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    Lava Jato

    Imóveis da OAS, inclusive o que seria de Lula, são alvos da Lava Jato

    JULIANA COISSI
    DE CURITIBA

    27/01/2016 13h14 Erramos: esse conteúdo foi alterado

    Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
    Viatura da Polícia Federal chegou às 7h desta quarta-feira (27) na sede da Bancoop, em São Paulo
    Viatura da Polícia Federal chegou às 7h desta quarta-feira (27) na sede da Bancoop, em São Paulo

    Procuradores da Operação Lava Jato afirmaram nesta quarta-feira (27) que todos os apartamentos do condomínio Solaris, em Guarujá (SP), são alvo de investigação sobre um esquema de offshores criadas para enviar ao exterior dinheiro desviado da Petrobras. Entre os imóveis sob investigação está um tríplex da OAS que foi reservado ao ex-presidente Lula.

    Em seu despacho sobre a operação desta quarta, o juiz Sérgio Moro afirma haver a suspeita de que a empreiteira OAS "teria utilizado o empreendimento imobiliário no Guarujá para repasse disfarçado de propina a agentes envolvidos no esquema criminoso da Petrobras".

    Na operação, segundo o delegado Igor de Paula, além dos crimes de sonegação fiscal e ocultação de patrimônio, "há indícios que alguns esses imóveis foram utilizados para repasse de recursos, de propina, a partir de contratos com a Petrobras".

    Um dos apartamentos do condomínio sob investigação pertenceria à família do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso desde abril de 2015.

    "Estamos investigando todos os apartamentos. Nenhuma pessoa em especial", disse o procurador Carlos Fernando Lima, que integra a força-tarefa da Lava Jato. Questionado durante a entrevista coletiva, na manhã desta quarta, se a Procuradoria tem elementos que apontem a ligação de Lula com um dos tríplexes, ele disse que existem indícios e notícias sobre isso. "Tudo está sob investigação", completou o procurador.

    "Nós investigamos fatos. Se houve um apartamento dele [Lula], que esteja no seu nome ou que tenha negociado ou alguém da sua família, vamos investigar, como todo mundo", disse Lima.

    Horas antes, a Polícia Federal havia deflagrado (27) a 22ª segunda fase da Lava Jato, intitulada "Triplo X", que apura suspeitas de corrupção, fraude, evasão de divisas e lavagem de dinheiro, entre outros crimes.

    Os procuradores disseram que chegaram ao condomínio, entre outras razões, porque um dos imóveis era de propriedade da Murray, uma offshore aberta pela Mossack Fonseca, empresa internacional com escritório em São Paulo.

    "Acreditamos que eram abertas contas no exterior, pela Mossack, para esquema de lavagem de dinheiro", diz o procurador Lima, ao afirmar que a empresa foi responsável por várias contas de pessoas investigadas na Lava Jato, como Renato Duque e Pedro Barusco.

    A operação de hoje apreendeu documentos na OAS e na Bancoop, todos relativos ao condomínio Solaris. Foram presas três pessoas ligadas ao escritório da Mossack Fonseca. Outras duas estavam no exterior e um terceiro não foi localizado. Também houve buscas no escritório da empresa.

    O procurador disse que não é possível precisar, até o momento, quantos dos apartamentos ainda estão oficialmente ligados à OAS.

    Em um diagrama apresentado pela Polícia Federal há a indicação de três tríplexes relativos à OAS. Seriam eles os de número 164-B, cuja suspeita é de estar ligado ao ex-presidente Lula, 162-B e 164-A. O tríplex 163-B seria de propriedade da offshore sob suspeita, a Murray.

    BANCOOP

    O condomínio Solaris teve a construção iniciada pela Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo), que foi presidida por Vaccari Neto. Em crise financeira, a Bancoop transferiu o empreendimento para a empreiteira OAS, em 2009.

    A OAS Empreendimentos, braço da empreiteira responsável pelas obras da Bancoop, também foi alvo da operação desta quarta.

