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    Lava Jato

    Polícia suspeita que gerente de banco na Suíça ajudava a ocultar propina

    FELIPE BÄCHTOLD
    DE SÃO PAULO

    25/10/2015 02h00

    A Polícia Federal vê indícios de que uma brasileira gerente de banco na Suíça tenha participado de crimes de lavagem de dinheiro e de evasão de divisas investigados na Operação Lava Jato.

    Um relatório da PF diz que Denise Kos, enquanto funcionária do banco Safra, ajudava o ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada a ocultar dinheiro de origem criminosa.

    O delegado Filipe Pace, responsável pela investigação, afirma no documento que a gerente dava conselhos e auxiliava o ex-diretor da área internacional da companhia a disfarçar a origem dos recursos com "a aquisição de ações e títulos".

    Entre as provas relatadas contra Denise Kos estão e-mails trocados por ela com Zelada. Em um deles, durante o Carnaval de 2009, ela avisa sobre o recebimento de US$ 1 milhão em uma conta no banco Jacob Safra e afirma: "confetes novos".

    Em outra conversa, ela recomenda "tomar cuidado" após o ex-diretor afirmar: "Eu nem sempre vou saber a origem de uma remessa".

    Os dois também combinam um encontro em Londres, em que, segundo a Polícia Federal, ela entregaria ao ex-diretor um cartão de crédito.

    Denise Kos já havia sido citada por três delatores da Lava Jato. O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco contou que ela vinha frequentemente ao Brasil para "prestar contas a clientes" e disse que mudou de banco depois que ela trocou o Safra pelo Lombard Odier. O operador Mario Goes e o empresário Julio Faerman também disseram que abriram contas fora do Brasil com a gerente.

    O relatório da PF, finalizado na sexta-feira (23), é resultado de apurações relacionadas à 19ª fase da Lava Jato, deflagrada em setembro.

    Além de Denise Kos, a PF vê mais suspeitas de crimes supostamente cometidos por Zelada, o lobista João Augusto Henriques, ambos réus presos na Lava Jato, e o empresário francês Miloud Alain Hassene Daouadji.

    A investigação aponta que Zelada recebeu propina da empresa norueguesa Acergy, hoje chamada Subsea 7, contratada para construir um gasoduto em Santos. A PF suspeita que o ex-diretor tenha recebido US$ 1 milhão, valor descrito no e-mail de Denise Kos, por meio de Henriques e de Daouadji, sócio do lobista.

    A PF aponta uma planilha de Zelada em que ele lista pagamentos supostamente recebidos em uma offshore no Panamá. Entre os itens estão "1.026.000" ao lado de "Acergy, mexilhão". Mexilhão é o campo onde o gasoduto estava sendo construído.

    Uma outra planilha anexada pela PF em seu relatório detalha a suposta divisão de pagamentos fora do Brasil entre Zelada, Pedro Barusco e o ex-diretor de Serviços da estatal Renato Duque.

    Barusco, ouvido pela PF, disse que sabia que Zelada recebia propina no projeto Mexilhão e afirmou que o empresário francês era um "representante" da Acergy. O relatório também diz que Zelada recebeu US$ 110 mil de propina por meio de Daouadji em 2007, quando ainda era gerente da Petrobras.

    Na ação que já tramita na no Paraná, Zelada é acusado de receber propina pela contratação de um navio-sonda pela Petrobras em 2009.

    OUTRO LADO

    A reportagem não conseguiu localizar advogados de Denise Kos. A defesa de Zelada afirma que ele nega possuir contas no exterior e ter recebido propina.

    O advogado de Zelada, Renato de Moraes, diz que o relatório da PF é um "emaranhado" e que ainda não conversou com seu cliente sobre as conclusões da investigação.

    A Folha também não conseguiu localizar os advogados de João Augusto Henriques, do empresário francês Miloud Alain Hassene Daouadji e das empresas mencionadas.

    Em depoimento prestado em setembro, Henriques disse ter feito pagamentos a funcionários da Petrobras e a políticos, como Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

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