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    o impeachment

    Empresários querem Dilma fora, mas temem contágio com Cunha

    DAVID FRIEDLANDER
    RAQUEL LANDIM
    JULIO WIZIACK
    DE SÃO PAULO

    10/12/2015 02h00

    Luiz Carlos Murauskas -11.jun.15/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 11-06-2015 11h: * Julio Wizak. Sabatina no auditorio com Flavio Rocha, presidente da Riachuelo. ( Foto: Luiz Carlos Murauskas/Folhapress, MERCADO ) ***RESTRICAO***
    Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, em sabatina na Folha

    Grandes empresários querem a saída da presidente Dilma Rousseff, mas ao mesmo tempo temem apoiar um impeachment carimbado como chantagem do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), envolvido na Operação Lava Jato.

    Uma parte prefere o vice Michel Temer no lugar de Dilma, mas quase todos acham essa possibilidade remota hoje. Ressalvam, no entanto, que a usina de surpresas da Lava Jato pode virar o cenário de ponta cabeça de uma hora para outra.

    A Folha conversou com 15 donos de grandes empresas e líderes da indústria, da agricultura, do comércio e do setor financeiro. A maioria pediu anonimato para falar.

    Entre eles há um consenso de que, mesmo sobrevivendo ao impeachment, Dilma sairá muito enfraquecida e sem condições de reunir apoio no Congresso para a aprovação de medidas para tirar o país da crise, como o ajuste fiscal.

    Se isso acontecer, o empresariado acha que enfrentará mais três anos de deterioração econômica, com inflação, desemprego, prejuízo e quebradeira.

    "Sou pessimista com esse ciclo, que se esgotou [o governo Dilma]", afirma Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, uma das maiores redes de varejo do país.

    Os empresários dizem que o governo Dilma é incompetente na gestão da economia, mas que a situação chegou ao limite porque a oposição, incluindo parte do PMDB, investiu no "quanto pior, melhor" no Congresso para desgastar a presidente.

    Esse impasse político atrapalhou a aprovação de medidas para destravar a economia, que neste ano deve sofrer uma retração de 3,5% e deixará como saldo 1,6 milhão de empregos a menos.

    Há cerca de um mês, a direção da Sociedade Rural Brasileira (SRB) procurou a bancada rural no Congresso cobrando providências. Pediu pressão sobre Eduardo Cunha para que decidisse de uma vez se abria ou não o processo de impeachment.

    "Queremos que esse assunto seja resolvido logo, qualquer que seja a decisão. Não dá para ficar nesse marasmo", diz Gustavo Junqueira, presidente da SRB.

    CONSTRANGIMENTO

    Parte do empresariado acha que existe base legal para depor a presidente. Há quem diga que os motivos são frágeis. O que mais incomoda a maioria, no entanto, é apoiar um processo aberto pelo presidente da Câmara.

    Esses empresários temem ser chamados de golpistas. Acham que Cunha comprometeu o pedido de impeachment ao usá-lo para forçar o governo a barrar seu processo de cassação pelo envolvimento na Lava Jato.

    O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, pensa diferente. "Estão misturando as coisas. As regras dão direito a Cunha de aceitar a análise de um pedido de impeachment. Mas quem vai conduzir o processo são os deputados e os senadores".

    Afilhado político de Michel Temer, Skaf é um dos empresários que trabalha nos bastidores em busca de apoio do setor produtivo ao vice, que pode assumir o lugar de Dilma caso ela seja afastada.

    O próprio Temer já está se movimentando. Na segunda (7), ele participou de um evento com cerca de 150 empresários em São Paulo e apresentou o documento "Ponte para Futuro", com propostas como controle de gastos do governo e reforma da Previdência.

    Pessoas próximas a Temer dizem que, com esse movimento, ele sinaliza que adotará uma agenda liberal e sem surpresas, caso assuma o Planalto. O "plano Temer" agrada os caciques do PSDB com quem o vice-presidente costura uma coalizão.

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