• Poder

    Thursday, 02-May-2024 17:36:50 -03

    Lava Jato

    Cerveró diz que Renan Calheiros reclamou da falta de propina

    RUBENS VALENTE
    AGUIRRE TALENTO
    MÁRCIO FALCÃO
    DE BRASÍLIA

    12/01/2016 01h30 - Atualizado às 19h32

    Pedro Ladeira - 30.abr.15/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 30-04-2015, 12h00: O presidente do Senado senador Renan Calheiros (PMDB-AL) durante reunião da mesa diretora do senado. Renan fez críticas à Dilma e ao governo e propôs alterações na legislação para favorecer a criação de empregos. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
    Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado

    Pela primeira vez, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi acusado de ter tratado pessoalmente, sem intermediários, de suposto repasse de propina proveniente da Petrobras.

    Segundo afirmou em delação premiada o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, em 2012 Renan "reclamou da falta de repasse de propina" por parte do delator.

    Em depoimento prestado em 7 de dezembro, Cerveró relatou duas reuniões com a participação do peemedebista nas quais o tema da propina foi discutido.

    Numa delas, em 2009, segundo Cerveró, estavam presentes, além do senador alagoano, o então presidente da BR Distribuidora, José Lima de Andrade Neto, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e um "representante" do senador Fernando Collor (PTB-AL), o ex-ministro Pedro Paulo Leoni Ramos.

    De acordo com Cerveró, no encontro, ocorrido no hotel Copacabana Palace, no Rio, o presidente da BR teria afirmado que a compra de álcool, o aluguel de caminhões para transportar combustível e a construção de bases de distribuição de combustíveis "seriam os negócios que poderiam render propina mais substancial na BR Distribuidora".

    Segundo Cerveró, na ocasião, Andrade Neto "se disponibilizou a ajudar os políticos interessados".

    O segundo encontro com Renan, conforme o ex-diretor da Petrobras, ocorreu no ano de 2012, quando o senador o teria chamado, em seu gabinete, para reclamar da falta de repasses de propina.

    De acordo com o diálogo citado por Cerveró, o então diretor teria dito a Renan que não estava arrecadando propina na BR Distribuidora. Ao saber disso, "Renan Calheiros disse que a partir de então deixava de prestar apoio político" a Cerveró –que, contudo, na época permaneceu no cargo de diretor financeiro e de serviços da BR.

    Renan já é investigado em seis inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal) sob a suspeita de recebimento de propina de negócios relacionados à Petrobras.

    Em dezembro passado, a Folha revelou que o ex-diretor da Petrobras disse, em um dos termos de sua delação premiada, que pagou US$ 6 milhões em propina a Renan e ao senador Jader Barbalho (PMDB-PA).

    Delcídio recebeu outros US$ 2 milhões, conforme o delator.

    'ACERTO GERAL'

    De acordo com Cerveró, políticos e diretores da BR Distribuidora fizeram uma reunião no Rio de Janeiro em 2010, após as eleições, para um "acerto geral" da propina que seria distribuída a partir dos contratos da subsidiária da Petrobras.

    Cerveró contou que a reunião foi convocada pelo senador Delcídio, o então deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP) e Pedro Paulo Leoni Ramos. Também teriam participado os diretores da BR Andurte de Barros Duarte Filho, José Zonis e Luiz Cláudio Caseira Sanches, além de Cerveró.

    O ex-diretor disse que o encontro ocorreu no hotel Leme Palace. Ao final, "ficou acertado" que Duarte Filho, "por meio da Diretoria de Mercado Consumidor, arrecadaria propina destinada à bancada do PT na Câmara dos Deputados".

    De acordo com Cerveró, o dinheiro seria destinado "especialmente aos deputados federais Cândido Vaccarezza, Vander Loubet [MS], José Mentor [SP], André Vargas [PR] e Jilmar Tatto [SP]".

    Segundo o ex-diretor da Petrobras, esses pagamentos ocorriam "sem atuação de operadores".

    Zonis e Sanches, sempre segundo o delator, arrecadariam propina em favor de Collor, por meio de Leoni Ramos.

    A atribuição de Cerveró na diretoria financeira e de serviços da BR, segundo o delator, seria arrecadar propina para Delcídio e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), além de atender "solicitações" de Collor e do petista Vaccarezza.

    O delator contou ainda que ocorreram "reuniões periódicas, mensais ou bimestrais", de 2010 a 2013, com Leoni Ramos, Zonis e Delcídio no hotel Copacabana Palace, também no Rio, "para tratar de recebimento e repasse de propinas na BR Distribuidora".

    OUTRO LADO

    O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) informou, por sua assessoria de imprensa, que "nega as imputações e esclarece que já prestou as informações requeridas". O peemedebista nega ainda ter participado das reuniões citadas por Cerveró.

    Em depoimento prestado anteriormente à Polícia Federal, Renan negou ter apadrinhado a indicação de Cerveró à diretoria Internacional da Petrobras e afirmou não ter proximidade com ele.

    Renan declarou à PF que esteve "duas ou três vezes" com Cerveró para tratar de assuntos "institucionais".

    Anteriormente, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) disse que não recebeu "nenhum centavo" e que nunca conversou com Cerveró. Disse que o ex-diretor estava "desesperado e estimulado pelos investigadores para fazer a delação para incluir o maior número de políticos".

    O deputado José Mentor (PT-SP) disse que não teve ciência dessa reunião, que não conhecia Cerveró e não sabia de propina da BR destinada à bancada do PT. O atual secretário de Transportes da Prefeitura de São Paulo Jilmar Tatto (PT) disse que não soube do encontro, não conheceu Cerveró e não recebeu recursos da Petrobras.

    As assessorias ou advogados do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), do ex-deputado André Vargas e do empresário Pedro Paulo Leoni Ramos não comentaram.

    Os ex-diretores e o ex-presidente da BR Distribuidora não foram localizados para comentar. Antes, José Zonis disse que não foi indicado por Collor e negou fazer parte do esquema de desvio de recursos.

    O ex-deputado Vaccarezza negou, em mensagem à Folha, "ter feito qualquer reunião com Cerveró para discutir pagamento de qualquer espécie à bancada do PT". "Eu não estive nesta reunião, se houve", afirmou Vaccarezza.

    O deputado federal Vander Loubet (PT-MS) informou que não iria fazer comentários porque não teve acesso aos documentos.

    A Folha não localizou a defesa do senador Fernando Collor (PTB-AL), que tem negado o recebimento de propina.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024