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    o impeachment

    'Financial Times' compara relação entre Lula e Dilma a trama de novela

    JOE LEAHY
    DO "FINANCIAL TIMES"

    26/10/2015 12h00

    Ernesto Rodrigues - 13.out.15/Folhapress
    São Paulo - SP - Brasil : 13/10/2105 : LULA/MUJICA/CUT : A presidente Dilma Roussef e o ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva estará participa da abertura do 12º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores-CUT (Concut) ao lado de Pepe Mujica, ex-presidente e senador do Uruguai, em um ato pela celebração da democracia. A CUT definirá sua nova executiva nacional e apontará a linha política a ser seguida nos próximos quatro anos. As atividades vão até o dia 16 de outubro e o tema do Concut é “Educação, Trabalho e Democraciaâ€.( Footo Ernesto Rodrigues/Folhapress.PODER). cod.0628
    A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula

    O jornal britânico "Financial Times" comparou a relação entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff a uma trama de novela brasileira, onde, nas palavras do periódico, "amigos e parentes frequentemente se apunhalam pelas costas".

    Para ilustrar o afastamento, o jornal cita a recente desavença entre Dilma e seu mentor político, que se deu quando Lula defendeu a saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e Dilma o defendeu.

    O periódico cita ainda que as investigações sobre o escândalo de corrupção na Petrobras têm se aproximado do ex-presidente e afirma que "se o calor do caso Petrobras continuar a aumentar, não faria mal ao ex-presidente contar com o apoio dos fiéis do partido nas ruas e no Congresso", mesmo que a sustentação venha através de críticas feitas à política econômica de Dilma e de seu ministro da Fazenda.

    No texto, a publicação chama a presidente de "uma tecnocrata taciturna" e Lula de "um populista carismático".

    Leia, abaixo, a íntegra do texto do "Financial Times"

    *

    A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, deve ocasionalmente pensar que, com amigos como seu predecessor e mentor, Luiz Inácio Lula da Silva, quem precisa de inimigos?

    As tensões entre Rousseff, uma tecnocrata taciturna, e Lula, um populista carismático, começam a criar reviravoltas como as das tramas das longas novelas de televisão brasileiras, nas quais amigos e parentes frequentemente se apunhalam pelas costas.

    Para Rousseff, que encara a possibilidade de impeachment por parte de uma oposição que ganha ânimo com sua crescente impopularidade, um inimigo interno é a última coisa de que ela precisa. Para a maior economia da América Latina, que está afundando à sua maior recessão desde 1930, as disputas internas do partido governante só servirão para solapar ainda mais a confiança dos investidores.

    Há muito se diz que existem diferenças entre Rousseff, que foi [ministra das Minas e Energia e] chefe da Casa Civil de Lula durante os oito anos dele no poder, entre 2003 e 2010, e seu mentor, mas elas raramente foram tão expostas quanto aconteceu este mês.

    A mais recente desavença surgiu quando Lula, ainda a figura preeminente do Partido dos Trabalhadores (PT), que governa o Brasil, criticou as políticas econômicas de Joaquim Levy, economista formado pela Universidade de Chicago e ministro da Fazenda de Rousseff.

    Depois de um prolongado e perdulário estímulo fiscal durante seu primeiro mandato de quatro anos, entre 2011 e 2014, Rousseff apontou Levy para o posto este ano com o objetivo de limpar as finanças públicas degradadas do Brasil.

    O problema para Lula e o PT é que o programa de austeridade de Levy, que inclui conter os empréstimos pelos bancos estatais e elevar as taxas de juros para segurar a inflação, não poderia ter vindo em momento pior. O partido já enfrenta imensa impopularidade por conta da corrupção na estatal petroleira Petrobras.

    Pior, a recessão está causando alta no desemprego enquanto a inflação sobe –um duplo baque para a base eleitoral do PT nos sindicatos e na classe trabalhadora. Com eleições municipais no ano que vem, o PT se preocupa com a possibilidade de que o programa de austeridade de Levy seja um ímã para a indignação popular.

    Para tentar se distanciar, e distanciar o PT do programa de austeridade do governo, Lula em um recente congresso sindical atacou a administração, argumentando que Rousseff estava se comportando como o PSDB, partido de oposição, mais ortodoxo economicamente, que ela derrotou nas eleições de outubro de 2014.

    O fogo amigo forçou Rousseff a declarar que a opinião do PT não era a do governo, e que Levy tinha toda sua confiança.

    As aparentes diferenças entre Lula e Rousseff podem ser pouco mais que um espetáculo para manter a adesão da base do PT. Na prática, a aparente desavença com Rousseff faz pouco sentido porque se segue a uma reforma ministerial que conduziu ao ministério mais políticos próximos a Lula. O ex-presidente raramente se envolveu tanto quanto agora com a condução cotidiana dos assuntos do governo Rousseff, dizem analistas.

    Lula pode ter motivos mais pessoais para suas críticas a Rousseff e ao desafortunado Levy.

    A investigação sobre a corrupção na Petrobras vem se aproximando do ex-presidente. Em documentos judiciais recentemente divulgados, uma testemunha da acusação no caso da Petrobras implicou uma das noras de Lula.

    Lula negou qualquer delito. Mas se o calor do caso Petrobras continuar a aumentar, não faria mal ao ex-presidente contar com o apoio dos fiéis do partido nas ruas e no Congresso.

    O perigo é que se ele continuar a fazê-lo à custa da "companheira Dilma", corre o risco de demolir a casa toda. Levy pode se demitir repentinamente, o que poderia causar crise cambial. Ou os eleitores já furiosos com o PT por conta da recessão e da corrupção podem se cansar da política em estilo novela e abandonar o partido.

    joseph.leahy@ft.com

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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