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    Lava Jato

    Sem delações, seríamos 'catadores de papel', diz procurador da Lava Jato

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA

    11/12/2015 18h13

    Geraldo Bubniak/AGB/Folhapress
    O procurador Deltan Dallagnol durante entrevista coletiva em Curitiba

    Em palestra a promotores e magistrados, o procurador da República Deltan Dallagnol, integrante da força-tarefa da Operação Lava Jato, defendeu as delações premiadas como recurso investigativo e disse que a famosa estratégia de "seguir o dinheiro" nas investigações contra a corrupção é "uma falácia".

    "O 'follow the money' é uma falácia", declarou ele, nesta sexta (11). "Nos grandes esquemas de corrupção, você tem um agente profissional que recebe dinheiro de várias origens e coloca num mesmo saco. O dinheiro não tem nome."

    Sem as colaborações, segundo Dallagnol, o grupo da Lava Jato estaria "catando papel" até hoje em busca de provas. Segundo ele, um dos integrantes da força-tarefa, falava que eles eram "catadores de papel", devido ao enorme volume de documentos apreendidos —mais de 80 mil papéis na primeira busca do grupo.

    "Nós nos sentíamos soterrados em papel", afirmou o procurador. Para ele, a palavra de colaboradores que indiquem os beneficiários da propina, demonstrem o fluxo do dinheiro e confirmem a existência de um esquema de corrupção é fundamental para fornecer hipóteses de investigação.

    Segundo Dallagnol, o colaborador funciona como um "criptografista", traduzindo o significado de documentos que não fariam sentido sem sua interpretação.

    "A delação permite subir sob o labirinto probatório e olhar o caminho", disse.

    Em sua apresentação, o procurador usou como símbolos dos delatores pequenas peças de dominó —e disse que as colaborações produzem um "efeito cascata" na investigação, levando a outros criminosos.

    'NATURALIZAÇÃO DA CORRUPÇÃO'

    Em palestra no mesmo evento, o juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato no Paraná, também defendeu a colaboração premiada e disse que juízes e promotores precisam se mobilizar para que o sistema penal "funcione na prática".

    "Se as nossas cortes transferissem um terço do rigor que têm no combate ao tráfico de drogas para os crimes contra a administração pública, isso já faria uma grande diferença", afirmou.

    "Temos que ser firmes nesses processos, sempre dentro dos direitos dos acusados. Respeitar esses direitos não significa ter um processo penal destinado ao vazio."

    Moro ainda manifestou preocupação com a "naturalização da corrupção" no país. "Para mim, é o aspecto mais assustador desse caso [da Lava Jato]", afirmou.

    Ele citou como exemplo os depoimentos de empresários, servidores públicos e operadores que participavam do esquema na Petrobras. "Eles tinham dificuldade de dizer por que estavam pagando ou recebendo propina. É assustador."

    O magistrado ainda declarou que a ditadura militar no Brasil (1964-85) foi uma "anomalia num mundo cada vez mais democrático", e fez um apelo para que os brasileiros escolham bons representantes nas eleições do ano que vem.

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