Em mais uma manobra gestada por aliados de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o PTB substituiu seu representante no Conselho de Ética com o objetivo de dar ao presidente da Câmara os votos necessários para que ele se livre do processo de cassação.

O partido retirou do colegiado Arnaldo Faria de Sá (SP), que vinha votando contra Cunha, e colocou Nilton Capixaba (RO), cuja missão será engrossar a tropa de choque do peemedebista.

A mudança é importante pois Cunha vinha sendo derrotado com margem de apenas um voto no Conselho, que tem 21 integrantes titulares.

A troca foi feita a mando do líder do PTB, Jovair Arantes (GO), um dos mais fiéis aliados de Cunha.

O presidente da Câmara é alvo de um pedido de cassação, que tramita desde outubro do ano passado, devido ao envolvimento do seu nome no escândalo do petrolão, mas ele e aliados têm conseguido travar a tramitação do caso, que hoje continua próxima da estaca zero.

LÓGICA

Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) chegou a disputar a presidência do Conselho de Ética no ano passado apoiado por Cunha, mas depois se afastou do peemedebista e votou favorável à continuidade do seu processo no colegiado.

Questionado pela Folha, Faria de Sá disse que Jovair pediu a ele a vaga sem apresentar argumentos. Mas que o sondou anteriormente se ele manteria o voto contra Cunha.

Os integrantes de conselho são eleitos para um mandato e não podem ser substituídos pelo líder partidário. Mas Faria de Sá disse que aceitou sair pois temia sofrer retaliações em outras comissões cujas vagas são definidas pelos líderes partidários.

"Ele (líder) não me falou nada, só me pediu a vaga, mas a dedução é lógica. Até porque, ano passado, fui sondado previamente sobre se manteria o voto [contra Cunha] e eu disse que manteria. Tenho oito mandatos e sei a força que um líder partidário tem", afirmou Faria de Sá.

O petebista foi um dos 11 integrantes do Conselho de Ética que votou favorável ao relatório de Marcos Rogério (PDT-RO) pela admissibilidade do processo de cassação de Cunha. O placar foi apertado, 11 a 9.

Como essa votação terá que ser refeita devido a um recurso da tropa de choque de Cunha que foi aceito pela Mesa da Câmara, comandada pelo peemedebista, o resultado pode se inverter.

Jovair Arantes nega interferência de Eduardo Cunha ou qualquer relação com o processo de cassação do peemdebista.

"Ele votou e vota em tudo do jeito que quis e quer. Não fiz nenhuma censura a ele", afirmou o deputado, que completou ainda: "Em uma bancada de 25 deputados, não dá para um deputado ficar em todas as comissões. O PTB terá vaga ou em Seguridade Social ou em Trabalho, que são áreas com que ele (Arnaldo) sonha. Preferiu ficar com as comissões permanentes."

O novo membro do Conselho de Ética, Newton Capixaba, já foi alvo de um processo de cassação no colegiado em 2006 por acusação de envolvimento na chamada "máfia dos sanguessugas", como ficou conhecido o escândalo de compra de ambulâncias superfaturadas com emendas parlamentares.