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    Lava Jato

    Doleiro reafirma repasse de R$ 30 milhões à campanha de Cabral e Pezão

    GABRIEL MASCARENHAS
    DE BRASÍLIA

    10/12/2015 18h31

    Em um depoimento de 27 minutos ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), nesta quinta-feira, o doleiro Alberto Youssef disse ter sido informado sobre um pagamento de R$ 30 milhões à campanha de reeleição do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), em 2010.

    Na ocasião, o vice da chapa era Luiz Fernando Pezão, sucessor de Cabral e atual governador do Rio.

    As suspeitas sobre Cabral e Pezão surgiram em depoimentos do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que contou aos investigadores da Operação Lava Jato que negociou diretamente o pagamento.

    O doleiro acrescentou que o valor foi repartido por empresas contratadas para a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e que o repasse à chapa teria ficado a cargo da Odebrecht, uma das integrantes do consórcio responsável pela obra.

    Youssef disse que não atuou na negociação nem da operacionalização do pagamento, mas foi informado do acerto por Paulo Roberto Costa.

    O doleiro era quem arrecadava os valores ilícitos que tinham o PP (Partido Progressista) como destino. Nesse caso, porém, segundo ele, Costa o informou que o montante prometido à campanha de Cabral seria retirado do quinhão de propina que pertencia ao PP.

    "Questionei muito o Paulo Roberto Costa sobre o valor ser transferido dessa maneira, já que estávamos em campanha pelo PP e necessitávamos de recursos para integrantes do partido. Ele me disse que já havia negociado e, infelizmente, era dessa maneira que iria ocorrer", disse o doleiro.

    Youssef adiantou não ter provas do suposto repasse, embora creia que tenha ocorrido. "Com certeza, acho que sim, porque esses valores foram descontados do (que estava reservado ao) Partido Progressista", justificou.

    De acordo com Youssef, dos R$ 30 milhões, R$ 15 milhões foram partilhados por grandes construtoras, como Odebrecht e UTC, e a outra metade, por empresas com quem ele não mantinha contato.

    Perguntado sobre qual era o percentual do contrato destinado à propina, Youssef afirmou que foi de 1%, embora Paulo Roberto Costa tenha dado "um desconto" aos empreiteiros.

    "Na verdade, seriam R$ 34 milhões (em propina), onde o doutor Paulo Roberto acabou negociando, deu desconto de R$ 4 milhões e ficou R$ 30 milhões", detalhou.

    O doleiro contou ainda que tratou do assunto com o dono da UTC, Ricardo Pessoa, que, assim como Youssef, foi preso durante a Operação Lava Jato e firmou acordo de delação premiada com o Ministério Público.

    Ele afirmou que Pessoa ficou incomodado com o fato de a Odebrecht ficar responsável pelo repasse, já que o dinheiro sairia do caixa de outras construturas, entre elas a UTC.

    Por determinação de Costa, segundo Youssef, a ordem era para que as empreiteiras emitissem o montante que lhes cabia à Odebrecht, que o repassaria ao candidato peemedebista.

    "Tive conversa com Ricardo nesse sentido (...). Ele disse uma coisa assim: 'Odebrecht vai levar o mérito?', relatou o doleiro.

    DIVERGÊNCIA

    O depoimento desta quinta foi determinado pelo ministro Luiz Felipe Salomão, relator dos casos vinculados à Lava Jato em curso no STJ.

    A Polícia Federal havia pedido em setembro o arquivamento, ao concluir que não foram encontradas provas no esquema de corrupção da Petrobras envolvendo os políticos fluminenses.

    A Procuradoria-geral da República, no entanto, solicitou ao STJ a continuidade das investigações por serem necessários "esclarecimentos complementares".

    OUTRO LADO

    O ex-governador Sergio Cabral informou por meio da assessoria de imprensa estar indignado "pelo envolvimento de seu nome no caso". Afirmou ainda que, no depoimento desta quinta, Youssef deixa claro que não o conhece.

    O governador Luiz Fernando Pezão diz, por meio da assessoria, que "refuta as declarações que foram dadas hoje ao STJ". Ele diz que as acusações feitas por Paulo Roberto Costa também são mentirosas e que continua na Justiça e à disposição.

    A UTC afirmou que não comenta investigações em andamento.

    A Odebrecht disse que "não comenta relato de delator com base em depoimentos de terceiros".

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