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    o impeachment

    Ministro Padilha deixa governo; PMDB pressiona Henrique Alves

    VALDO CRUZ
    MARINA DIAS
    DANIELA LIMA
    DE BRASÍLIA
    CÁTIA SEABRA
    DE SÃO PAULO

    04/12/2015 10h52

    Marcelo Camargo - 20.jul.15/Agência Brasil
    O aliado de Michel Temer Eliseu Padilha, que deixa o cargo de ministro da Aviação Civil
    O aliado de Michel Temer Eliseu Padilha, que deixa o cargo de ministro da Aviação Civil

    Um dos principais aliados do vice-presidente Michel Temer, o ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil) vai deixar o governo.

    O peemedebista tentou entregar sua carta de demissão ao ministro Jaques Wagner (Casa Civil) na noite desta quinta-feira (3), mas, segundo aliados, Padilha não foi nem mesmo recebido pelo braço direito da presidente Dilma Rousseff.

    Segundo a Folha apurou, Padilha então protocolou a carta de demissão no Palácio do Planalto –amigos do ministro dizem que a decisão é irrevogável.

    De acordo com aliados do ministro da Aviação Civil, o motivo oficial para a demissão foi uma nomeação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Padilha queria indicar um aliado mas, depois de fazê-lo, viu a Casa Civil revogar a nomeação após reclamações.

    Segundo a Folha apurou, Padilha teria se irritado com a rejeição de três nomes que indicou para o governo, dois deles no Rio Grande do Sul. Aliados do ministro dizem que o governo rejeitou a nomeação de um de seus indicados para o Ministério da Saúde, hoje sob o comando do PMDB. O cargo cobiçado por Padilha está ocupado por um petista ligado ao ministro Miguel Rossetto.

    No Rio Grande do Sul, PT e PMDB são adversários históricos.

    Amigos do ministro contam ainda que ele ficou incomodado porque tentou falar com a presidente sobre a situação, mas foi recebido pelo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. Irritado, Padilha anunciou sua exoneração.

    Padilha é o primeiro aliado de Temer a deixar o governo após a abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff.

    PMDB

    TURISMO

    A ala pró-impeachment do PMDB, ligada ao vice-presidente, trabalha agora para convencer o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), a deixar o governo.

    Na avaliação dessa ala da legenda, a saída de Henrique Alves seria um movimento coerente com a ligação pessoal que o ministro e o vice-presidente têm há anos.

    Essa articulação ganhou força após o anúncio da saída de Padilha.

    Aliados do vice-presidente afirmam que as conversas com Henrique Alves devem acontecer ao longo do dia. O ministro não está em Brasília. Embarcou logo cedo para Natal.

    Outros ministros peemedebistas no governo são Marcelo Castro (Saúde), Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), Helder Barbalho (Portos), Eduardo Braga (Minas e Energia) e Kátia Abreu (Agricultura) –esta, na cota pessoal de Dilma.

    REAÇÃO

    O presidente do PT de São Paulo, Emidio de Souza, afirmou que a saída do ministro "não é um bom sinal" para o governo Dilma.

    Na avaliação de petistas, Padilha sai para articular em favor do impeachment para que o vice-presidente, Michel Temer, assuma o cargo. Seu papel seria negociar com partidos cargos num eventual governo de Temer.

    O assunto caiu como uma bomba, nesta sexta, numa reunião da maior corrente política do PT: a CNB. Durante a reunião foram feitos informes com notícias discrepantes. Houve quem dissesse que a saída de Padilha não está confirmada.

    "Não é um bom sinal. Mas é o que temos para o almoço", disse Emidio, ao deixar a reunião.

    O líder do PT na Câmara, Sibá Machado, afirmou que entende a saída de Eliseu Padilha como decisão pessoal. "Temos uma aliança com o PMDB. Não há decisão do partido".

    Ele comparou o momento às crises que levaram ao suicídio de Getúlio Vargas e ao golpe de 1964. "O que está sendo colocado é o pior da história política do Brasil. Aconteceu com Getúlio, com o João Goulart e querem repetir com Dilma", disse.

    Impeachment

    DISTANTE

    O vice-presidente tem se mantido longe da articulação da defesa do governo, e o Planalto tenta constranger Temer a se solidarizar com Dilma publicamente.

    O presidente do PT Rui Falcão declarou nesta sexta que duvida que o vice-presidente venha "a se acumpliciar com o golpismo". Falcão disse que não comentaria as razões pelas quais Padilha entregou o cargo, mas fez questão de frisar as juras de fidelidade feitas por Temer. Segundo ele, Temer teria dito a presidente Dilma Rousseff que não há base para o impeachment.

    A estratégia já havia ficado evidente nesta quinta-feira (3), quando aliados de Dilma e de Temer deram versões conflitantes sobre o primeiro encontro de ambos após o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciar que daria prosseguimento a um pedido de afastamento da petista.

    Enquanto auxiliares da presidente se anteciparam a divulgar que o peemedebista "assumiu o compromisso" de estar junto com Dilma "na defesa da legalidade e da estabilidade institucional do país", aliados do vice diziam que ele se limitou a recomendar à presidente uma "postura institucional", evitando o conflito com Cunha para "não aprofundar a crise já posta".

    Até mesmo a duração do encontro foi motivo de divergência.

    O Palácio do Planalto divulgou que a reunião durou toda a manhã, enquanto pessoas próximas a Temer diziam que os dois estiveram juntos por apenas 30 minutos.

    O ministro Jaques Wagner (Casa Civil), porém, negou que Temer tenha sugerido a Dilma não entrar em conflito público com Cunha. "Eu estava presente na conversa inteira e não vi essa citação do vice-presidente".

    Wagner aproveitou para dizer que Temer tem "uma longa trajetória de ser democrata e constitucionalista". O PT e a própria presidente Dilma têm chamado de "golpe" a instauração do pedido de afastamento.

    "Assim como nós, Temer não vê nenhum lastro para esse processo de impeachment", completou o ministro.

    A tentativa de aproximar Temer é chancelada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, diante do afastamento do vice das articulações políticas do governo, defendeu junto a Dilma que ele tivesse mais importância no governo.

    Lula chegou incentivar que Temer ocupasse o Ministério da Justiça no lugar de José Eduardo Cardozo.

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