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    Lava Jato

    Vaccari assumiu coordenação de propinas em 2010, diz delator

    DE CURITIBA

    22/01/2016 13h58

    O delator da Lava Jato Milton Pascowitch afirmou em depoimento em Curitiba, nesta quarta-feira (20), que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto passou a coordenar o pagamento de propinas ao partido no esquema de desvio de recursos da Petrobras no ano eleitoral de 2010, quando assumiu as finanças do PT.

    O empresário, que representava a Engevix, disse ter feito pagamentos ilícitos pessoalmente ao ex-tesoureiro na sala dele no diretório do PT em São Paulo. Os recursos em espécie eram entregues em malas de rodinha, segundo afirmou em depoimento ao juiz Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava Jato.

    Pascowitch diz que conheceu Vaccari no fim de 2009, apresentado por Renato Duque, ex-diretor da Petrobras. Na época, a Engevix havia assinado um contrato de US$ 3 bilhões com a Petrobras relacionado a cascos replicantes –unidades para produção, armazenamento e transferência de petróleo e gás.

    "Já nessa época existe diferenciação muito grande", diz o empresário a Moro. "O grupo político [nome que ele usa para se referir a quem era destinado parte da propina em contratos] já não é mais representado por José Dirceu, apesar de poder indiretamente ter participação, e passou a ser representado pelo João Vaccari."

    ELEIÇÕES

    A troca de quem "comanda" o recebimento da propina coincide com as eleições e, segundo Pascowitch, com a necessidade de se ter dinheiro imediato, em espécie, e não parcelado ao longo dos anos, como era praxe.

    No contrato dos cascos citado pelo empresário, que se desenvolveria por sete anos, "foi feito então acordo e se diminuiu esse percentual [da propina] para que ele fosse liquidado durante ano de 2010. Não foi bem assim, porque ultrapassou para 2011, mas foi fechado o valor de R$ 14 milhões como comissões [propina]", disse Pascowitch.

    Desse montante, R$ 4 milhões foram doações registradas para o diretório nacional do PT. Mas R$ 10 milhões Pascowitch disse que foram repassados em dinheiro vivo, entre final de 2009 e meados de 2011.

    O advogado Luiz Flávio Borges D'Urso, que defende Vaccari, disse que as acusações não procedem e não são verdadeiras, que foram "trazidas por um delator sem nenhuma comprovação" e que a palavra isolada de um delator não tem efeito jurídico algum.

    Segundo D'Urso, Vaccari atuou como tesoureiro do PT se limitando às atribuições normais de um tesoureiro, que é a de buscar doações legais para a campanha, e que todos os valores foram devidamente declarados ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral).

    STATUS QUO

    Também na quarta-feira, em depoimento, o delator Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, disse que o esquema de pagamento de propina por empresas que tinham contratos com a estatal "era para manter status quo", porque se tratava de "uma sistemática que existia e se aprofundou".

    No depoimento, o delator voltou a afirmar que percentuais de propina eram destinados a ele, ao chefe, Renato Duque, e ao PT, com intermédio de João Vaccari Neto.

    Na ocasião do depoimento, o advogado de José Dirceu, Roberto Podval, afirmou que o que se podia concluir é que "muita gente usou o nome do ex-ministro para ganhar dinheiro". Dirceu está preso desde agosto de 2015, após a delação de Pascowitch e de seu irmão, José Adolfo Pascowitch.

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