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    Lava Jato

    Advogado de Cerveró diz em gravação que Romário tem conta na Suíça

    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    25/11/2015 21h26

    Alan Marques - 20.ago.2015/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, BRASIL, 20.08.2015. O senador Romário preside sessão da CPI do Futebol. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER
    O senador Romário (PSB-RJ)

    Com ordem de prisão emitida nesta quarta-feira (25), o advogado Edson Ribeiro, um dos responsáveis pela defesa do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, disse que o senador Romário (PSB-RJ) teria uma conta na Suíça –o que foi negado pelo ex-jogador, em nota oficial.

    Ribeiro também associou a suposta conta a um acordo entre Romário e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), em torno das eleições municipais –o que ambos negam.

    A afirmação foi feita durante uma conversa gravada com o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), líder do PT no Senado, preso nesta manhã sob acusação de obstruir as investigações da Operação Lava Jato.

    Os dois participavam de uma reunião com Bernardo Cerveró, filho de Nestor, e com o chefe de gabinete de Amaral, Diogo Ferreira, ocorrida em 4 de novembro, em Brasília.

    A gravação foi feita por Bernardo Cerveró e usada como base para os pedidos de prisão contra Delcídio, Ribeiro e também contra o banqueiro André Esteves, dono do banco BTG Pactual. O propósito da reunião era tentar dissuadir o ex-diretor da Petrobras de fazer um acordo de delação premiada.

    No início da gravação, em uma conversa informal, Amaral pediu desculpas por seu atraso. O motivo: um encontro entre Romário, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o secretário da Casa Civil e pré-candidato à prefeito do Rio, Pedro Paulo.

    "Hoje eu estava com a minha agenda toda organizadinha para estar aqui às 13h. Aí, para acabar de complicar ainda mais o jogo, me aparece o Eduardo Paes, com o Pedro Paulo, com o Romário e com o [Ricardo] Ferraço [senador do PMDB]".

    Amaral se mostrou surpreso pela presença dos três juntos, já que Romário era um dos cotados para ser candidato à Prefeitura do Rio e Pedro Paulo, secretário-executivo de Paes, é o escolhido do atual prefeito para a disputa.

    "Ué, [os três] fizeram acordo, né?", questiona o advogado Edson Ribeiro. "Diz o Eduardo que sim", responde Amaral. "Foi Suíça, foi Suíça", afirma Ribeiro, completando: "Tinha a conta realmente do Romário".

    O advogado refere-se a reportagem da revista "Veja" de 27 de junho, que mostrou o extrato de uma conta-corrente no banco suíço BSI atribuída ao ex-jogador, com saldo equivalente a R$ 7,5 milhões.

    A veracidade do extrato foi questionada pelo senador e, após o banco negar que a conta fosse de Romário, a revista se retratou.

    Na continuação da conversa, em um trecho cuja audição não é clara, Ribeiro diz a Delcídio que "seu amigo do banco, que foi comprado" -o BTG Pactual, de André Esteves e que tem como diretor e sócio Guilherme da Costa Paes, irmão do prefeito do Rio, comprou o BSI em 2014- teria dito a Romário "tira [o dinheiro da conta], porque senão tu vai preso".

    Em seguida, Amaral diz ter ficado surpreso com a aliança: "Eu achei estranho. Eles chegaram e [eu perguntei:] 'Romário o que você tá fazendo aqui?'. Ele disse: 'Tô acompanhando o Eduardo'". Segundo o senador petista, Paes, a quem chama de "companheirão", teria lhe dito então acertara uma aliança com Romário para que ele apoiasse a candidatura de Pedro Paulo.

    OUTRO LADO

    Em seu perfil no Facebook, o senador Romário negou ter conta na Suíça e ter negociado com Paes um acordo financeiro para apoiar Pedro Paulo.

    Ele confirmou que teve um encontro com Delcídio Amaral, Paes e Pedro Paulo no dia 4 de novembro, para pedir que o líder do governo, à época também presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, agilizasse a tramitação de projeto que propôs o fim de barreiras à cessão de dívida ativa de Estados e municípios.

    "O advogado levanta suspeita sobre um assunto que já foi esclarecido por mim e pelas autoridades brasileiras e suíças. Aqueles que novamente fazem acusações inverídicas claro que responderão à Justiça. Qual a credibilidade do advogado de um bandido, corrupto e responsável por roubar uma das principais empresas do país?", afirma o senador.

    "Não é novidade para ninguém que o prefeito Eduardo Paes tem interesse que eu apoie o seu candidato à sucessão. Não sou responsável pelo que terceiros falam, apenas pelos meus atos. Assim sendo, deixo claro que não tenho nenhum acordo com ninguém e, infelizmente, o dinheiro não é meu. Digo infelizmente porque, com certeza, se fosse meu, seria fruto de muito trabalho honesto", diz.

    Procurado, o prefeito do Rio também confirmou o encontro em Brasília, com os mesmos motivos citados por Romário.

    Em nota, disse que "nunca negou que gostaria de ter o apoio político de Romário" ao seu candidato à prefeitura. Sobre a suposta conta suíça, Paes disse que "o próprio órgão de imprensa desmentiu a informação e admitiu o erro". Ele afirmou ainda não ter nenhuma relação com as atividades profissionais de seu irmão e "muito menos acesso a qualquer informação sobre contas de qualquer banco".

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