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    Lava Jato

    Nova fase da Lava Jato apura se OAS lavou dinheiro a ex-tesoureiro do PT

    FLÁVIO FERREIRA
    DE SÃO PAULO
    GABRIEL MASCARENHAS
    DE BRASÍLIA

    27/01/2016 07h27

    Zanone Fraissat/Folhapress
    Presa chega a sede da Polícia Federal na 22ª fase da Operação Lava Jato, que investiga o Bancoop
    Presa chega a sede da Polícia Federal na 22ª fase da Operação Lava Jato, que investiga o Bancoop

    Nova fase da Operação Lava Jato, iniciada pela Polícia Federal na manhã desta quarta-feira (27), investiga se a empreiteira OAS lavou dinheiro por meio de negócios imobiliários para favorecer o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que está preso desde abril de 2015.

    Estão sendo cumpridos seis mandados de prisão temporária (válida por cinco dias), dois de condução coercitiva e 15 de busca e apreensão. As diligências ocorrem nas cidades de São Paulo, Santo André, São Bernardo do Campo e Joaçaba (SC). Os presos serão levados para a Superintendência da PF no Paraná.

    A 22ª fase da operação tem como foco a empresa offshore Murray, sediada no Panamá, dona de apartamento tríplex que pode ter sido usado para ocultar patrimônio e disfarçar propina. Todos os apartamentos do Condomínio Solaris, no Guarujá, são investigados.

    Localizado na praia de Astúrias, o condomínio começou a ser construído pela Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo), que já foi presidida por Vaccari Neto. Em crise financeira, a cooperativa transferiu o projeto à empreiteira OAS em 2009. A OAS Empreendimentos, braço da empreiteira que cuida das construções da Bancoop, foi alvo de busca.

    No mesmo condomínio, havia um tríplex reservado à família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula.

    Em despacho sobre a operação desta quarta, o juiz Sergio Moro diz haver suspeita de que a OAS "teria utilizado o empreendimento imobiliário no Guarujá para repasse disfarçado de propina a agentes envolvidos no esquema criminoso da Petrobras".

    A nova fase foi batizada de "Triplo X", em alusão ao tríplex da Murray, e apura suspeitas de corrupção, fraude, evasão de divisas e lavagem de dinheiro, entre outros.

    A Murray é umas das offshores abertas pela empresa Mossack Fonseca, internacional com escritório em São Paulo. Ela tem ligação com quatro empreendimentos vinculados ao Bancoop.

    Lava Jato - 22ª Fase "Triplo X"

    A publicitária Nelci Warken, que já prestou serviços na área de marketing para a Bancoop, foi presa. Ela é o principal alvo da nova fase da Lava Jato, já que a força-tarefa suspeita que ela era uma das pessoas que coordenava os negócios da offshore. Também são procurados parentes de Warken e representantes da empresa que cuidou da abertura da Murray.

    A força-tarefa da Lava Jato apura se Warken usou a estrutura da empresa sediada no Panamá para ocultar patrimônio e lavar dinheiro em favor do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e da cunhada dele, Marice Correa de Lima.

    Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
    Viatura da Polícia Federal chegou às 7h desta quarta-feira (27) na sede da Bancoop, em São Paulo
    Viatura da Polícia Federal chegou às 7h desta quarta-feira (27) na sede da Bancoop, em São Paulo

    BANCOOP

    Fundada em 1996 pelo atual ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), a Bancoop é uma cooperativa cujos dirigentes elaboravam projetos de prédios habitacionais e dividiam os custos entre os cooperados. As cotas de participação compradas pelos cooperados eram referentes a imóveis na planta. Em 2010, João Vaccari Neto, que atuou como diretor financeiro (2002 e 2004) e presidente (2004-2010) da Bancoop, foi denunciado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo por suspeita de desvio de dinheiro da cooperativa para abastecer campanhas eleitorais do PT.

    A Promotoria de Justiça de São Paulo também suspeita que o condomínio na praia de Astúrias foi usado para lavar dinheiro.

    O ex-presidente Lula é alvo de investigação sobre a legalidade da transferência de empreendimentos da cooperativa à OAS.

    Em 2009, quando incorporou o Solaris, a OAS ofereceu aos mutuários as seguintes opções: pagamento de valor extra para receber as chaves quando a obra fosse concluída ou, em caso de desistência, ressarcimento dos valores pagos à Bancoop em 36 prestações. A primeira parcela da devolução só seria paga 12 meses após o distrato.

    A OAS, que teve executivos condenados em uma das sentenças da Lava Jato, pagou por reformas feitas em 2014 no tríplex reservado à família de Lula.

    Lula adquiriu em 2005 com sua mulher, Marisa Letícia, uma cota de participação da Bancoop, quitada em 2010, referente ao imóvel na planta.

    Ao disputar a reeleição em 2006, Lula informou à Justiça Eleitoral ter pago à Bancoop R$ 47.695,38 pelo apartamento. Corretores locais dizem que o imóvel vale R$ 1,5 milhão.

    Em novembro, a Folha revelou que a mulher de Lula Marisa Letícia havia desistido de ficar com o tríplex. Marisa visitou o condomínio algumas vezes, mas informou que pediria à OAS a devolução do valor investido por ela na fase de construção do prédio, de acordo com a assessoria.

    OUTRO LADO

    Procurado pela reportagem, o advogado Edward Carvalho, um dos defensores da OAS, disse que ainda não teve acesso às razões da busca e criticou a condução dos mandatos. "Bastaria ter solicitado os documentos e não fazer algo espalhafatoso assim", disse.

    Em nota, a Bancooop afirmou que "por deliberação coletiva dos respectivos cooperados, adotada em assembleia realizada em 27 de outubro de 2009 e confirmada pela adesão individual de cada cooperado, o empreendimento foi transferido à construtora OAS Empreendimentos". A cooperativa diz que desde 2009 "não tem qualquer relação com o empreendimento Mar Cantábrico, que, inclusive teve sua denominação alterada para Solaris".

    O advogado de Vaccari, Luiz Flávio Borges D'Urso, disse que não há nenhuma acusação contra o seu cliente nesta operação. "Ele [Vaccari] teve cotas da Bancoop, pagas mensalmente, tudo dentro da lei, e quando foi presidente da Bancoop ele reorganizou a administração da cooperativa, o que possibilitou a entrega de milhares de unidades aos cooperados."

    Colaboraram BELA MEGALE e PAULA REVERBEL, de São Paulo

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