    De acordo com a PF, essa nova etapa da Lava Jato apura a existência de uma estrutura criminosa "destinada a proporcionar a investigados na operação policial a abertura de empresas offshores e contas no exterior para ocultar e dissimular o produto dos crimes de corrupção, notadamente recursos oriundos de delitos praticados no âmbito da Petrobras".

    Foram cumpridos seis mandados de prisão temporária (válida por cinco dias), dois de condução coercitiva e 15 de busca e apreensão. As diligências ocorreram nas cidades de São Paulo, Santo André, São Bernardo do Campo e Joaçaba (SC). Os presos serão levados para a Superintendência da PF no Paraná.

    A publicitária Nelci Warken, que já prestou serviços na área de marketing para a Bancoop, foi presa. Ela é suspeita de ser uma das coordenadoras dos negócios da Murray. Também são procurados parentes de Warken e representantes da empresa que cuidou da abertura da offshore.

    A PF apura se Warken usou a estrutura da Murray para ocultar patrimônio e lavar dinheiro em favor da cunhada de Vaccari, Marice Correa de Lima.

    Zanone Fraissat/Folhapress
    Presa chega a sede da Polícia Federal na 22ª fase da Operação Lava Jato, que investiga o Bancoop
    Presa chega a sede da Polícia Federal na 22ª fase da Operação Lava Jato, que investiga o Bancoop

    PROMOTORIA

    Além da Lava Jato, a Promotoria de Justiça de São Paulo também apura os negócios da Bancoop.

    O ex-presidente Lula é alvo de investigação sobre a legalidade da transferência de empreendimentos da cooperativa à OAS.

    A Promotoria investiga se a empreiteira usou apartamentos do prédio para lavar dinheiro ou beneficiar pessoas indevidamente.

    A OAS pagou por reformas feitas em 2014 no tríplex reservado à família de Lula. As modificações incluem a instalação de um elevador privativo. Em novembro, a Folha revelou que a mulher de Lula, Marisa Letícia, havia desistido de ficar com o imóvel.

    OUTRO LADO

    Procurado pela reportagem, o advogado Edward Carvalho, um dos defensores da OAS, disse que ainda não teve acesso às razões da busca e criticou a condução dos mandatos. "Bastaria ter solicitado os documentos, e não fazer algo espalhafatoso assim", disse.

    Em nota, a Bancooop afirmou que "por deliberação coletiva dos respectivos cooperados, adotada em assembleia realizada em 27 de outubro de 2009 e confirmada pela adesão individual de cada cooperado, o empreendimento foi transferido à construtora OAS Empreendimentos". A cooperativa diz que desde 2009 "não tem qualquer relação com o empreendimento Mar Cantábrico, que, inclusive teve sua denominação alterada para Solaris".

    Em nota, o Instituto Lula afirmou que o ex-presidente e sua mulher, Marisa Letícia, jamais ocultaram que ela possui cota de um empreendimento em Guarujá adquirida da Bancoop e declarada à Receita Federal.

    "O capital investido nesta cota pode ser restituído ao comprador ou usado como parte na aquisição de um imóvel no empreendimento. Nem Lula nem dona Marisa têm relação direta ou indireta com a transferência dos projetos da extinta Bancoop para empresas incorporadoras (que são várias, e não apenas a OAS)", diz a nota.

    O advogado de Vaccari, Luiz Flávio Borges D'Urso, disse que não há nenhuma acusação contra o seu cliente nesta operação. "Ele [Vaccari] teve cotas da Bancoop, pagas mensalmente, tudo dentro da lei, e quando foi presidente da Bancoop ele reorganizou a administração da cooperativa, o que possibilitou a entrega de milhares de unidades aos cooperados."

    Condominio Lava Jato

    Colaboraram BELA MEGALE, FLÁVIO FERREIRA e PAULA REVERBEL, de São Paulo, e GABRIEL MASCARENHAS, de Brasília

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