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    Lava Jato

    Delcídio inocenta André Esteves de plano para silenciar Cerveró

    RENATA AGOSTINI
    DO PAINEL
    DAVID FRIEDLANDER
    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    17/12/2015 00h21

    O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) inocentou o banqueiro André Esteves de participar de negociações com familiares do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

    Segundo mensagem encaminhada ao STF (Supremo Tribunal Federal) na terça-feira (15), obtida pela Folha, Delcídio afirma que Esteves "jamais teve qualquer participação nos fatos".

    "A menção a seu nome foi um blefe, para dar à família de Cerveró uma ideia de que poderia obter algum consolo ou mesmo a tão exigida vantagem que há muito tempo vinha fustigando de forma energética o ora investigado", diz o documento, assinado por advogados do escritório Figueiredo Basto.

    Os advogados tentam convencer o STF a revogar a prisão cautelar do senador. Pedem ainda que a corte considere a prisão domiciliar caso não conceda sua liberdade.

    Segundo o documento, é indiscutível que "Delcídio agiu de forma inadequada". A defesa argumenta, contudo, que ele fora alvo de uma armadilha: uma "gravação clandestina engendrada sob truques cênicos".

    Delcídio e Esteves foram presos no dia 25 de novembro por ordem do Supremo. O pedido baseou-se numa gravação feita por Bernardo, filho de Cerveró.

    Nela, Delcídio oferece uma mesada de R$ 50 mil para que o ex-diretor da estatal desista de fechar acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. E afirma que André Esteves garantiria outros R$ 4 milhões.

    Na conversa, Delcídio discute com Bernardo planos de fuga. A ideia era que Cerveró se escondesse na Espanha. Também cita movimentações para influenciar a decisão de ministros do STF.

    Cerveró acusa Delcídio de receber propina na compra de sondas da Petrobras e na refinaria de Pasadena. A delação do diretor também citaria o envolvimento de Esteves em esquema de corrupção na petroleira estatal.

    Delcídio também exime seu chefe de gabinete, Diogo Ferreira, também preso por participar da trama.

    Segundo o senador, Ferreira "sempre agiu sob seu comando".

    NULIDADE

    A defesa de Esteves, por sua vez, ingressou no Supremo com pedido de revogação de sua prisão com o argumento de que as menções ao seu nome feitas por Delcídio eram "venda de fumaça", "irresponsável bravata" e que ele "está preso por ser rico".

    Uma das acusações contra Esteves é de possuir cópia da delação de Cerveró, documento que é sigiloso.

    "André Esteves não possuía –e nunca possuiu– os anexos da colaboração premiada de Nestor Cerveró, que ensejaram sua prisão, e jamais participou de qualquer reunião", afirmam os advogados de Esteves.

    O nome do banqueiro, diz a defesa, foi usado pelo senador para dar credibilidade à oferta de dinheiro.

    A peça nega que Esteves tenha se reunido com o filho e o advogado de Cerveró e apresenta imagens da câmera do banco para comprovar isso. Também refuta que o banqueiro tenha enviado por celular uma cópia da delação de Cerveró a Bernando.

    Assinam o pedido de revogação da prisão o ex-ministro do Supremo Sepúlveda Pertence, Antônio Carlos de Almeida Castro e Sônia Ráo.

    O trio rebate todas as acusações feitas pela Procuradoria-Geral da República contra o banqueiro. Segundo a defesa, Esteves não participou e nunca esteve na sede de uma empresa do grupo BTG, a qual foi acusada de pagar propina ao senador Fernando Collor (PTB-AL) para que uma rede de postos do banqueiro passasse a operar com a bandeira da BR Distribuidora. Collor também nega.

    Os advogados classificam de "conteúdo absolutamente mentiroso" um papel encontrado com o chefe de gabinete de Delcídio, segundo o qual o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) teria recebido R$ 45 milhões de Esteves para aprovar a medida provisória 608, que trata de créditos tributários de bancos que quebraram.

    Para a defesa, a medida não trouxe benefício ao BTG, já que o crédito tributário só poderia ser usado para compras de bancos feitas após 1º de janeiro de 2014. O BTG comprou a parte podre do Bamerindus em janeiro de 2013.

    Os advogados refutam também que Esteves tenha sido beneficiado pela compra de 50% da um braço da Petrobras na África, a Petro África, por US$ 1,525 bilhão.

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