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    Deputado 'abriria mercado' para merenda, diz lobista em grampo

    REYNALDO TUROLLO JR.
    DE SÃO PAULO

    10/02/2016 02h00

    Divulgação
    O deputado estadual Luiz Carlos Gondim, do partido Solidariedade
    O deputado estadual Luiz Carlos Gondim, do partido Solidariedade

    Grampos feitos pela Operação Alba Branca, que investiga fraude na venda de merenda a prefeituras e ao governo Geraldo Alckmin (PSDB), mostram que um lobista da cooperativa que está no centro das apurações citou o deputado estadual Luiz Carlos Gondim (SD) como alguém que abriria mercados.

    Gondim é mencionado em ao menos duas ligações telefônicas feitas por Marcel Ferreira Julio, apontado como lobista da Coaf (Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar) junto ao governo do Estado.

    Marcel é filho do ex-deputado Leonel Julio, o que lhe rendeu contatos políticos, de acordo com as investigações.

    Em uma das menções, Marcel diz a uma mulher não identificada que irá intermediar o contrato entre a Coaf e a Prefeitura de Mogi das Cruzes (SP) no próximo ano, pois Gondim está à frente nas pesquisas para a prefeitura da cidade neste ano.

    Em outro diálogo, é dito que Gondim "abriu um monte de prefeituras". O interlocutor, não identificado, está falando do gabinete de Gondim, segundo a polícia.

    A menção ao deputado já havia sido revelada, mas não o seu contexto. Oficialmente, ele não é investigado.

    Gondim afirma que seu nome foi usado indevidamente, apesar de ele conhecer o lobista (leia abaixo).

    Em 2012, Gondim fez uma série de proposições na Assembleia Legislativa para tornar a laranja e seu suco obrigatórios na merenda. O suco de laranja é o produto que a Coaf fornece desde o ano passado à Secretaria da Educação do governo Alckmin.

    Segundo o deputado, suas proposições –uma moção, uma indicação e um projeto de lei ainda não votado em plenário– visavam ajudar o setor de citricultura, que, em meados de 2012, enfrentava uma grave crise.
    Ele nega conhecer a Coaf e ter atuado para beneficiá-la.

    Além de Gondim, foram citados pelos investigados o presidente da Assembleia Legislativa, Fernando Capez (PSDB), e os deputados federais Baleia Rossi (PMDB) e Nelson Marquezelli (PTB) –os dois últimos, mencionados nos grampos.

    Ex-dirigentes da Coaf também acusam Duarte Nogueira (PSDB), hoje secretário de Transportes, de receber propina. Todos negam participação em irregularidades.

    OUTRO LADO

    O deputado Luiz Carlos Gondim (SD) afirma estar "indignado" por ter seu nome citado por pessoas investigadas e diz acreditar que isso tenha ocorrido por ser um parlamentar que atende muitas pessoas em seu gabinete.

    "Fiquei indignado por meu nome ser citado. Sou médico há 40 anos e tenho cinco mandatos. Eu jamais tive contato com qualquer pessoa ligada a alguma cooperativa, não conheço ninguém que venda merenda", afirma.

    Gondim admite ter recebido em seu gabinete na Assembleia o lobista Marcel Julio, mas nega ter tratado de assuntos relativos a merenda.

    "Esse moço esteve em 2011 e em 2015 aqui, tratando de assuntos de dessalinização da água –por sinal, ele tem uma indústria de dessalinização em Peruíbe–, e sobre tratamento de esgoto para prédios. Alguém vendeu o meu nome e meus advogados estão apurando os fatos."

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