• Poder

    Thursday, 02-May-2024 10:23:33 -03

    Lava Jato

    Em três anos, Bumlai sacou R$ 5 milhões na boca do caixa

    GRACILIANO ROCHA
    DE SÃO PAULO

    24/11/2015 20h23

    Paulo Lisboa/Folhapress
    O pecuarista José Carlos Bumlai, na 21ª fase da Operação Lava Jato, deixa o IML de Curitiba (PR) após exame de corpo de delito
    O pecuarista José Carlos Bumlai deixa o IML de Curitiba (PR) após exame de corpo de delito

    Além da palavra de delatores, os indícios contra pecuarista José Carlos Bumlai se concentram num emaranhado de operações financeiras consideradas suspeitas pelos investigadores, como empréstimos bancários e o grande volume de dinheiro vivo que ele movimentava.

    Preso nesta terça (24) na etapa mais recente da Operação Lava Jato, Bumlai realizou saques de R$ 5 milhões, em dinheiro vivo, na boca do caixa entre 2010 e 2013.

    Os saques em espécie foram reportados pelo Banco do Brasil porque cada um deles ultrapassou R$ 100 mil, conforme norma do Banco Central.

    Ao todo, foram 37 operações entre janeiro de 2010 e outubro de 2013, com valores variando entre R$ 100 e 265 mil.

    O dinheiro veio de duas contas –uma tendo o próprio empresário como titular e outra em nome da usina São Fernando Açúcar e Álcool, de sua propriedade– e acionou o alerta do Coaf, o órgão de inteligência financeira do Ministério da Fazenda.

    Em outubro de 2013, o policial militar Marcos Sergio Ferreira realizou um saque de R$ 100 mil de uma conta de Bumlai em uma agência do Bradesco, em São Paulo.

    Como não havia vínculo aparente de negócio entre eles, o saque levou o Ministério Público Federal a pedir ao juiz Sergio Moro a realização de uma operação de busca na casa do policial. O magistrado indeferiu.

    EMPRÉSTIMOS

    A principal operação financeira sob suspeita é um empréstimo de R$ 12,1 milhões contraído por Bumlai junto ao Banco Schain e citado por delatores como uma operação de cobertura para pagar dívidas de campanhas do PT.

    A única garantia oferecida pelo pecuarista foi uma nota promissória. A operação foi listada como um dos empréstimos temerários do Banco Schahin pela fiscalização do Banco Central.

    Logo após receber o dinheiro, Bumlai declarou ter emprestado R$ 12,6 milhões à Fazenda Eldorado S.A., empresa que pertencia ao Grupo Bertin, à época controladora de um dos maiores frigoríficos do Brasil.

    Como não há prova documental que tenha enviado o dinheiro aos Bertin, a Receita Federal afirma que o destino do dinheiro é desconhecido.

    Os Bertin declararam a devolução a Bumlai do dinheiro em parcelas entre 2005 e 2007, sem pagar nenhum centavo de juros -o que tornou o negócio bastante suspeito, segundo os peritos que o analisaram.

    SEM JUROS

    A dívida original de Bumlai com Schahin cresceu e chegou a R$ 18 milhões, mas foi supostamente quitada em uma negociação envolvendo a entrega de embriões vivos pelo devedor.

    A quitação do empréstimo levantou tantas suspeitas quanto a concessão: o banco deu desconto de R$ 6 milhões, o que na prática apagou todos os juros e correção.

    A quitação ocorreu em 27 de janeiro de 2009, um dia antes do grupo Schahin assinar o contrato com a Petrobras para operar a sonda Vitória 10.000, um negócio de US$ 1,6 bilhão.

    Na versão de três delatores, o empréstimo de Bumlai com o banco foi apenas uma simulação para levantar dinheiro para o PT e que os Schahin foram pagos de fato com o contrato da Petrobras.

    Salim Schahin, um dos controladores do grupo Schahin e agora delator, diz que os embriões invocados por Bumlai como pagamento jamais existiram. O Banco Schahin foi vendido ao BMG em 2011.

    OUTRO LADO

    A Folha não conseguiu ouvir o advogado Arnaldo Malheiros, que defende Bumlai, nem representantes do grupo Bertin. Recados foram deixados, mas não foram respondidos. A Folha não localizou até a publicação desta reportagem o policial Marcos Sérgio Ferreira.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024