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    Eduardo Cunha vendeu emissora de rádio sem ter o aval de ministério

    RICARDO MENDONÇA
    EDITOR-ADJUNTO DE "PODER"

    18/12/2015 12h00 - Atualizado às 23h45

    Pedro Ladeira/Folhapress
    O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), fala com a imprensa sobre a decisão da maioria dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o rito do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff
    Eduardo Cunha fala com a imprensa sobre decisão do STF sobre rito do impeachment de Dilma

    O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vendeu uma emissora de rádio no Estado de Pernambuco sem ter o aval obrigatório do Ministério das Comunicações para tal.

    Segundo o próprio Cunha, sua parte na empresa Rádio Satélite Ltda foi vendida em 2007, negócio declarado no Imposto de Renda. A informação sobre venda foi divulgada pela revista "Época" no último fim de semana e confirmada pela assessoria de Cunha à Folha.

    O Ministério das Comunicações, porém, afirmou na quarta (16) que Eduardo Cunha jamais recebeu autorização para fazer qualquer alteração contratual na empresa.

    Segundo a pasta, um pedido de transferência da outorga da Rádio Satélite foi protocolado em abril de 2011 –quatro anos depois da data em que o peemedebista afirma ter feito a transação. Mas a autorização solicitada não foi deferida. Continua sob análise, informou.

    No pedido de transferência, a Rádio Satélite passaria para as mãos de Romildo Ribeiro Soares e Victor Soares Marques Ferreira.

    O primeiro é o conhecido missionário evangélico R. R. Soares, fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus. O segundo é apresentado nem sites evangélicos como pastor e líder da denominação em Pernambuco.

    Nos registros do Ministério das Comunicações e da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), a emissora continua em nome de Eduardo Cunha e de outros dois sócios, em partes iguais.

    Um deles é o pastor Everaldo Pereira, membro da Assembleia de Deus ministério Madureira, político que disputou a Presidência da República pelo PSC no ano passado e terminou em quinto lugar com 0,75% dos votos.

    O outro sócio de Cunha nos registros oficiais é o ex-deputado federal Francisco Silva (PPB-RJ, atual PP), empresário dono da rádio evangélica Melodia FM, no Rio, e ex-fabricante dos famosos comprimidos Atalaia Jurubeba (para fígado).

    Foi Silva quem introduziu Cunha no mundo evangélico, quando o peemedebista aderiu à igreja Sara Nossa Terra –no ano passado, Cunha migrou para a Assembleia.

    Foi Silva também quem abriu as portas do governo Anthony Garotinho ao atual presidente da Câmara no fim dos anos 90. Hoje, Cunha e Garotinho são rompidos.

    Na terça (15), o Ministério Público Federal no Rio recebeu uma representação assinada por diversas entidades pedindo investigação sobre a situação de Eduardo Cunha na Rádio Satélite.

    Os autores –Intervozes, Artigo 19 e Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), entre outros– ­sustentam que há irregularidade na situação do presidente da Câmara em qualquer que tenha sido sua conduta.

    Se transferiu a rádio a terceiros, dizem, Cunha violou a Constituição por negociar a outorga de um serviço público; afrontou a norma da impessoalidade, por ter escolhido um novo titular para a emissora segundo sua própria conveniência; e gerou prejuízo aos cofres públicos, por impedir a realização de uma nova licitação.

    O caso, sustentam, enseja enriquecimento ilícito.

    Mas se Cunha não vendeu a rádio e, conforme os registros oficiais, continua sócio da empresa, a violação é ao artigo 54 da Constituição, afirmam. Trata-se do dispositivo que proíbe deputados e senadores de serem donos de emissoras de rádio e TV.

    O próprio Ministério Público Federal já desencadeou uma série de 40 ações civis públicas contra congressistas que estão nessa situação, conforme mostrou a Folha em novembro. Entre os alvos estão senadores como Aécio Neves (PSDB-MG), Fernando Collor de Mello (PTB-AL), Jader Barbalho (PMDB-PA) e José Agripino Maia (DEM-RN).

    OUTRO LADO

    A assessoria de imprensa de Cunha afirmou que consultou o peemedebista sobre a inexistência de autorização para a venda da Rádio Satélite Ltda, mas o parlamentar apenas repetiu que fez o negócio há alguns anos e que a transação foi devidamente declarada em seu Imposto de Renda.

    O Ministério das Comunicações, que afirma manter sob estudo um pedido de transferência de outorga da Rádio Satélite feito em 2011, afirmou que a legislação não estabelece prazo para proceder análise dessa natureza.

    Responsável pela fiscalização do setor, a pasta afirmou ainda que, comprovada a transferência irregular da emissora, um procedimento formal de apuração deve ser instalado, podendo resultar em aplicação de multa, suspensão ou cassação da outorga da rádio.

    R. R. Soares não foi encontrado para comentar.

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