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    Lava Jato

    Lava Jato vê indício de repasse da Odebrecht a marqueteiro ligado ao PT

    DANIELA LIMA
    MARINA DIAS
    DE BRASÍLIA
    GRACILIANO ROCHA
    ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

    12/02/2016 02h00 - Atualizado às 21h44
    Erramos: esse conteúdo foi alterado

    A força-tarefa da Operação Lava Jato investiga pagamentos atribuídos a subsidiárias da Odebrecht em contas, no exterior, controladas pelo marqueteiro João Santana, responsável por campanhas do PT e da presidente Dilma Rousseff. A apuração envolve as finanças dele em diversos países, entre eles a Suíça.

    O publicitário baiano comandou todas as campanhas presidenciais do partido desde a reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006. Os dados sobre a movimentação financeira de Santana integram pacote de documentos enviados ao Brasil pela promotoria suíça em acordo de cooperação.

    O inquérito que apura as finanças do publicitário foi aberto em novembro do ano passado e tramita em sigilo, em Curitiba. Ele passou a ser investigado após a Polícia Federal encontrar na casa do lobista Zwi Skornicki, ligado ao estaleiro asiático Keppel Fels, uma carta de Mônica Moura, mulher e sócia de Santana.

    O manuscrito indicava contas de Santana na Inglaterra e nos EUA. A informação foi revelada pela "Veja".

    Um dos focos da investigação são valores recebidos por Santana em 2014, quando o marqueteiro fez as campanhas presidenciais de Dilma, no Brasil, e de José Domingo Arias, derrotado no Panamá -país onde a Odebrecht tem diversos interesses.

    No momento, segundo a Folha apurou, não é possível estabelecer com certeza a origem destes pagamentos, se por serviços prestados no Brasil ou em outro país.

    Nos últimos anos, o marqueteiro tem feito diversas incursões no exterior. Em 2012, por exemplo, respondeu pela comunicação das candidaturas presidenciais de José Eduardo dos Santos, em Angola, e de Danilo Medina, na República Dominicana, locais em que a construtora também tem obras.

    Oficialmente, Santana recebeu R$ 88,9 milhões da campanha de Dilma em 2014. Outros pagamentos vinculados à campanha, se confirmados, seriam em tese caixa 2. As informações sobre a investigação foram confirmadas pela Folha com três autoridades que atuam no caso, advogados que acompanham a Lava Jato e pessoas ligadas a executivos da Odebrecht.

    A empresa, maior empreiteira do país, cresceu nos governos petistas e é investigada por suspeita de corrupção em obras da Petrobras.

    Procurado pela reportagem, o advogado de João Santana, Fábio Tofic, disse que o publicitário desconhece qualquer apuração que envolva seu nome e que, inclusive, questionou formalmente o juiz Sergio Moro, que conduz a investigação em Curitiba, sobre a existência de um inquérito contra seu cliente.

    Santana não nega que receba dinheiro no exterior por campanhas realizadas, mas diz que tudo é declarado.

    "Indagado há mais de 20 dias, o juiz não respondeu. Tudo leva a crer que essa investigação não existe ou temos que admitir que há abuso de autoridade, já que ele não foi informado", disse Tofic.

    O advogado acrescentou que o mesmo questionamento foi feito, dias depois, à Polícia Federal e que, novamente, não obteve resposta.

    Procurada, a Odebrecht também disse que desconhece o inquérito.

    OS CLIENTES DE JOÃO SANTANA - Marqueteiro trabalhou em campanhas no Brasil e no exterior

    MENSAGEM

    E-mail apreendido pela PF no ano passado no celular do presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, preso desde 2015, fazia menção ao "risco" da exposição sobre uma "cta suíça". Em mensagem a um executivo da empreiteira, Marcelo escreveu: "Dizer do risco cta suíça chegar na campanha dela".

    Esse é o segundo inquérito do qual o marqueteiro é alvo. Em maio de 2015, a Folha revelou que a PF abriu investigação para apurar a suspeita de que duas de suas empresas trouxeram de Angola para o Brasil US$ 16 milhões, em 2012, numa suposta operação de lavagem de dinheiro para beneficiar o PT.

    A investigação segue aberta, em segredo de Justiça. Na época, Santana disse que ela partia de "premissa falsa". "Tentar criminalizar internalização de recursos beira o ridículo", disse, concluindo que a operação fora acompanhada pelo BC, com pagamento de impostos.

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