• Poder

    Sunday, 19-May-2024 12:15:00 -03

    o impeachment

    Sem votos para vencer essa parada, governo não tem base, diz Berzoini

    MARINA DIAS
    VALDO CRUZ
    DE BRASÍLIA

    07/12/2015 02h00

    Alan Marques - 4.dez.2015/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, BRASIL, 04.12.2015. O ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, Ricardo Berzoini, dá entrevista exclusiva para a Folha para fala sobre a atuação do governo na comissão que avalia o Impeachment da presidente Dilma Rousseff. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER *** EXCLUSIVA *** ENTREVISTA DE SEGUNDA ***
    O ministro da Secretaria de Governo da Presidência, Ricardo Berzoini, em entrevista para a Folha

    Responsável pela articulação política do Palácio do Planalto e um dos auxiliares mais próximos a Dilma Rousseff, o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) afirmou à Folha que, se não conseguir os 171 votos necessários para derrubar o pedido de impeachment no plenário da Câmara, "o governo não tem base política para se manter como governo".

    "A afirmação virá pelo voto", disse o ministro.

    Em sua primeira entrevista após a deflagração do processo de impedimento da presidente, Berzoini afirmou que o Planalto vai trabalhar para que "uma importante parcela da sociedade" dê apoio para parlamentares votarem a favor de Dilma.

    Na avaliação do Planalto, segundo o ministro, o processo deve ser liquidado "o mais rápido possível", para reduzir incertezas econômicas e permitir a tomada de decisão por parte de investidores e empresários de maneira consciente.

    Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

    *

    Folha - O que é melhor para o governo: uma vitória no STF (Supremo Tribunal Federal) contra o impeachment ou no plenário da Câmara?
    Ricardo Berzoini - São coisas diferentes. O STF tem papel de controlar a constitucionalidade das atividades e certamente pode se posicionar. Na política, o juízo é efetivamente de valor. Se procede ou não o pedido, se tem conteúdo de mérito para justificar uma decisão tão grave. Eu prefiro ganhar no voto. As pessoas sabem o que está em jogo e a origem dessa decisão do presidente da Câmara.

    Qual é a origem?
    A que está declarada até pelo advogado Miguel Reale Jr. [um dos autores do pedido de impeachment], que declarou que o presidente da Câmara jogou areia nos olhos da nação. Uma pessoa que assinou o pedido diz que o processo nasce comprometido em termos de legitimidade.

    O sr. preferir ganhar no voto tem algo a ver com o fato de o STF já ter rejeitado duas ações para barrar o ato de Cunha?
    Quando se vai ao Judiciário não se pode, depois da decisão, adotar uma posição de técnico de futebol que perdeu o jogo. Tem que respeitar.

    Vencer no voto do plenário é mais seguro?
    Não. É mais forte. A afirmação do governo virá pelo voto. Ou temos votos suficientes para vencer essa parada ou significa que o governo não tem base política para se manter como governo.

    Alguns empresários dizem que essa é uma oportunidade para a presidente se fortalecer –ou hora de abrir caminho para outro processo. O sr. concorda?
    Concordo que é uma oportunidade para o Brasil sair do impasse. Um setor da sociedade, a oposição e o candidato derrotado nas eleições [Aécio Neves, PSDB] já pediram recontagem de votos, auditoria nas urnas, deram declarações de que as eleições não haviam sido legítimas. Se existe tentativa de se criar um ambiente de conflito, é melhor tomar a decisão. O governo não tem medo do processo decisório.

    Mas o governo ficou parado durante este ano.
    Fico impressionado [com essa declaração]. O governo está entregando 350 mil casas do Minha Casa, Minha Vida, aumentou em mais de 90 mil as vagas nas universidades, aprovou a reoneração da folha de pagamento, acabou de aprovar a revisão da meta fiscal, já aprovou a LDO na comissão e pretende aprovar no plenário, fizemos uma redução de ministérios...

    A despeito disso tudo, a imagem que passa é de um governo paralisado.
    Consultorias que acompanham a economia divulgaram que o impacto da Lava Jato –não estou discutindo a legitimidade do combate à corrupção– alcança 2,5 pontos percentuais do PIB. Tivemos queda nas commodities, seca que dura seis anos e crise política. Aquilo que vivemos hoje é consequência de fatores externos e internos da economia e da política. Não estou tirando a responsabilidade do governo, mas buscamos um cenário novo.

