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    Lava Jato

    Delator diz que entregou US$ 1 milhão a amigo de infância de senador do PT

    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    16/11/2015 15h16

    O lobista Fernando Soares, o Baiano, afirmou ter pago entre US$ 1 milhão e US$ 1,5 milhão ao senador Delcídio Amaral (PT-MS) por meio de um suposto "amigo de infância" do parlamentar, identificado apenas Godinho. O depoimento foi prestado como parte do acordo de delação premiada fechado com a Operação Lava Jato.

    Segundo Baiano, Godinho lhe foi apresentado pelo então diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, que orientou retirar o dinheiro destinado ao senador de parte da propina acertada em torno da compra, pela Petrobras, da refinaria de Pasadena (EUA).

    De acordo com o delator, Godinho se apresentou como amigo de Delcídio e disse que "inclusive tinham estudado juntos". Os pagamentos, sempre de acordo com Baiano, foram feitos em "cinco ou seis" visitas de Godinho, no segundo semestre de 2006 e nos dois primeiros meses de 2007, no antigo escritório de Baiano, na rua Rodrigo Silva, no edifício RS8, no centro do Rio de Janeiro. O dinheiro, segundo Baiano, foi todo entregue em espécie.

    "Godinho provavelmente foi [ao Rio] depois da eleições, pois se recorda de ele comentar que ainda precisava pagar dívidas de campanha", disse Baiano. Delcídio foi candidato derrotado a governador de Mato Grosso do Sul em 2006.

    De acordo com o delator, Godinho "provavelmente morava em São Paulo", pois mencionava em "pegar a ponte aérea", expressão usada para designar as viagens entre São Paulo e Rio e vice-versa.

    O depoimento de Baiano foi prestado à força tarefa no último dia 9 de setembro na sede da Superintendência da PF em Curitiba (PR), mas somente nesta segunda-feira (16) a sua íntegra veio a público, com a deflagração da Operação Corrosão, a 20ª fase da Lava Jato. Nos últimos meses, veio à tona informação de que Delcídio fora citado por Baiano, mas agora surge o nome do suposto operador do senador, Godinho.

    Baiano não conseguiu apontar informações mais detalhadas sobre a identidade de Godinho. Ele disse não saber o nome completo do operador e também não soube dizer como o dinheiro entregue a Godinho foi repassado a Delcídio.

    "O depoente [Baiano] não tinha contato com Delcídio neste episódio, pois apenas tinha contato com ele na época em que [o senador] foi diretor da Petrobras", diz o termo de depoimento assinado pelo delator. Delcídio foi diretor da área de óleo e gás da Petrobras na época do governo FHC (1995-2002).

    Segundo Baiano, os pagamentos a Delcídio foram acertados depois que o então diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, lhe disse, por volta de 2006, que "estava sendo muito pressionado pelo senador Delcídio".

    De acordo com Baiano, foi acertado que o dinheiro a ser dado para cobrir gastos da campanha de Delcídio seria retirado "do valor que cabia a Nestor em Pasadena" _ou tudo ou uma parte, o delator disse não se recordar com exatidão. O dinheiro referido por Baiano era um pagamento de propina pelo fechamento da compra da refinaria em Pasadena (EUA).

    OUTRO LADO

    Procurado pela Folha, o senador ameaçou, por meio de sua assessoria de imprensa, recorrer à nova lei de "direito de resposta", sancionada recentemente pela presidente Dilma Rousseff, caso a Folha divulgasse as declarações prestadas pelo delator Fernando Baiano.

    "O senador Delcídio, considerando a improcedência da informação, prefere se valer das prerrogativas a que tem direito pela Lei 13.188, que trata do 'direito de resposta', compatível com a dimensão do dano que lhe for causado pela sua eventual veiculação".

    O senador foi indagado se conhece ou conheceu alguém chamado Godinho, que seria seu amigo de infância, mas nada respondeu sobre esse ponto.

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