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    o impeachment

    Nomes secundários operavam propina, afirmam delatores

    RUBENS VALENTE
    MARCIO FALCÃO
    DE BRASÍLIA

    21/12/2015 02h00 - Atualizado às 11h57

    Um empresário acusado por uma CPI de grilagem de terras na Amazônia, um publicitário envolvido no caso que levou à cassação do governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (ex-DEM), o tesoureiro nacional do Solidariedade, um advogado e dois anônimos.

    Esses personagens foram apontados por delatores da Operação Lava Jato como operadores da propina que abasteceu senadores e partidos políticos em Brasília.

    Fechadas entre abril e maio com o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria Geral da República e tornadas públicas nas últimas semanas, as delações do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, e do lobista Fernando Soares, o Baiano, expõem essa rede.

    Segundo eles, boa parte da propina a políticos passou pelas mãos do empresário André Serwy, ligado ao senador Edison Lobão (PMDB-MA); do marqueteiro Paulo César Roxo Ramos, vinculado ao ex-senador Gim Argello (PTB-DF); do tesoureiro do Solidariedade, Luciano Araújo, e de um escritório de advocacia que teria recebido dinheiro destinado ao senador Ciro Nogueira (PP-PI).

    Foram citados ainda um homem identificado como Felipe Parente, vinculado ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, e outro chamado apenas de "Godinho", que teria recebido US$ 1 milhão em nome do senador Delcídio do Amaral (PT-MS).

    Sobre o papel do tesoureiro do Solidariedade, o dono da UTC o associou ao advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União, Aroldo Cedraz.

    Segundo Pessoa, Tiago detinha informações de interesse da empreiteira sobre a tramitação, no TCU, do processo relativo à construção da usina nuclear Angra 3.

    Aos investigadores, Pessoa relatou que Tiago lhe pediu R$ 1 milhão -pagos por meio do tesoureiro Luciano Araújo, que também ia buscar R$ 50 mil todo mês na UTC.

    Em 2014, Pessoa disse ter pago R$ 5 milhões para evitar ser chamado à CPI da Petrobras a Argello, então vice-presidente da investigação. O ex-senador, segundo ele, indicou o marqueteiro Paulo Roxo para dar destino ao dinheiro.

    Em 2009, Roxo foi citado por outro delator, Durval Barbosa, como operador do esquema do mensalão do DEM, que levou à cassação de José Roberto Arruda.

    Pessoa também relatou ter pago R$ 1 milhão ao senador Edison Lobão (PMDB-MA) por meio do empresário André Serwy, filho de um amigo do peemedebista —pai e filho foram citados em 2001 em CPI que investigou grilagem de terras na Amazônia.

    Os homens da mala

    OUTRO LADO

    Descritos por Pessoa e Baiano como operadores de propina negaram irregularidades.

    O advogado Fernando de Oliveira Hughes Filho disse que prestou serviços à UTC e que não conhece nem trabalhou para o senador Ciro Nogueira. O advogado de Hughes, Daniel Gerber, disse em petição ao STF que "o fato é que ele [Pessoa] se equivocou nos termos de seu depoimento –algo absolutamente natural a quem manteve centenas de negociações simultâneas sob seu comando". O advogado sugere que seria outro "Fernando" o recebedor da propina.

    Na quarta-feira (9), Paulo Roxo negou por telefone envolvimento em quaisquer irregularidades. Disse que estava em viagem, mas que poderia falar com a Folha após seu regresso a Brasília.

    Gim Argello conversou com a Folha pelo telefone rapidamente, disse que estava em uma reunião e que daria um retorno à ligação, mas isso não ocorreu.

    A assessoria de Tiago Cedraz informou, em nota, que ele "nunca patrocinou nenhum caso do grupo UTC perante o TCU". A respeito do consórcio que atuou na construção de Angra 3, a assessoria informou que "por força da confidencialidade cliente/advogado limita-se a esclarecer que no caso em que atuou o cliente não figurou como parte perante o TCU".

    O Solidariedade informou que todas as doações recebidas pelo partido, de qualquer empresa ou pessoa física, "são oficiais e declaradas na prestação de contas do partido". Luciano Araújo não retornou às ligações da reportagem.

    Em nota, Ciro Nogueira disse que as acusações de Pessoa "são totalmente infundadas, sem base em qualquer prova". "Não conheço o advogado citado e jamais mantive contato com o escritório mencionado. Confio plenamente que, ao final desse processo, a verdade virá à tona, corrigindo a injustiça de que estou sendo vítima."

    O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende o senador Lobão, disse que seu cliente não pediu nem recebeu qualquer propina de Pessoa. Ele reconheceu que há "uma relação de amizade" com André Serwy, mas o senador "não pode responder por atos de outras pessoas, se é que ocorreram".

    O pai de André Serwy, Aloysio, confirmou que é amigo de Lobão "há mais de 40 anos", mas negou ter conhecimento de contatos de seu filho com Pessoa a mando do senador. Ele disse que não poderia fornecer os contatos telefônicos de André, que não foi localizado. Aloyzio disse que não possui nenhuma empresa e que é aposentado.

    A Folha não localizou a assessoria de imprensa do senador Delcídio do Amaral nem sua defesa. Antes de ser preso em desdobramento da Lava Jato, o petista informou, por meio de nota, que foi apresentado ao lobista Fernando Baiano "na década de 90 pelo empresário Gregório Marin Preciado, e, depois dessa época, nunca mais o vi nem tive nenhum tipo de contato com o mesmo".

    Ele negou envolvimento com os desvios.

    A reportagem não encontrou o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e não conseguir confirmar a identidade das pessoas identificadas apenas como "Felipe Parente" e "Godinho".

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