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    Deputado do PT é cassado por usar assentados do MST para desviar verba

    JOÃO PEDRO PITOMBO
    DE SALVADOR

    01/12/2015 15h08

    Luis Macedo/Câmara dos Deputados
    O deputado João Daniel, do PT de Sergipe, durante sessão da Câmara, em Brasília

    Suspeito de desviar ao menos R$ 367 mil de recursos públicos por meio de um esquema que envolve até integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), o deputado federal João Daniel (PT-SE) foi cassado por unanimidade nesta segunda-feira (30) pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Sergipe.

    Segundo as investigações, o dinheiro foi desviado da Assembleia Legislativa do Estado em 2014, quando Daniel exercia mandato de deputado estadual, por meio de repasses de subvenção feitos a entidades sem fins lucrativos. O suposto esquema envolve ainda empresas e associações representativas.

    À Folha, o deputado negou qualquer participação no esquema e disse que vai recorrer da decisão no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

    Os recursos, segundo denúncia da Procuradoria Regional Eleitoral de Sergipe, foram usados para bancar a campanha eleitoral de João Daniel nas eleições do ano passado.

    Segundo os procuradores, o esquema envolveu a Associação de Cooperação Agrícola do Estado de Sergipe, que recebeu R$ 213 mil em subvenções, e o Centro de Formação em Agropecuária Dom José Brandão de Castro, que recebeu R$ 220 mil em repasses do deputado.

    As duas entidades firmaram contratos com três empresas –HG Serviços de Transportes, BHS Serviços e Premium Consultoria– para prestação de serviços como a realização de cursos e aluguel de carros.

    A quebra de sigilo bancário das entidades e empresas, contudo, demonstrou que o dinheiro repassado às empresas era sacado ou transferido para integrantes do esquema.

    A HG Serviços, por exemplo, fez depósitos nas contas de militantes e dirigentes do MST em Sergipe, em valores que variam de R$ 500 a R$ 1,5 mil.

    Segundo a denúncia, os recursos serviriam para irrigar "com recursos públicos a base política do deputado durante as eleições".

    Os procuradores afirmam que há indícios de crimes de peculato, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, improbidade administrativa e doações ilegais de campanha.

    Daniel disse à reportagem que não há nenhuma acusação de que ele tenha recebido dinheiro e nega qualquer tipo de triangulação com entidades, empresas e dirigentes do MST para financiar sua campanha.

    "Não houve improbidade da minha parte, apenas indiquei as entidades que receberiam o benefício. E, até que se prove o contrário, essas entidades são sérias e geridas por pessoas idôneas", afirmou.

    A Folha tentou, mas não conseguiu os contatos das empresas citadas. A reportagem questionou o TRE qual foi a posição delas no processo, mas o tribunal informou que só depois que o voto do juiz for liberado irá divulgar a informação.

    MAIS CASSADOS

    Além de João Daniel, dez deputados estaduais e um federal de Sergipe foram alvos de pedidos de cassação por supostamente usarem recursos das subvenções, que chegavam a R$ 1,5 milhão por deputado, em benefício próprio.

    Três deputados estaduais já foram cassados, dois absolvido e os outros seis ainda não foram julgados.

    O caso, que ficou conhecido em Sergipe como o "escândalo das subvenções", está sendo investigado desde o ano passado.

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