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    Lava Jato

    Tabela de empreiteira indica repasses de R$ 2 mi a filho de ministro do TCU

    MÁRCIO FALCÃO
    RUBENS VALENTE
    AGUIRRE TALENTO
    DE BRASÍLIA

    04/02/2016 17h39 - Atualizado às 22h19

    Ruy Baron - 9.fev.09/Valor/Folhapress
    Data: 09/02/2009ÊÊ Editoria: Legislacao e Tributos Reporter: Fernando Teixeira Local: Brasilia, DF Pauta: Socio, Cedraz e Tourinho Dantas Advogados, que esta tentando liberar resorts no Nordeste embargados pelo Ministerio Publico. Setor: Advocacia Personagem: Tiago Cedraz. Fotos: Ruy Baron/Valor ***FOTO DE USO EXCLUSIVO FOLHAPRESS***
    O advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União, Aroldo Cedraz

    Uma tabela repassada pela empreiteira UTC aos investigadores da Operação Lava Jato aponta pagamentos de R$ 2,2 milhões ao advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), Aroldo Cedraz. Parte teria sido entregue em dinheiro em espécie.

    O documento foi anexado pelo dono da construtora, Ricardo Pessoa, que se tornou um dos delatores e era apontado como chefe do clube de empreiteiras que atuou nos desvios na Petrobras.

    A tabela, intitulada "ThiagoBSB", mostra 24 repasses de R$ 50 mil, entre junho de 2012 e setembro de 2014, além de um pagamento de R$ 1 milhão em 13 de fevereiro de 2014. Os valores aparecem ao lado de Thiago/Luciano. Segundo Pessoa, Luciano é referência ao primo do advogado, Luciano Araújo, tesoureiro do partido Solidariedade.

    O empreiteiro entregou ainda registros da UTC que apontam 151 entradas de Tiago em unidades da empresa, entre 2012 e 2014, e 80 de Luciano, entre 2013 e 2014.

    As informações constam em inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal que investiga irregularidades na licitação da usina nuclear de Angra 3. Também são alvos do inquérito o ministro do TCU Raimundo Carreiro, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e os senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e Romero Jucá (PMDB-RR).

    Ricardo Pessoa disse que pagava R$ 50 mil por mês a Tiago desde 2012 e que desembolsou R$ 1 milhão para o advogado ajudar na liberação do processo licitatório de Angra 3, analisado pelo TCU por indícios de irregularidades. Uma das linhas de investigação verifica se esse R$ 1 milhão teria sido repassado a Raimundo Carreiro.

    À PF, Luciano Araújo admitiu que recebeu recursos em espécie de Pessoa, mas disse que a verba era para o Solidariedade, que ainda teria contabilizado doações de R$ 1,2 milhão em 2014 registradas na Justiça Eleitoral.

    Ele afirmou que o recebimento dos valores se deu em razão da proximidade do presidente do partido, deputado Paulinho da Força (SP), com Pessoa. "Que esses valores, por opção da empresa, que não desejava operacionalizar por meio de transferências, eram entregues ao partido em espécie, aproximadamente a cada 45 dias", disse Luciano.

    'ÁREA TÉCNICA'

    Após as declarações, em novembro de 2015, Pessoa prestou novo depoimento aos investigadores e reafirmou que contratou Tiago Cedraz "em razão de o mesmo apresentar ao declarante informações privilegiadas, por antecipadas, notadamente registros da área técnica do TCU."

    O empreiteiro negou a fala de Luciano de que os repasses mensais de R$ 50 mil eram pagos em benefício do Solidariedade.

    Pessoa voltou a explicar a contratação do filho do presidente do TCU: "Tiago Cedraz disse que tinha contato com Raimundo Carreiro e por meio dele iria resolver o julgamento acerca das impropriedades ditas como existentes no contrato de Angra 3".

    Em depoimento prestado à PF em outubro passado, Carreiro confirmou ter sido o relator do processo relativo às obras de Angra 3 e contou que ele foi retirado da pauta de votações do tribunal por seis vezes, já que "havia elementos de prejuízo à competitividade referente às obras eletromecânicas e civis".

    Carreiro disse que três advogados o procuraram sobre o processo, mas nenhum era Tiago Cedraz. Ele reconheceu ter estado duas vezes com o filho do presidente do TCU, ambas a convite de Aroldo, uma no casamento do próprio Tiago e outra no casamento da irmã do advogado.

    O ministro disse que Tiago "nunca foi a seu gabinete, nunca lhe pediu uma audiência, nunca ligou para o declarante [Carreiro] e nem este ligou para Tiago". Disse ainda que o advogado nunca esteve com o assessor responsável por elaborar o voto do ministro.

    Carreiro igualmente negou ter recebido "qualquer pedido, quantia ou promessa de pagamento de Tiago ou de terceiro no sentido de direcionar o julgamento no interesse de qualquer empresa".

    OUTRO LADO

    A assessoria de Tiago Cedraz disse que não houve pagamentos ao advogado e que isso foi demonstrado no processo que está em tramitação no STF. O escritório Cedraz Advogados tem afirmado que nunca patrocinou nenhum caso da UTC perante o TCU.

    "Quanto ao Consórcio UNA 3, que trata de Angra 3, por força da confidencialidade cliente/advogado limita-se a esclarecer que no caso em que atuou o cliente não figurou como parte no TCU."

    De acordo com a assessoria, o escritório "sempre pauta sua atuação pelo rigoroso cumprimento da legislação vigente, resultando inclusive na observância dos devidos impedimentos". E que "processará o Sr. Ricardo Pessoa, civil e criminalmente, pelas mentiras lançadas no bojo de uma delação premiada forjada para atenuar ilícitos confessados".

    Luciano Araújo, que tem dito que não recebeu recurso ilícito, não foi localizado nesta quinta. Raimundo Carreiro nega ligação com o esquema da Petrobras e diz que jamais recebeu recurso ilícito.

    Paulinho da Força afirmou que o Solidariedade não recebeu dinheiro da UTC ou de Pessoa para a sua criação. "Nenhuma possibilidade de que isso tenha ocorrido. O Solidariedade foi criado com recursos de sua militância." Ele disse ainda que Luciano Araújo não participou da criação do partido, tendo sido designado tesoureiro já com a sigla em funcionamento.

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