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    Lava Jato

    Lesão por squash levou Pedro Barusco, hoje delator na Lava Jato, ao crime

    BRUNA FANTTI
    DO RIO

    22/12/2015 12h00

    Pedro Ladeira - 10.mar.15/Folhapress
    O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, durante CPI da estatal na Câmara dos Deputados
    O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, durante CPI da estatal na Câmara dos Deputados

    Um acidente durante uma partida de squash sofrido em 1995 deixou sequelas permanentes em Pedro Barusco, ex-gerente de Engenharia da Petrobras. E não foram só sequelas físicas.

    No jogo, ele fraturou a bacia esquerda. Passados três anos, as dores ainda eram persistentes e um tratamento nos Estados Unidos se tornou necessário. Foi então que o lobista Júlio Faerman, representante comercial da SBM, se ofereceu para acompanhar Barusco na viagem.

    Durante a convalescença, o funcionário de 19 anos de carreira concordou em aceitar sua primeira propina. Quase 20 anos depois, o esquema que teve origem nesta propina fez de Barusco um dos delatores do maior esquema de corrupção envolvendo a principal empresa publica do país, a Petrobras.

    O relato consta da delação premiada por Barusco ao Ministério Público Federal do Rio, em 2014, que durou oito horas e meia.

    A procuradoria ofereceu denúncia contra 13 pessoas na última quinta-feira (17) sob acusação de participação em esquema que desviou US$ 42 milhões da estatal, e envolvia contratos irregulares entre a Petrobras e a holandesa SBM Offshore.

    INTIMIDADE

    Na delação, Barusco afirma que conheceu o lobista durante o projeto para a construção de um navio-plataforma da estatal, em 1996. A partir de então, ele e Faerman começaram uma relação de convívio que iria além do campo profissional, tendo ambos inclusive viajado com seus familiares para a região serrana do Rio.

    A intimidade entre os dois fez com que Faerman se oferecesse para acompanhar Barusco no tratamento médico na Universidade de Columbia, em Nova York. Na época, o navio-plataforma Espardate, localizado na Bacia de Campos, estava em desenvolvimento na Petrobras.

    Segundo Barusco, por esse projeto, ele aceitou receber sua primeira "comissão" da SBM, em 1998.

    Ao MPF, Barusco afirmou "que nesse período de viagem, em conversa com o sr. Faerman, sem que o depoente [Barusco] possa precisar quem teve iniciativa, estabeleceu-se que o depoente receberia uma comissão por aquele contrato da SBM com a Petrobras, iniciando assim esse relacionamento ilícito".

    Para tranquilizá-lo, Faerman afirmou que funcionários "mais graduados" também recebiam propina.

    NATURAL

    Para o contrato do navio Espardate, Barusco afirmou que "não foi preciso fazer nada de errado" e que Faerman "apostou no relacionamento com ele ante as perspectivas de novos contratos a serem relacionados". Inicialmente, Barusco recebeu US$ 5.000 mensais, ao longo do contrato de sete anos.

    "Ninguém aceita propina de cara. O corruptor se aproxima aos poucos. Oferece um jantar, um convite, uma viagem, ganha a confiança, a amizade. E faz uma propina de milhões parecer algo natural", afirmou à Folha o procurador Renato Oliveira, um dos que assina a denúncia.

    Faerman, então, orientou Barusco a abrir uma conta na Suíça -que tinha a mesma gerente de contas de outros funcionários da Petrobras como dos ex-diretores Renato Duque e Jorge Zelada, ambos investigados na Lava-Jato.

    Barusco enumerou na delação ao menos sete contratos com a SBM. Mas afirmou que a propina paga por Faerman "não era em troca de algum ato específico dele, mas sim de uma genérica boa vontade com a empresa".

    As sequelas de locomoção provocadas pelo acidente no squash há dez anos pioraram, e Barusco desenvolveu um câncer ósseo. Esse foi o motivo alegado pela defesa do ex-funcionário para que ele faltasse à CPI da Petrobras, em julho deste ano, em que seria feita a acareação com Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, e com o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.

    Em seu acerto de colaboração com a Justiça, Barusco se comprometeu a devolver US$ 97 milhões desviados da Petrobras, um dos valores mais altos resultantes de acordos na Lava Jato até agora.

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