    O sr. não acha que a presidente adota uma posição perigosa ao partir para o confronto com o presidente da Câmara?
    A presidente não partiu para o confronto, simplesmente manifestou um sentimento, que acho que é de boa parte da sociedade, de que não se estabelece qualquer tipo de negociação em questões tão importantes quanto as de ética parlamentar.

    O sr. se refere ao governo ter garantido salvar Cunha no Conselho de Ética da Câmara em troca do arquivamento dos pedidos de impeachment?
    Me refiro àquilo que a gente viu nos jornais, de hipóteses de troca entre as questões. Isso não faz sentido em uma democracia como a nossa.

    Como o sr. classifica o comportamento de Eduardo Cunha nesse processo?
    É complicado, ele passou meses vazando informações de que poderia, se insatisfeito, provocar o impeachment, esquecendo-se que é um ato que exige responsabilidade e total impessoalidade. Creio que não é correto.

    A deflagração do impeachment causou essa sensação de alívio na presidente Dilma, como relataram assessores?
    Agora o jogo fica claro. É em campo aberto, com a sociedade assistindo, e onde podemos debater se há ou não fundamento para o pedido e que motivações levaram [Cunha] a aceitar a denúncia.

    Ao governo interessa votar o impeachment no plenário da Câmara o mais rápido possível. É viável garantir o trabalho do Congresso no recesso?
    Não, porque depende do comparecimento de deputados e senadores. O que queremos dizer é que não temos interesse em postergar o processo. Não é justo com o Brasil, do ponto de vista dos impactos econômicos e indefinições para o povo. O quanto antes puder haver decisão, acreditamos que será melhor, porque reduz incertezas e permite que empresários, investidores e pessoas que tenham decisões a tomar possam tomá-las sabendo quem vai estar à frente do governo.

    O ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, pediu demissão. O sr. não teme um desembarque do PMDB do governo?
    Não há sinal do PMDB nesse sentido. Padilha não conversou com Dilma. Ele deu uma contribuição importante e, se ficar, continuará a dá-la. Em nenhum momento ele anunciou, inclusive no PMDB, que sairia por divergências sobre impeachment.

    Padilha é braço direito do vice-presidente Michel Temer, que tem se distanciado do governo. Essa demissão não significa que a ala ligada a Temer está deixando o governo?
    Conheço o Michel há muito tempo e me sinto responsável pela chapa Dilma-Temer, porque era presidente nacional do PT à época. Não posso falar por ele, mas tenho confiança de que ele vai se manter ao lado da democracia e não vai ter proximidade com essa aventura [a entrevista foi concedida antes da frase de Temer sobre Dilma nunca ter confiado nele ter vindo a público].

    Qual vai ser a estratégia concreta do governo para garantir os votos contra o impeachment no Congresso?
    Ninguém garante votos. Esse vai ser um processo longo e que tem que ser tratado com muita humildade. O governo conta com a coesão e a solidariedade dos partidos. Mas vamos trabalhar dia por dia para que o governo não sofra perda política na sua base e consiga demonstrar para a sociedade que estamos com as razões justas do nosso lado. O que os parlamentares vão precisar é apoio de parcela importante da sociedade.

    E qual é o argumento para esse voto?
    O mandato legítimo, conquistado pelo voto. As razões do pedido de impeachment não têm fundamento –as chamadas pedaladas fiscais. Temos uma visão clara que o processo das contas não foi julgado no Congresso, só recebeu o parecer do TCU (Tribunal de Contas da União).

    O ministro Jaques Wagner disse que a presidente tem "pressa" para votar o processo. Esse diálogo que o sr. está propondo não leva muito tempo?
    Quando a gente fala em pressa, não é no sentido de apressar e atropelar. Acreditamos que têm que se cumprir as regras regimentais para que a Câmara conduza isso com legalidade e idoneidade. As pessoas podem se convencer num prazo razoável, os prazos mínimos.

    *

    RAIO-X - RICARDO BERZOINI

    Idade
    55 anos

    Cargo
    Ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência

    Trajetória
    Iniciou-se na política no Sindicato dos Bancários; foi deputado federal, ministro da Previdência e do Trabalho (governo Lula) e de Relações Institucionais e das Comunicações (governo Dilma); presidiu o PT (2005-2010)

    Formação
    Engenharia (incompleto)

    Edição impressa
    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024