições, não ser um que seja 'impeachment já', 'fica Dilma', 'fora Dilma', 'mata Dilma', 'salva Dilma', nada disso", disse.

    Empresário do ramo de transporte rodoviário e urbano e dono de veículos de comunicação em Rondônia, Gurgacz entrou para a vida pública em 2000, quando foi eleito prefeito de Ji-Paraná (RO). Em 2002, ficou em terceiro lugar na disputa pelo governo do Estado. Em 2006, ele disputou uma vaga para o Senado e só conseguiu assumir o mandato em 2009 porque o TRE-RO (Tribunal Regional Eleitoral) cassou o mandato do primeiro colocado pelo crime de compra de votos. O processo demorou quase três anos para ser concluído. Gurgacz é líder do PDT no Senado.

    Edição impressa
    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024