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    Lava Jato

    Após prisão de senador, Congresso foi tomado por perplexidade e cálculos

    DANIELA LIMA
    DE BRASÍLIA

    26/11/2015 00h28

    Eram cerca de 8h da manhã quando o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deu início a uma maratona de telefonemas. "Vamos ter que fazer uma reunião", disse a seus interlocutores. "O senador Delcídio foi preso".

    Daquele momento em diante, o Congresso foi dominado por duas impressões distintas. Nos pronunciamentos públicos, todos os parlamentares fizeram questão de expressar sua "perplexidade" com a notícia.

    Nos encontros privados, no entanto, o dia foi de cálculos sobre o impacto do encarceramento de um colega durante o exercício do mandato e, principalmente, sobre o precedente que a decisão abriria sobre o Parlamento.

    Os integrantes de partidos da oposição se reuniram na sala da liderança do PSDB no Senado para definir que rumo tomar diante do caso.

    No meio das discussões, no entanto, começaram a vazar na imprensa as gravações que levaram Delcídio à carceragem da Polícia Federal. Houve silêncio para que, amontoados em volta de um computador, os deputados e senadores pudessem ouvir os primeiros trechos do grampo.

    Já o PMDB decidiu fazer seus cálculos fora do Congresso. A cúpula do partido do Senado só voltou à Casa no fim da tarde, quando já havia decidido trabalhar para que a votação sobre o destino de Delcídio fosse secreta.

    Um dos primeiros a ser informados da decisão foi o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também investigado na Lava Jato. Antes das 16h, os aliados do peemedebista já percorriam os corredores do Congresso afirmando que Renan havia garantido a Cunha pelo telefone que não haveria voto aberto. A tese, porém, foi derrotada mais tarde no plenário.

    FACA NO PESCOÇO

    A crise em torno do petista também deflagrou um clima de alerta entre parlamentares que estão na mira da Lava Jato. Integrantes do governo e da oposição, no Senado e na Câmara, viram na decisão do Supremo um sinal de que o Judiciário passará a agir com rigor inédito nos casos relacionados à operação.

    A guinada, avaliaram os parlamentares, se deve ao conteúdo das declarações que levaram o petista à prisão. Delcídio citou nominalmente ao menos quatro ministros do Supremo em uma conversa na qual tratava das possibilidades de comprometer o andamento das apurações sobre o esquema de corrupção na Petrobras.

    Ao fazer isso, entenderam seus colegas, colocou "a faca no pescoço dos ministros" e levou o STF a adotar posição enérgica para dar prova pública de sua isenção no caso.

    Essa constatação desaguou num sentimento de preservação coletiva e numa série de especulações sobre como a corte poderia reagir diante de outros casos. Cada Casa fez as contas baseada em suas conveniências.

    No plenário da Câmara, deputados especulavam sobre o impacto da notícia no humor de Eduardo Cunha.

    Os adversários do peemedebista viram no posicionamento do STF uma brecha para defender o afastamento do presidente da Câmara.

    Eles afirmaram ainda que os investigados estão arrasando a reputação do Congresso. "A lama não veio pelo Rio Doce, mas chegou em Brasília", disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

    No campo oposto, os aliados de Cunha se dividiram.

    A ala que defende que ele use o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff como moeda de troca para salvar o próprio mandato acha que o episódio serviu para mostrar que o PT não consegue "sequer salvar a si mesmo". Para esses, a prisão de Delcídio abriu nova crise dentro do Planalto e uma brecha para fazer deslanchar o pedido para afastar Dilma.

    Já o grupo que não está engajado no início do impeachment comemorou: o escândalo do senador petista deixou Cunha fora das manchetes de jornais por um dia.

    No Senado, até a oposição disse assistir ao caso constrangida. Não houve espaço para comemoração.

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