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    o impeachment

    Explicação de Cunha para contas no exterior frustra até aliados

    MARINA DIAS
    DE BRASÍLIA

    15/11/2015 02h00

    Na noite de 7 de novembro, um sábado, Eduardo Cunha adentrou o escritório de sua residência oficial em Brasília e escolheu um dos charutos que armazena em caixas climatizadas numa estante entre livros e documentos. Naquela noite, fumou sozinho.

    Jornais e tevês do país exibiam sua versão para o dinheiro que ele tem na Suíça.

    Enquanto o presidente da Câmara fumava, adversários e correligionários trocavam mensagens de celular em que sentenciavam: o desempenho do peemedebista ao explicar a origem dos recursos no exterior havia sido "desastroso".

    A cena foi o resumo simbólico da semana que traria desdobramentos importantes para aquilo que aliados e inimigos são unânimes em constatar: Cunha começou a percorrer lentamente o caminho seguido antes por outros políticos que caíram em desgraça.

    Os mais experientes dizem que Cunha está na terceira fase do rito, ainda que ressalvem a capacidade de sustentação que ele vem exibindo.

    Depois de a imprensa divulgar documentos obtidos pelo Ministério Público sobre contas vinculadas a Cunha na Suíça e dois partidos pequenos (PSOL e Rede) pedirem sua cassação, o peemedebista assiste agora ao desembarque de importantes aliados.

    Na quarta (11), o PSDB, maior sigla de oposição ao governo Dilma Rousseff, pediu publicamente a cassação de Cunha. Até então, os tucanos apostavam nele como o principal agente para a abertura de um processo de impeachment contra a petista.

    Membros da cúpula do PSDB afirmam que a versão de Cunha sobre as contas na Suíça foi a gota d'água e o ponto de partida para a mudança de postura do partido.

    À Folha e a outros veículos, Cunha reconheceu sua ligação com as contas suspeitas de terem sido irrigadas por desvios da Petrobras. Disse, porém, que os recursos são lícitos, fruto de negócios que teria feito no passado, como a venda de carne enlatada ao exterior e investimentos em ações.

    Um dirigente tucano afirmou que não havia mais como defender Cunha após suas declarações. Para ele, o colega terá sobrevida, no máximo, até o começo de março.

    Até lá, apostam parlamentares de diversos partidos, Cunha vai ensaiar movimentos de reação, como a carta de apoio assinada por governistas e divulgada no mesmo dia do desembarque do PSDB, além de manobras para tentar postergar o processo de cassação contra ele na Casa.

    Para um deputado próximo do Planalto, a queda de Cunha pode demorar mais, mas ele não se sustenta após "versão tão mirabolante".

    NORMALIDADE

    Cunha ainda tenta manter a aparência de normalidade à frente da Câmara. Mas aliados dizem que não há como escapar do isolamento, já que ninguém "quer salvar um leproso", como diz um político próximo ao peemedebista.

    Isso parece ter se refletido até no séquito de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas que costuma se acotovelar enquanto segue Cunha pelos corredores da Câmara.

    A maioria ainda chega na hora marcada para as entrevistas coletivas, mas, na quarta (11), quando saiu de seu gabinete rumo ao plenário, o peemedebista se deparou com apenas duas repórteres.

    Cunha correu rapidamente os olhos pelo entorno, acenou com a cabeça e ensaiou fazer uma declaração, mas preferiu caminhar, desta vez lentamente, para presidir sua primeira sessão do dia.

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