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    Lava Jato

    Advogado com prisão decretada dizia que anularia delações da Lava Jato

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    25/11/2015 17h06

    O advogado Edson Ribeiro, que teve sua prisão decretada pelo Supremo Tribunal Federal sob acusação de planejar a fuga de Nestor Cerveró, era um crítico ferrenho das delações premiadas, mas seus interesses não eram a proteção do seu cliente, o ex-diretor Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, na visão do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal.

    A Folha apurou que Ribeiro foi localizado no exterior, porém o cumprimento da prisão dependia, até a noite desta quarta (25), de detalhes burocráticos em relação à documentação enviada do Brasil.

    Ribeiro traiu Cerveró e foi cooptado pelo senador Delcídio do Amaral (PT-SP) para proteger o parlamentar e o banqueiro André Esteves, segundo Teori. Tanto Delcídio quanto Esteves também foram presos nesta manhã.

    LEIA A ÍNTEGRA DOS DOCUMENTOS

    "O advogado Edson Ribeiro passou, efetivamente, a proteger os interesses do senador Delcídio Amaral", escreve o ministro na decisão que mandou prendê-lo.

    Conversas gravadas por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras, apontam que o interesse do advogado era derrubar delações que comprometeram integrantes do PT e do PMDB.

    Numa conversa com o senador, o advogado diz a Delcídio que tem ele deveria conversar com o também ministro do Supremo Luiz Fachin, indicado ao cargo pela presidente Dilma Rousseff, para tentar anular delações que precisam ser homologadas pela instância máxima da Justiça porque elas citam políticos.

    "Se a gente anula aquilo, a situação de todos tá resolvida. Porque aí eu vou anular em cadeia", afirma a Delcídio. "Consigo anular a de Fernando Baiano, a do [Pedro] Barusco e a do Julio Camargo", orgulha-se em outro trecho da conversa –Baiano é o apelido do lobista Fernando Soares.

    O advogado cita também que conseguirá anular o acordo de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras que se tornou o primeiro delator da Operação Lava Jato e levou as investigações a territórios que os procuradores e a Polícia Federal nem imaginavam.

    A ideia de Ribeiro era proteger os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Jader Barbalho (PMDB-PA), citados por delatores como beneficiários de propina em negócios fechados pela diretoria ocupada por Cerveró.

    O advogado relata que conversou com Cerveró sobre a omissão do senador numa eventual delação: "O que combinei com Nestor [é] que ele negaria tudo em relação a você", afirma a Delcídio.

    Ribeiro também defende que o banqueiro assine um contrato com o seu escritório para receber os R$ 4 milhões que seriam pagos pelo banqueiro e repassados à família de Cerveró: "É até bom que seja um contrato comigo, porque aí a gente tem garantia".

    O filho de Cerveró relata que chegou a receber R$ 50 mil de Ribeiro numa reunião que tiveram numa sala do escritório de Nelio Machado, que defendia o lobista Fernando Soares e deixou a causa quando seu cliente decidiu fazer delação por ser contra esse instituto.

    Bernardo relata que Nelio não estava na cena da entrega do dinheiro. "Não vi nada disso. Nem sei se isso aconteceu. Estou surpreso com essa notícia", disse Machado à Folha.

    Segundo Machado, Ribeiro frequentava seu escritório porque os dois eram os únicos advogados da investigação sobre os navios-sondas que eram contrários à delação.

    Aos 57 anos, formado em direito pela Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Ribeiro não é tido por seus pares no Rio de Janeiro como "um advogado de bandidos", expressão que a reportagem da Folha ouviu de três profissionais que já atuaram em causas com ele, como a defesa de contraventores ligados a Castor de Andrade.

    Nas conversas gravadas pelo filho de Cerveró, no entanto, o advogado se jacta de ser amigo de um dono de empresa de aviação e que já tirou do país outros investigados. Ao propor a fuga de Cerveró via Paraguai, após conseguir um habeas corpus no Supremo, Ribeiro relata a Delcídio: "Porque ele [Cerveró] está no Paraná, atravessa o Paraguai...". Delcídio completa: "A fronteira seca". Ribeiro: "Entendeu? E vai embora. Eu já levei muita gente por aí".

    O filho de Cerveró levanta um problema óbvio: como seu pai atravessaria a fronteira com a tornozeleira, um acessório que é praticamente obrigatório para os réus da Lava Jato que são liberados da prisão, e permite que a PF saiba exatamente onde ele está. O advogado se embanana na resposta: "Isto a gente vai ter que examinar".

    Quatro advogados do Rio ouvidos pela Folha sob condição de anonimato dizem que nunca ouviram falar que Ribeiro tirou clientes do país. Dois deles classificaram Ribeiro de "falastrão" e "boquirroto".

    Ribeiro tem casa em Orlando (EUA), onde estava quando sua prisão foi decretada. A Folha não conseguiu localizar o advogado que vai defendê-lo. Procurado pela reportagem, o sócio de Ribeiro no escritório no Rio, Felipe Caldeira, não foi localizado.

    Plano de fuga

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