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    o impeachment

    Sócio de deputado recebeu R$ 3 mi de acordo com Petrobras, diz PF

    MÁRCIO FALCÃO
    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    16/11/2015 02h00 - Atualizado às 18h29 Erramos: esse conteúdo foi alterado

    Uma perícia financeira da Polícia Federal descobriu que R$ 3 milhões relativos a um acordo firmado entre duas empresas de prestação de serviços e a Petrobras foram depositados na conta bancária de um sócio do deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE), aliado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

    O dinheiro entrou, em 2008, na conta do engenheiro civil Luis Carlos Batista Sá, 53, no Banco do Brasil.

    À Folha, Sá confirmou neste domingo (15) que é sócio de Aníbal –de quem diz ser amigo "há mais de 30 anos"– em uma empresa, segundo ele "inoperante" e "de papel", e também de familiares do deputado em outras duas firmas na área de energia.

    Em depoimento à PF, Aníbal disse que é sócio de Sá na Satel, empresa "voltada para projetos na área de energia", mas que "nunca teve atividade operacional, tampouco conta bancária ou quadro de funcionários".

    O peemedebista negou ter sido beneficiado pelo pagamento, mas o laudo identificou pelo menos um depósito, de R$ 31,7 mil, de Sá para a conta corrente de Aníbal.

    Reprodução
    O deputado Aníbal Gomes (PMDB-AL), aliado de Renan Calheiros
    O deputado Aníbal Gomes (PMDB-AL), aliado de Renan Calheiros

    INVESTIGAÇÃO

    Concluído no início de outubro, o laudo do INC (Instituto Nacional de Criminalística) da PF foi anexado ao inquérito que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal), aberto a partir de declarações do delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, para investigar as suspeitas de recebimento de propina da estatal que recaem sobre Aníbal e Renan.

    Segundo Costa, Aníbal "falava em nome" de Renan e lhe prometeu, em 2007, R$ 800 mil "em caso de resolução favorável" em uma ação judicial pela qual duas empresas de serviços de praticagem da Baixada Santista cobravam R$ 60 milhões de indenização da Petrobras. Os práticos são os profissionais responsáveis por orientar os comandantes de navio a atracar nos portos.

    Para tentar comprovar as afirmações de Costa, a PF rastreou o dinheiro e concluiu que o advogado Paulo Roberto Baeta Neves recebeu, em setembro de 2008, R$ 6 milhões de "comissão" pelo fechamento do acordo com a Petrobras.

    O dinheiro foi transferido para sua conta bancária –após passar pela de seu sócio, Eduardo Ferrão,que disse nada saber do acordo e ter rompido com Neves– pelo escritório de advocacia Ferreira Ornellas, do Rio, que formalmente havia fechado o acordo judicial com a Petrobras.

    Dos R$ 6 milhões que chegaram a Baeta Neves –descontados R$ 500 mil de impostos–, a PF agora concluiu que R$ 3 milhões foram para Batista Sá. Segundo o laudo, parte do dinheiro foi sacado em diversas operações: seis cheques no valor de R$ 80 mil cada, três de R$ 70 mil, dois de R$ 60 mil, dois de R$ 50 mil, três de R$ 30 mil e três de R$ 20 mil foram destinados a diversas pessoas e empresas.

    A PF agora quer entender qual o motivo desses pagamentos e se algum deles têm relação com pessoas ou empresas ligadas a Renan Calheiros. Quando intimado para depoimento na PF, Batista Sá se recusou a falar sobre o assunto, exercendo o direito de ficar em silêncio.

    OUTRO LADO

    Em depoimento à Polícia Federal, o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) negou que tenha recebido "qualquer vantagem financeira" em relação à discussão da questão dos práticos com a Petrobras.

    O congressista afirmou ainda que jamais ofertou qualquer valor a Paulo Roberto Costa em troca de eventual resolução favorável à categoria, nem nunca afirmou falar em nome de Renan Calheiros (PMDB-AL), com quem mantém contato institucional.

    O engenheiro Luis Carlos Batista Sá disse à Folha que "não tem nada de irregular" nas operações detectadas pela PF e que "tudo será explicado no seu devido tempo".

    "Já houve a quebra do meu sigilo e a PF já está a par disso. Eu estou preparando a minha defesa. Não tenho nada a esconder, todo meu sigilo foi quebrado", disse Sá.

    Indagado sobre quando seria o momento para os esclarecimentos, Sá disse que "será quando eu for novamente convocado, se eu for".

    Renan tem negado ligação com o esquema de corrupção na Petrobras e sempre disse que suas relações com dirigentes de empresas públicas "nunca ultrapassaram os limites institucionais". À PF, ele relatou "relação protocolar" com Aníbal.

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