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    o impeachment

    Análise

    PMDB de hoje lembra PT imaturo da primeira derrota de Lula

    FÁBIO ZANINI
    EDITOR DE "PODER"

    18/12/2015 13h30

    Por um momento, o PMDB pareceu uma alternativa madura a um governo caótico. Na figura do constitucionalista Michel Temer, exibia um estadista que seria um sopro de estabilidade.

    O partido, para surpresa de todos, até começou a discutir ideias. Temer iniciou uma turnê para vender seu "Uma Ponte para o Futuro", um compêndio de princípios de viés liberal, e Renan Calheiros patrocinou seu "Agenda Brasil", menos comentado.

    A perspectiva de chegar ao poder pela primeira vez em um quarto de século, no entanto, teve o efeito contrário do que se poderia imaginar. Nas últimas duas semanas, o PMDB voltou a ser o que sempre foi: um partido de caciques que se devoram em frases ácidas e rasteiras.

    A legenda, ao que parece, terá dificuldade em se acostumar a um novo papel, caso o impeachment realmente se concretize. São 25 anos, afinal, negociando apoios a PT e PSDB sem precisar do ônus de ser governo.

    A carta de Temer a Dilma foi espantosa não apenas pelo tom adolescente, mas por ser uma choradeira em defesa de apadrinhados políticos e outras questões da pequena política. Em minutos, o vice nos lembrou que, no fundo, é apenas um peemedebista.

    A língua ferina de Renan Calheiros, que andava dormente, ressurgiu com força. Acuado pela marcha das denúncias e cioso de manter seu espaço interno num momento em que Temer parece preparar o terno da posse, Renan sacou arsenal de impropérios contra o vice. Até a expressão "mordomo de filme de terror", eternizada por ACM, ressurgiu.

    Por fim, a corrida por assinaturas na bancada da Câmara dos Deputados para líder fazer o governista Leonardo Picciani ou o opositor Leonardo Quintão lembra os piores momentos do PT.

    A comparação com os petistas, aliás, seria apropriada, já que é a esse partido que o PMDB busca se apresentar como novidade.

    O PT passou suas duas primeiras décadas consumido por uma guerra civil sem fim, apaziguada apenas quando José Dirceu, com mão de ferro, assumiu a presidência do partido em 1995. Com o aval de Lula, determinou que o programa e a imagem da legenda sofreriam uma recauchutagem. A contratação do publicitário Duda Mendonça, em 2000, e a Carta ao Povo Brasileiro, em 2002, foram outros marcos deste processo de tornar o PT palatável e eleitoralmente viável.

    O PMDB de hoje lembra o PT de 1989, ano da primeira derrota presidencial de Lula, em que claramente era um partido imaturo para o poder. Certamente não parece o de 2002, quando o petista, em sua quarta tentativa, finalmente chegou ao Planalto.

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