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    Apuração sobre merenda escolar começou após briga em cooperativa

    ALEXANDRE ARAGÃO
    THAIS ARBEX
    DE SÃO PAULO

    30/01/2016 02h00

    A Operação Alba Branca, que investiga superfaturamento e pagamento de propina em contratos de merenda escolar, começou após um funcionário da Coaf (Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar) se desentender com a direção da associação, o que o levou a denunciá-los à Polícia Civil de Bebedouro (SP).

    O administrador João Roberto Fossaluzza Júnior, que geria a parte financeira da cooperativa, foi à polícia no início de junho de 2015 e contou ter conhecimento sobre o funcionamento do esquema em oito municípios paulistas.

    Fossaluzza Júnior havia sido demitido pelo presidente da Coaf, Cássio Izique Chebabi. De acordo com a versão do dirigente, o administrador depositava em sua conta pessoal cheques da cooperativa que deveriam ser usados para pagar fornecedores e prestadores de serviço. Outro ex-funcionário da cooperativa confirmou a versão à Folha.

    A Polícia Civil começou a investigar o esquema a partir da denúncia de Fossaluzza, que em seu primeiro depoimento afirmou que o presidente da associação era responsável pelo esquema.

    "No caso presente, João Fossaluzza esteve no centro do poder da aludida cooperativa, (...) o que lhe permitiu confirmar a saída de valores para os pagamentos de agentes públicos corruptos", escreve o delegado Mário José Gonçalvez, em um pedido de grampo telefônico à Justiça.

    ESQUEMA MAIOR

    Foi a partir das escutas que os agentes da Polícia Civil perceberam que o esquema era maior que o relatado pelo ex-funcionário da Coaf.

    O conjunto de provas coletadas, escreveu o delegado, "nos permite concluir que estamos diante de um grande esquema criminoso, que desviou e ainda desvia do prato de comida dos alunos da rede pública alimentos valiosos que são transformados em cifras que acabam banhando a conta bancária de funcionários públicos e de empresários corruptos".

    Conforme a Folha revelou na sexta (29), a Coaf fez uma planilha na qual 152 municípios paulistas eram divididos com outras duas associações. O documento indica que concorrências para comprar merenda nessas cidades podem ter sido manipuladas pelo cartel, com a ajuda de servidores públicos e políticos.

    Os grampos telefônicos, que atingiram 12 celulares, captaram conversas com referências a agentes públicos. A voz do ex-chefe de gabinete do secretário Edson Aparecido (Casa Civil) Luiz Roberto dos Santos, o Moita, foi registrada em um dos grampos.

    Ele pedia dinheiro a integrantes do esquema –o servidor foi demitido no último dia 18, véspera do cumprimento de mandados de prisão e de busca e apreensão.

    Posteriormente, dirigentes e funcionários da cooperativa prestaram depoimentos à Polícia Civil e citaram o presidente da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), Fernando Capez (PSDB).

    À polícia alguns dos funcionários da Coaf relataram que dois assessores do tucano, Licá e Jéter –eles não mencionaram os sobrenomes–, eram responsáveis por repassar propina a ele.

    Luiz Carlos Gutierrez, o Licá, trabalha no gabinete de Capez na assembleia. Jéter Rodrigues, por sua vez, trabalhou com o deputado estadual até dezembro de 2014. Na quinta (28), ele confirmou à Folha ter se encontrado com um dos suspeitos, mas negou saber do esquema.

    A Polícia Civil tocou as investigações sozinha até dezembro, quando pediu mandados de prisão e de busca e apreensão à Justiça. Nesse caso, o Ministério Público precisa se manifestar –o que fez positivamente. Os promotores passaram a ajudar nas apurações sobre o esquema.

    OUTRO LADO

    O advogado de Cássio Izique Chebabi, Ralph Tórtima Filho, disse que o ex-funcionário da Coaf João Roberto Fossaluzza Júnior mentiu ao dizer que seu cliente roubou da associação. "Ele se antecipou e está querendo inverter a situação", acrescentou.

    A Folha ligou para a casa de Fossaluzza. A mulher que atendeu o telefonema não quis se identificar, mas disse que ele "não sabe de nada".

    O presidente da assembleia paulista, Fernando Capez (PSDB), disse por meio de nota, repudiar "com veemência a ligação de seu nome ao escândalo Alba Branca".

    A Casa Civil do governo Geraldo Alckmin afirmou que o ex-chefe de gabinete Luiz Roberto dos Santos, o Moita, foi exonerado e passou a ser investigado pela corregedoria.

    Em nota, o secretário Duarte Nogueira disse ver com "indignação e estarrecimento" a citação de seu nome. "A acusação é absolutamente irresponsável e leviana. Não conheço Coaf, não conheço Cássio Chebabi e não conheço nenhum gestor dessa cooperativa", afirmou em nota.

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