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    o impeachment

    Governo e Procuradoria agem juntos contra mim, afirma Cunha

    DANIELA LIMA
    PAULO GAMA
    ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

    16/01/2016 16h00

    O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), diz que seu maior algoz, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, "trabalha em conjunto" com o governo Dilma Rousseff para atacá-lo.

    O peemedebista afirma que o chefe do Ministério Público Federal está confundindo o "papel de acusador com o de militante político" e ironiza a consistência da ação em que o PGR pede seu afastamento do comando da Câmara. "É risível", avalia.

    Pressionado por acusações de envolvimento na Lava Jato, Cunha falou com a reportagem da Folha por mais de duas horas em seu escritório político, no centro do Rio de Janeiro. Disse que não tem medo de ser preso.

    *

    Folha - Como o sr. vê a possibilidade de ser afastado pelo Supremo?

    Eduardo Cunha - Não vejo essa possibilidade. A peça que o procurador-geral protocolou é teatral. Tem 11 atos. Vou rebater um a um. Chega a ser esdrúxulo. Ele cita, por exemplo, projeto de um deputado que trata de mudanças na lei da delação. Diz que foi feito com o objetivo de evitar que um delator pudesse mudar o depoimento e me beneficiar. Esse depoimento foi em 10 de junho, tornou-se público 17 de julho. O procurador fez a denúncia contra mim no dia 20 de agosto. O projeto foi protocolado dia 25 de agosto. É posterior, portanto, até à denúncia. Se isso vai ser motivo de afastamento, chega a ser risível.

    Considera a peça frágil?

    Prefiro descaracterizar o que estão colocando do que ficar com adjetivos. Ele diz que cobrei o pagamento de R$ 1,5 milhão e R$ 400 mil. Aí transcreve uma série de diálogos. Quando você pega o relatório de mensagens de [trocadas por] Léo Pinheiro [ex-presidente da OAS], essa fala está dentro do roteiro daquilo que é atribuído ao ministro Jaques Wagner. Uma contribuição da campanha da Bahia se transformou em cobrança minha.

    Mensagens de Léo Pinheiro sugerem que empresas escreviam suas emendas...

    Todas as MPs que são citadas por ele [Janot], em nenhuma delas eu tenho emenda ou participação. A única MP da qual fui relator foi a 627.

    A Procuradoria diz que o sr. colocava outros para assinar.

    O PGR diz; o diálogo, não. Fui líder do PMDB dois anos. Obviamente, até pelo meu estilo de trabalho, sempre participei de todas as discussões.

    Debater minúcias de projetos com empresários é normal?

    Qual é a minúcia? O Léo Pinheiro tratando comigo de emenda específica comigo?

    O sr. diz que não poderá incluir uma emenda, que seria preciso esperar...

    Sei exatamente o que é. Tenho tempo e boa memória. Havia uma demanda para eu colocar como emenda a antecipação do pagamento do Refis [programa de parcelamento de dívidas tributárias] dando um bônus de desconto para quem pagasse à vista. O governo não aceitou. Vários empresários sugeriram isso.

    Não é uma minúcia?

    Isso é coisa normal. Ele está colocando e eu estou dizendo que não dá. É o dia a dia normal da Câmara, com todos os setores. Debater todo mundo pode. O Parlamento é aberto.

    Nos diálogos, há pedidos insistentes de recursos para a campanha eleitoral.

    Trato de doação com muita transparência. Essa empresa [a OAS, de Léo Pinheiro] nunca me deu um centavo. Nenhuma das doações dela veio para a minha campanha. Se pedi, não era para mim. Nesse caso era uma doação para o Henrique Eduardo Alves [PMDB] ao governo do Rio Grande do Norte.

    Há um registro de movimentação financeira atípica em uma das empresas do sr., a C3.

    Sou sócio da minha mulher. Essa é uma empresa que nós paramos, basicamente não tem operação. Ela detém bens nossos. Dizem, "ah, ele comprou veículo pela empresa". Se compra veículo em nome de pessoa jurídica por uma razão simples: ninguém aguenta de ponto na carteira quando tem dez pessoas dirigindo o seu carro. Agora, não tem movimentação atípica. Obviamente, foi empréstimo dos sócios à empresa para pagar despesa.

    Dois dos carros da C3 estão em nome de Lúcio Funaro, que a PGR cita como seu operador. Qual a relação com ele?

    A relação comercial que tive foi de uma empresa de factoring. Já tive relação de mútuo [empréstimo de itens consumíveis]. Não tenho relação maior. Dizem lá que eu voei com ele. Não é verdade. Não voei com o Lúcio.

    Ele é acusado de ter ameaçado empresários, os Schahin.

    Pergunte ao Funaro. Mas é bom falar da Schahin. Mais um absurdo. Cheguei [em um almoço] e estava esse senhor, Schahin. O que ele junta é minha peça de defesa: cheguei lá, encontrei um cara que nunca tinha visto, me senti desconfortável e fui embora.

    O procurador diz que o sr. usou CPIs para pressionar os Schahin.

    Ele [Janot] cita requerimentos de pessoas que diz serem meus seguidores na CPI. Diz que é uma "organização criminosa". Se é, por que não entrou contra todo mundo? É uma organização de um só? Ele trata o chefe de um Poder como um delinquente. Nem réu eu sou. Ele está trocando o papel de acusador por militante político.

    O sr. é alvo no Conselho de Ética e é acusado de usar manobras 'espúrias' para retardar o processo.

    Se alguém tem de levantar suspeição, sou eu em relação a esse procedimento. Um partido fez um requerimento com base na Lei de Acesso à Informação e o PGR respondeu em três dias. Nunca vi isso acontecer. Entra com uma pergunta sobre procedimento da Dilma, do Lula para ver se eles vão responder. Dizem que tem mais de cem contas listadas na cooperação com a Suíça, e a única que divulgam em 24 horas é a minha? E as outras 99? Dizem que tem até do marqueteiro do governo, João Santana.

    Um aliado seu, Fábio Cleto, foi demitido da Caixa. Em seguida surgiram denúncias de que ele atuava por propina em troca da liberação de FGTS.

    Cleto foi indicado por Henrique Alves para atender a bancada como um todo. Agora, aquilo que está ali, a vice que era responsável por todas as operações, não era do PMDB, era do PT. Ele era só responsável no conselho. E não acredito em coincidência. Provavelmente foi exonerado porque eles atuam muito em conjunto, o governo e o Ministério Público. Deviam ter informação privilegiada sobre o que acontecia.

    O sr. diz que é tratado de maneira diferenciada e cita seu colega de partido Renan Calheiros como exemplo. Ainda vê a situação assim?

    Não quero fazer comparação nem acusação. É óbvio, nítido, notório que há um tratamento diferenciado em relação a mim. Tentam me usar para disfarçar a situação de outras pessoas. Não quero acusar ninguém. Ao contrário deles, que gostam de dividir bancos de réus, não quero ser réu, quero provar a minha defesa e ter o tratamento igual. Vaza um documento sobre o Jaques Wagner e o ministro da Justiça pede para apurar imediatamente. O meu vaza todo dia e ninguém fala nada. São inúmeros procedimentos, posso falar até amanhã.

    O sr. ainda não admite a renúncia como uma opção?

    De quem? Da presidente? Cabe a ela decidir, não a mim [risos].

    O sr. teve receio de ser preso?

    Por quê? Não temo nada. Acha que, do jeito que o PGR gosta de mim, se pudesse ter feito, ele já não teria?

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