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    Lava Jato

    Lobista diz que Gabrielli sabia sobre 'acertos políticos' na Petrobras

    DE SÃO PAULO

    17/11/2015 16h00 - Atualizado às 18h47

    Pedro Ladeira - 12.mar.2015/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 12-03-2015, 14h00: O ex presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli presta esclarecimentos à CPI da Petrobras, durante reunião da comissão sob a presidência do deputado Hugo Motta (PMDB-PB) e relatoria do deputado Luiz Sérgio (PT-RJ). (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
    O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli durante depoimento à CPI da estatal, na Câmara

    Em depoimento de delação premiada na operação Lava Jato, o lobista ligado ao PMDB Fernando Soares, conhecido como Baiano, disse que dois ex-diretores da Petrobras afirmaram a ele que o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli sabia sobre "acertos políticos" relacionados a propinas em contratos da refinaria de Pasadena, localizada nos Estados Unidos.

    O delator apontou também que ex-dirigentes da estatal disseram a ele que tais acertos levariam ao pagamento de "um valor considerável de propina" ao PT (Partido dos Trabalhadores) e ao PP (Partido Progressista).

    O testemunho de Soares confirma o depoimento feito aos investigadores da Lava Jato pelo engenheiro Agosthilde Mônaco de Carvalho, ex-funcionário da Petrobras. Segundo Carvalho, a compra de Pasadena, aprovada pela Petrobras em 2006, foi feita para "honrar compromissos políticos" de Gabrielli, à época presidente da estatal.

    No depoimento prestado à força tarefa da Lava Jato em setembro passado, Soares disse que o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e o ex-diretor da área internacional da estatal Nestor Cerveró comentaram que Gabrielli "tinha conhecimento" sobre os "acertos políticos" ligados aos contratos de Pasadena.

    Quando ao repasse de propina ao PT e ao PP, Soares disse que essa informação foi transmitida a ele por Cerveró e pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.

    Soares afirmou que ouviu dizer que o suborno seria pago pelas empreiteiras Odebrecht e UTC, que pretendiam assinar contrato para executar obras de ampliação e modernização em Pasadena. O negócio para realização das obras, porém, não foi concretizado em razão de disputas judiciais relativas à compra da refinaria, segundo o delator.

    O trecho da delação de Soares quanto a Pasadena e o depoimento de Agosthilde Mônaco de Carvalho foram usados para a deflagração da 20ª fase da Lava Jato, intitulada "Operação Corrosão", na manhã desta segunda-feira (16).

    Em seu testemunho, Carvalho disse que a negociação de Pasadena foi realizada "na bacia das almas", já que a refinaria dos EUA tinha uma série de problemas operacionais.

    Mônaco era assistente do então diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, preso desde janeiro e réu em dois processos da Lava Jato. Em seu depoimento, ele afirmou que Cerveró foi afastado da diretoria da Petrobras porque foi pressionado a pagar R$ 400 mil mensais à bancada do PMDB de Minas Gerais. Como não pagou, acabou saindo do cargo.

    Foi ele quem contou que Pasadena foi apelidada, internamente, de "ruivinha", por causa da quantidade de equipamentos enferrujados –daí o nome da 20ª fase da Lava Jato, Operação Corrosão.

    OUTRO LADO

    O ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli qualificou de "surreais" as afirmações de Fernando Soares e Agosthilde Mônaco de Carvalho e negou que tivesse conhecimento sobre qualquer tipo de acerto político ligado a contratos da refinaria de Pasadena.

    Procurada pela Folha, a assessoria do PT informou que o partido não iria se manifestar sobre as declarações de Fernando Soares.

    O presidente do PP, senador Ciro Nogueira, negou que o partido tenha recebido qualquer tipo de propina ligada a contratos da Petrobras e disse que o partido "confia que a Justiça mostrará que o PP não se envolveu em crimes investigados na operação Lava Jato".

    Em nota, a assessoria de imprensa da Odebrecht relatou que em 2006 a empreiteira foi procurada pela Petrobras sobre o interesse em ser uma das empresas responsáveis pela modernização da planta localizada nos EUA, e a empresa manifestou interesse em prestar o serviço preferencialmente em consórcio com outra empresa do setor, como é de praxe e autorizado pela Petrobras.

    Segundo a Odebrecht, "apesar do interesse demonstrado pela empresa, a Petrobras acabou não dando prosseguimento ao processo e nenhuma obra nesse sentido foi realizada à época".

    "No caso em questão, vale ressaltar que a citação ao nome da Odebrecht foi feita por um delator, fazendo menção a uma suposta afirmação de ex-diretores da Petrobras", completa a nota da Odebrecht.

    A assessoria de imprensa da UTC afirmou que "a empresa não comenta investigações em andamento".

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