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    Lava Jato

    Conversas de empreiteiro mostram agendamento de viagens para Lula

    AGUIRRE TALENTO
    MÁRCIO FALCÃO
    DE BRASÍLIA
    PAULO GAMA
    DO PAINEL, EM BRASÍLIA

    07/01/2016 14h42

    Ed Ferreira - 26.mai.15/Folhapress
    O presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, Léo Pinheiro, em depoimento à CPI da Petrobras
    O presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, em depoimento à CPI da Petrobras

    Mencionando mais de 20 políticos, de ministros a parlamentares, as mensagens do celular do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro interceptadas pela Polícia Federal indicam o agendamento de viagens para o ex-presidente Lula, citações ao ministro-chefe da Casa Civil Jaques Wagner (PT) e encontros com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

    A Polícia Federal encaminhou um relatório de cerca de 600 páginas à Procuradoria-Geral da República sobre os principais achados nas mensagens telefônicas de Léo Pinheiro, que mantinha proximidade com políticos do alto escalão da República.

    Mensagens citando Wagner, o presidente da Petrobras Aldemir Bendine e o prefeito de São Paulo Fernando Haddad foram reveladas nesta quinta-feira (7) pelo jornal "O Estado de S. Paulo". A Folha teve acesso a mensagens citando Lula, Wagner, Renan e o ministro Edinho Silva (Comunicação Social).

    Em relação a Lula, citado nas mensagens como "Brahma" segundo a Polícia Federal, Léo Pinheiro conversa com seus funcionários para decidir viagens do ex-presidente ao exterior e cita a ajuda dele em obras.

    Uma das mensagens do empreiteiro diz que "o Brahma quer fazer a palestra" entre os dias 24 e 26 de novembro de 2013 em Santiago. Já no dia 25 daquele mesmo mês, um funcionário do empreiteiro lhe envia uma mensagem indicando a disponibilização de um avião para Lula ir ao Chile.

    "Leo, colocamos o avião à disposição de Lula para sair amanhã ao meio-dia. Seria bom você checar com Paulo Okamotto [presidente do Instituto Lula] se é conveniente irmos no mesmo avião", diz a mensagem, cujo remetente foi César Uzeda, segundo a PF, que foi executivo da OAS na área internacional.

    Ainda sobre o Chile, Léo Pinheiro diz a um funcionário que Lula estava "procurando saber" de obras que a OAS tocava no país, sem explicar o motivo.

    O ex-presidente da OAS também manda uma mensagem para Uzeda em 7 de janeiro de 2014 afirmando que Lula "poderá ir ao Uruguai agora em janeiro ou início de fevereiro. Veja com Diego quando seria melhor".

    JAQUES WAGNER

    Já Jaques Wagner, segundo o jornal "O Estado de S. Paulo", trocou mensagens com Léo Pinheiro que indicavam sua atuação a favor da empreiteira OAS. Também há suspeita de negociação de apoio financeiro ao candidato petista à Prefeitura de Salvador em 2012, Nelson Pellegrino.

    Segundo a publicação, em 2014 Léo Pinheiro pede ajuda a Wagner para falar com o então ministro dos Transportes para "liberar o recurso no valor de R$ 41,760 milhões" referente a um convênio assinado em 2013. "Ok, vou fazê-lo abs domingo vamos ganhar com certeza", respondeu Jaques Wagner.

    A Folha também teve acesso a uma mensagem de Léo Pinheiro na qual, segundo a PF, ele indica "centros de custo" relacionados a Wagner e obras na Bahia. "JW e CD. Centro de Custo. 45% Fonte Nova. 45% Bahia Norte. 10% Via Expressa", envia Léo Pinheiro a um funcionário.

    RENAN CALHEIROS

    As mensagens no período entre 2012 e 2014 mostram ainda ao menos seis pedidos para encontros com o presidente do Senado, Renan Calheiros, segundo a PF.

    Em 13 de setembro de 2013, Léo Pinheiro recebe uma mensagem de seu funcionário dizendo: "Dr. Alexandre Grangeiro agendou uma reunião com dr. Renan na residência dele domingo às 11h".

    Em um outro diálogo, o empreiteiro sugere que Renan engavetou um projeto, mas não dá mais detalhes.

    Em uma mensagem ao próprio Edinho, à época tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff, Leo Pinheiro o informa sobre um cronograma de doações, com três datas e o número cinco. A empresa realizou quatro doações de R$ 5 milhões à campanha de Dilma em 2014.

    Sobre Aldemir Bendine, segundo o jornal "O Estado de S. Paulo", ele negociou com a OAS, quando ainda era presidente do Banco do Brasil, a aquisição de debêntures (títulos da dívida) da empreiteira. As mensagens indicam que em outubro de 2014 Bendine esteve com Pinheiro e outro dirigente da OAS para tratar dos títulos.

    "O Dida marcou às 18h30. Terei de ir com 'ACMP', pois temos a nova debênture, que é vital", afirmou Pinheiro.

    OUTRO LADO

    A assessoria do Instituto Lula disse que não teve acesso a esse relatório da Polícia Federal e não vai se manifestar sobre vazamento seletivo e ilegal de informações.

    Em nota divulgada no início da tarde desta quinta, o ministro Jaques Wagner afirmou "estar absolutamente tranquilo quanto a minha atividade política institucional, exclusivamente baseada na defesa dos interesses do Estado da Bahia e do Brasil".

    Wagner se colocou à disposição do Ministério Público e e demais órgãos competentes para quaisquer esclarecimento e criticou vazamentos. "Em tempo, manifesto meu repúdio à reiterada prática de vazamentos de informações preliminares e inconsistentes, que não contribuem para andamento das apurações e do devido processo legal."

    Edinho Silva afirmou, em nota no seu blog, que todas as doações para a campanha de Dilma foram legais e que manteve relações políticas com empresários "de forma transparente e dentro da legalidade". "É impossível alguém que ocupe cargo público deixe de dialogar com representantes da sociedade civil, inclusive empresários."

    Em nota, a assessoria de Bendine chamou as suspeitas de "ilações", e disse que "a transação não foi sequer realizada".

    O texto afirma ainda que "todas as propostas apresentadas por clientes a Bendine durante sua gestão no Banco do Brasil tiveram tratamento absolutamente técnico, seguindo as diretrizes corporativas da instituição".

    A assessoria informou que "a conduta pessoal" do executivo "nunca recebeu nenhum tipo de questionamento da força-tarefa da Operação Lava Jato" e que há colaboração da gestão de dele com as investigações do esquema que atuou na estatal.

    A assessoria do Banco do Brasil confirma que recebeu a oferta de debêntures da OAS, mas informa que a operação não se concretizou. "O Banco do Brasil informa que o recebimento e a análise de propostas de negócios enviadas por grandes empresas é uma atividade rotineira. Todas as propostas recebidas são analisadas de acordo com critérios técnicos e a aprovação cabe a instâncias colegiadas. No caso da proposta comercial citada, o Banco do Brasil informa que a mesma foi recebida, analisada, mas não foi contratada."

    A Folha não obteve retorno da assessoria de Renan.

    Infográfico: As mensagens do empreiteiro

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