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    o impeachment

    Ex-ministro da Justiça, Tarso Genro critica 'midiatização do direito penal'

    CATIA SEABRA
    DE SÃO PAULO

    05/01/2016 16h56

    Sérgio Lima/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, BRASIL, 10-09-2013: Tarso Genro, governador do estado do RS, durante entrevista ao programa "Poder e Política" do jornal Folha de S.Paulo, em Brasília (DF). (Foto: Sérgio Lima/Folhapress)
    O ex-ministro Tarso Genro, que defendeu José Eduardo Cardozo e criticou 'midiatização do direito'

    O ex-ministro da Justiça Tarso Genro (2007-2010) criticou o que chama de "midiatização do direito do penal" no país. Segundo o petista, existe uma "espetacularização das ações policiais e das decisões do Judiciário".

    Tarso defende ainda a permanência do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no cargo. Na opinião dele, Cardozo está cumprindo seu trabalho "dentro das condições políticas que o governo lhe oferece".

    O político afirma ainda que existe um "cerco nitidamente dirigido contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva". Para ele, esse "é um exemplo de instrumentalização política dos procedimentos policiais e judiciais".

    "Não porque são feitos contra Lula, mas porque discriminam Lula e não investigam, por exemplo, o governo Fernando Henrique [1995-2002], quando se sabe das origens do sistema de corrupção que vinha minando a Petrobrás".

    Ele diz não acreditar, no entanto, que Lula —de quem é amigo— esteja exigindo a saída de Cardozo.

    "Não creio que Lula demande a substituição de Cardozo nem penso que ele deva ser mudado. Em momentos de tensão política radical, como o que vivemos, no qual o Legislativo, pelas suas maiorias, é omisso em relação aos verdadeiros problemas do país, o protagonismo do Ministério Público e dos juízes, em geral, incendeia imaginações, como se por uma simples mudança de ministro ou ministros, a esfera política pudesse voltar a sua normalidade medíocre", disse Tarso.

    Ainda segundo Tarso, "as ações do Ministério Público e dos juízes estão carregadas de ânimo político, alterando rituais e processamentos históricos, baseados no garantismo, para promover uma persecução penal que tem claros objetivos de incriminar uma parte da elite política e livrar outra parte".

    O ex-ministro da Justiça ressalta, porém, que "tudo acontece dentro do Estado de Direito e com o funcionamento normal das instituições, o que deve ser saudado".

    Apesar dessa avaliação, ele diz ainda que "excessos e deformações" devem ser corrigidos.

    "Aponto como deformidade gritante a 'midiatização' do direito penal, que gera uma espetacularização das ações policiais e das decisões do Judiciário —sem trânsito em julgado—, que vem definindo os rumos políticos do país e transformando o Tribunal Privado da Imprensa em instância inapelável de condenação e absolvição de pessoas".

    Tarso diz que essa "espetacularização" pode promover injustiças e, "ao final, gerar um cansaço de expectativas, que leva à inércia da sociedade e ao conformismo com a corrupção".

    Segundo Tarso, "compete às lideranças políticas sérias do país, de todos os partidos que prezam a democracia, separar o joio do trigo, combatendo as deformações persecutórias, que certamente estão sendo feitas em determinados processos".

    Ao falar de Cardozo, Tarso lembra que a Polícia Federal está sob controle do Ministério Público Federal. E diz que "quem acha que o ministro Cardozo poderia orientar ou mudar o rumo inquéritos, para proteger ou ajudar A ou B, na verdade defende que a a Polícia Federal poderia ser aparelhada, para não cumprir funções de Estado e assim cumprir desejos políticos de um Governo".

    Segundo Tarso, o "ministro não pode interferir, para "substituir" ou "glosar" determinações legais, originárias do Ministério Público ou do Judiciário, mesmo que ele conclua que elas não são convenientes para o devido processo legal".

    Ao falar de sua experiência à frente do Ministério da Justiça, de 2007 a 2010, Tarso diz que "nenhum ministro da Justiça pode chamar de 'pressões' demandas que venham da esfera política, pois esse é um ministério político".

    "O que eu fazia como ministro? Quando alguém se dizia 'perseguido' pela Polícia Federal eu me inteirava dos fatos, e quase sempre constatava que se tratava de alguma diligência ou ação da PF, solicitada pelo Ministério Público. O caso seria, então, para um advogado e não para o ministro da Justiça. De qualquer forma, para tomar alguma medida junto à Corregedoria ou à direção da PF, quando alguém poderia realmente estar sendo perseguido ilegalmente, por rixas políticas locais, eu solicitava que fizessem a demanda por escrito, para que eu pudesse colocar as coisas no leito institucional formal. Poucos voltavam, por escrito... O que me fazia concluir, que não era bem uma queixa de perseguição, que era apresentada, mas um pedido de sustentação de uma das versões, no caso em inquérito."

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