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    Lava Jato

    Em delação, Cerveró diz que André Esteves pagou propina a Collor

    AGUIRRE TALENTO
    MÁRCIO FALCÃO
    DE BRASÍLIA
    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    25/11/2015 15h05

    Preso nesta quarta-feira (25) no âmbito da Operação Lava Jato, o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, foi acusado pelo ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró de ter pago propina ao senador Fernando Collor (PTB-AL). Para evitar essas acusações, tentou corromper Cerveró, aponta a Procuradoria Geral da República.

    Segundo o pedido de prisão da PGR, Cerveró relatou "pagamento de vantagem indevida ao senador Fernando Collor, no âmbito de contrato de embandeiramento de 120 postos de combustíveis em São Paulo, que pertenciam conjuntamente ao Banco BTG Pactual e a grupo empresarial denominado Grupo Santiago".

    O delator disse que ouviu do empresário Pedro Paulo Leoni Ramos que Collor recebeu de R$ 6 milhões a R$ 10 milhões de propina no caso.

    Esteves teve acesso a documento sigiloso saído da cela do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, referentes à sua delação premiada, quando teria tomado conhecimento das acusações.

    Esse foi um dos motivos para o pedido de prisão do banqueiro pela Procuradoria Geral da República.

    Após investigações, a PGR apontou que Esteves havia se comprometido com o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), também preso nesta quarta, a fornecer pagamento mensal de R$ 50 mil a Cerveró para ele excluir o BTG Pactual e o parlamentar da sua delação premiada.

    Em depoimento prestado aos procuradores, Bernardo Cerveró –filho do ex-diretor da estatal e quem aparece na gravação da conversa que deu base à prisão de Delcídio– declarou: "O senador passou a fazer referências a André Esteves, que é 'quem entraria com a grana', isto é, que daria suporte financeiro para família do depoente".

    DOCUMENTO

    Na reunião gravada pelo filho de Cerveró com Delcídio e o advogado Edson Ribeiro, o senador conta que foi informado pelo banqueiro que ele havia conseguido um documento com anotações manuscritas de Cerveró, que estava dentro de sua cela. Esteves lhe mostrou o material.

    "O banqueiro André Esteves está na posse de cópia de minuta de anexo do acordo de colaboração premiada ora submetido à homologação, com anotações manuscritas do próprio Nestor Cerveró. Essa informação revela a existência de perigoso canal de vazamento, cuja amplitude não se conhece: constitui genuíno mistério que um documento que estava guardado em ambiente prisional em Curitiba/PR, com incidência de sigilo, tenha chegado às mãos de um banqueiro privado em São Paulo/SP", escreveu o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no pedido de prisão ao STF.

    Quando é informado do vazamento do documento, Bernardo afirma que deve ter sido tirado da cela de Cerveró, porque não é o mesmo documento que havia sido entregue à PGR, já que possuía anotações manuscritas do ex-diretor.

    Na reunião, Delcídio diz que vai falar com André Esteves sobre o acordo, sem especificar detalhes.

    "Eu cheguei lá, sentei com o André, falei 'ó André, eu tô com o pessoal. É, eu já conversei com a turma. Já falei com o Edson, vou conversar com o Bernardo", diz o senador, ainda segundo a conversa gravada.

    Leia a íntegra da conversa aqui

    André Esteves não participou dessa reunião, ocorrida em 4 de novembro, mas Delcídio intermediou para que ele fosse à nova reunião para tratar do assunto, no último dia 19. "É importante que ele veja vocês", diz o senador.

    "Se ele vai falar amanhã com o André, vamos ser procuradores terça ou quarta-feira no máximo", comentou o advogado Edson Ribeiro com Bernardo, no fim da reunião.

    Em nota, o BTG diz que vai colaborar com as autoridades para esclarecer os fatos investigados.

    OUTRO LADO

    Collor diz "que não teve conhecimento, participação nem a mais mínima ingerência nas tratativas realizadas entre BTG e o Grupo Santiago com a BR Distribuidora, jamais tendo exercido qualquer influência para concretização de negócio, muito menos recebido qualquer tipo de vantagem".

    O senador critica o que chama de "concerto de versões entre delatores para a garantia de benefícios mútuos". De acordo com Collor, "não chega a ser novidade que o mais novo delator siga a cantilena soprada pelos seus antecessores, sob a batuta da Procuradoria-Geral da República".

    A relação entre os personagens

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