O advogado Arnaldo Malheiros Filhos, que defende o pecuarista José Carlos Bumlai, pediu ao juiz federal Sergio Moro para ter acesso às delações que mencionem o seu cliente. Amigo do ex-presidente Lula, Bumlai foi citado por pelo menos três delatores da Operação Lava Jato: o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, o executivo Eduardo Musa e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
O advogado já havia solicitado acesso ao teor das delação ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. Teori negou o pedido com o argumento de que as delações são protegidas por sigilo. O ministro afirmou ainda que Bumlai não aparece nos autos como "investigado", ou seja, não se enquadra nas exceções que permitiriam o acesso aos textos sigilosos.
Na última semana, o juiz Moro, que julga as ações da Lava Jato, tornou público cinco depoimentos de Fernando Baiano, mas a defesa de Bumlai diz que não teve acesso a eles porque o pecuarista não figura em nenhum dos inquéritos que já se tornaram públicos da investigação.
"Sem acesso a essas delações, não é possível promover a defesa do meu cliente. É um direito básico", diz Malheiros Filho.
Fernando Baiano contou aos procuradores da Lava Jato que deu R$ 2 milhões a Bumlai e que o pecuarista teria dito que o dinheiro era para pagar um imóvel de uma nora de Lula –o que o pecuarista nega com veemência. Segundo Bumlai, o montante repassado por Baiano foi um empréstimo que ele fez para pagar empregados num momento em que seus negócios passavam por dificuldades.
Além de pecuarista, Bumlai é dono de uma usina de álcool em Dourados (MS), a São Fernando, que está em recuperação judicial, com dívidas de R$ 1,2 bilhão, e deve ter a sua falência decretada em breve, de acordo com advogados que atuam no caso.
Baiano relatou também aos procuradores que Bumlai promoveu um encontro entre Lula e o presidente da Sete Brasil, José Carlos Ferraz, numa tentativa de que a empresa fechasse negócios com a OSX, estaleiro que pertence a Eike Batista.
Bumlai confirmou o encontro em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", mas disse que só apresentou Ferraz a Lula e, durante o encontro, ficou folheando um livro sobre o Corinthians. Os negócios entre a Sete Brasil e a OSX não foram adiante.
O lobista disse ainda aos procuradores que foi Bumlai quem o ajudou a promover uma reunião entre o ex-ministro Antonio Palocci e Paulo Roberto Costa durante a campanha de Dilma Roussef em 2010, na qual foi acertada a doação de R$ 2 milhões para o caixa dois PT –o que o partido nega.
Baiano afirmou ainda que Palocci deu apoio político para Costa continuar no cargo porque Dilma queria afastá-lo da diretoria de Abastecimento por causa da má fama que o executivo tinha na Petrobras.
O advogado de Palocci, José Roberto Batochio, nega que o ex-ministro tenha se encontrado com Baiano e refuta a versão de que ele cuidou da arrecadação ilícita de R$ 2 milhões.