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    Lava Jato

    Ex-vereador do PT que negocia delação cita ex-ministro Carlos Gabas

    CATIA SEABRA
    DE SÃO PAULO

    24/01/2016 02h00

    Zanone Fraissat - 15.abr.2014/Folhapress
    O ex-vereador do PT em Americana (SP) e advogado Alexandre Romano, apelidado de 'Chambinho
    O ex-vereador do PT em Americana (SP) e advogado Alexandre Romano, apelidado de 'Chambinho'

    No curso da negociação de uma delação premiada, o ex-vereador Alexandre Romano (ex-PT) apontou o ex-ministro da Previdência Carlos Gabas teria influência nas indicações para a Petros, fundo de pensão da Petrobras, e que os indicados "sabiam da necessidade do PT em arrecadar".

    Em depoimento à Polícia Federal, Romano disse que Gabas —hoje secretário especial do Ministério da Previdência— "teria enorme influência nas indicações".

    No esboço de acordo, ele disse que "todos os indicados sabiam da necessidade do Partido dos Trabalhadores em arrecadar e da importância da Petros" para isso.

    Apelidado de "Chambinho", Romano foi vereador em Americana (SP) e é réu na Operação Lava Jato. Segundo as investigações, recebeu propina da empresa Consist, contratada pelo Ministério do Planejamento. Em agosto de 2015, foi preso e ficou em Curitiba até outubro. Hoje cumpre prisão domiciliar.

    Chambinho, que é advogado, disse à PF que, em 2012, Lício da Costa Raimundo, amigo de Gabas e do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, se associou a seu escritório de advocacia. Mas teve que deixar a sociedade, em 2013, para assumir a diretoria do Funpresp (Fundo de Previdência dos Servidores Federais) por indicação de Gabas. Hoje, Lício é diretor de investimentos da Petros.

    O ex-vereador disse também que, com a chancela do ex-presidente da Câmara Marco Maia (PT), indicou a sócia Thaís Brescia para a gerência da Petros. Ela não ocupa mais a diretoria.

    Em seu depoimento, Chambinho contou ter sido apresentado a Gabas pelo ex-tesoureiro do PT. Segundo documento obtido pela Folha, Chambinho disse que "o senhor João Vaccari seria o responsável, no PT, pela nomeação em diversos fundos de pensão federais, notadamente Funcef e Petros".

    O ex-petista acrescentou que Vaccari o apresentou a Gabas, "na época secretário-executivo do Ministério da Previdência, pessoa da mais alta confiança do sr. João e do PT".

    À PF, Chambinho disse que com a prisão de Vaccari, a Petros "ficou sob responsabilidade do sr Wagner Pinheiro [ex-presidente da ECT e da Petros]", mas que Gabas tinha forte influência. O ex-vereador afirmou que Lício "nunca teve experiência de mercado e não saberia efetuar os necessários contatos com os estruturadores e gestores dos fundos que permitiriam obter comissões". E que a tarefa ficou a cargo de Brescia.

    Com base nesse depoimento, a PF solicitou a quebra de sigilo fiscal, telefônico e bancário de diretores e ex-diretores da Petros.

    Titular da Previdência entre 2010 e 2015, Gabas é próximo da presidente Dilma Rousseff. Em agosto de 2013, levou a presidente para um passeio na garupa de sua motocicleta Harley-Davidson.

    Chambinho ainda não teve seu pedido de delação homologado. Em depoimentos, disse que, entre 2010 e 2012, dividia com o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo e com Vaccari propina oriunda de contratos na pasta. Investigadores dizem que os desvios na pasta chegam a R$ 51 milhões.

    OUTRO LADO

    O secretário Especial do Ministério da Previdência, Carlos Eduardo Gabas, negou influência nas nomeações para a diretoria da Petros, o fundo de pensão da Petrobras. "Sou órgão fiscalizador. Imagine. Não tenho responsabilidade nisso. A indicação cabe ao presidente da Petrobras."

    Diferentemente do que afirmou o ex-vereador petista Alexandre Romano, o "Chambinho", Gabas disse que não indicou o economista Lício da Costa Raimundo para a diretoria de Investimentos da Petros.

    "Nunca ouvi falar desse depoimento. Desconheço. Esse moço andou falando até a tampa. Não tenho responsabilidade nessa história. Lício não é meu amigo, não é meu conhecido, não é meu nada", afirmou Gabas, ressalvando, porém, que, até onde sabe, Lício "não é envolvido em confusão".

    Gabas disse ainda não ter sido citado pelo Ministério Público nem pela PF.

    A Petros afirmou por intermédio de sua assessoria que "não teve acesso a nenhum pedido de quebra de sigilo de seus diretores, nem tampouco a nenhuma decisão deferindo tal medida".

    A nota diz ainda que "os nomes da atual diretoria foram indicados pela patrocinadora e aprovados pelo Conselho Deliberativo da Petros".

    O advogado de Chambinho, Antonio Augusto Figueiredo Basto, disse que não poderia se manifestar.

    Luiz Flávio Borges D'Urso, advogado de João Vaccari Neto, disse que não poderia se manifestar por desconhecer o depoimento.

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