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    Estatal paulista dá benefício a mãe de neta de Alckmin

    DANIELA LIMA
    DE SÃO PAULO

    07/11/2015 02h00

    Mãe da neta mais velha do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e funcionária de uma empresa controlada pelo Estado, Fabiola Campolina Trombelli manteve o emprego na estatal e assegurou diversas vantagens após se afastar do trabalho e mudar para a Noruega, onde vive desde agosto do ano passado.

    Assistente administrativa da Prodesp (Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo) desde 2005, Fabiola obteve da empresa três licenças consecutivas depois que deixou o Brasil, garantindo sua vaga na estatal até dezembro de 2016.

    Ela abriu mão do salário ao pedir as licenças, mas a manutenção do vínculo com a Prodesp permitiu que recebesse outras vantagens mesmo morando no exterior, incluindo o pagamento de quatro meses de licença maternidade.

    Fabiola, relações públicas de 36 anos, é mãe de Isabella Alckmin, 11, fruto de um relacionamento com o filho mais novo do governador, Thomaz Rodrigues Alckmin, morto em abril deste ano em um acidente aéreo. Os dois se conheceram em 2003, quando Fabiola trabalhava no cerimonial do Palácio dos Bandeirantes.

    A funcionária deixou o Brasil para acompanhar o marido, que trabalha na Noruega. Eles se casaram em junho do ano passado, e Fabiola tirou férias na véspera da mudança. Em setembro, encerradas as férias, ela conseguiu da Prodesp a primeira licença, que lhe permitiu ficar afastada do trabalho até dezembro.

    Fabiola viajou para a Noruega grávida do segundo filho. O bebê nasceu perto da virada do ano, e ela recebeu licença maternidade até abril. Os pagamentos foram baseados no valor integral de seu salário na Prodesp, R$ 7.844, e depois foram reembolsados à Prodesp pela Previdência.

    Esgotados os quatro meses da licença maternidade, Fabiola conseguiu da estatal uma segunda licença sem vencimentos, desta vez por dois meses. Encerrado o período, obteve uma terceira licença, até dezembro de 2016.

    Se um dia voltar ao Brasil, Fabiola terá, além do emprego garantido, o direito de incorporar ao salário na Prodesp reajustes anuais e outros benefícios recebidos pelos demais funcionários da empresa durante a sua ausência.

    Segundo a assessoria de imprensa do governo estadual, a responsabilidade pela concessão das licenças é da Prodesp, que seguiu normas estabelecidas numa resolução aprovada por sua diretoria executiva em 1995.

    Conforme a resolução, licenças como a de Fabiola só podem ser concedidas se não houver ônus para a Prodesp, em caso "excepcional" e com o aval da diretoria executiva.

    Questionado sobre outros funcionários em situação semelhante, o governo apontou seis empregados da Prodesp que conseguiram licença sem remuneração entre 2012 e 2016. Em nenhum caso o afastamento foi autorizado por período superior a um ano.

    Registros obtidos pela Folha com base na Lei de Acesso à Informação mostram que Fabiola nunca chegou a trabalhar na Prodesp, porque foi cedida a órgãos da administração direta. De 2011 até sua saída do país, trabalhou na Secretaria de Gestão Pública.

    OUTRO LADO

    Fabiola Campolina Trombelli disse à Folha que, na sua opinião, as licenças obtidas na Prodesp (Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo) não representam favorecimento.

    A assessoria de imprensa do governo do Estado ressaltou que a licença está de acordo com as normas internas da Prodesp e que todos os funcionários da empresa têm direito ao mesmo benefício.

    Em conversa por telefone, Fabiola disse que decidiu deixar o Brasil após a experiência traumática vivida por sua filha, Isabella, em fevereiro do ano passado, quando o carro em que estava com o pai, Thomaz Alckmin, foi cercado por bandidos que trocaram tiros com a sua escolta.

    "Vim para a Noruega em agosto do ano passado. Estou estudando aqui", disse. "Decidi vir depois daquela violência com a minha filha. Ela lembra de tudo, até hoje."

    Para Fabiola, sua situação não traz vantagens. "Minha licença é sem vencimentos, não tenho salário, não recebi nada da empresa", disse. "Antes de sair, discuti muito minha situação com a chefia."

    Fabiola sente-se vítima de perseguição pelo fato de ser mãe da neta do governador. "As pessoas acham que minha posição está reduzida a isso, mas não é", afirmou.

    "Não existem muitas pessoas no governo como eu", disse a funcionária. "Eu falo línguas, sou formada na USP [em Relações Públicas]. Estou lá por mérito próprio. É muita sacanagem para prejudicar o dr. Geraldo [Alckmin]."

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