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    Lava Jato

    PM usa bombas contra grupos pró e anti-Lula em fórum de São Paulo

    PAULA REVERBEL
    DE SÃO PAULO

    17/02/2016 11h05 - Atualizado às 07h59

    Grupos simpatizantes e críticos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegaram a atirar garrafas d'água e pedras uns nos outros nesta quarta-feira (17), em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda, onde o petista daria depoimento. Houve confronto com a polícia, que lançou bombas de gás lacrimogêneo e golpeou alguns manifestantes com cassetetes.

    O pivô dos confrontos foi o boneco inflável gigante que representa o ex-presidente Lula com uniforme de presidiário. Apelidado de "Pixuleko", o boneco virou ícone dos protestos antipetistas. Em várias ocasiões, membros dos grupos pró-Lula contornaram o cordão de isolamento formado por policiais militares com o objetivo de rasgar o Pixuleko gigante enquanto os manifestantes antiqua procuravam enchê-lo de ar. A Folha testemunhou mais de quatro investidas (assista ao vídeo).

    Grupos pró e anti-PT protestam em fórum onde Lula seria ouvido

    Centenas de pessoas da Frente Brasil Popular, ligada ao PT, estavam aglomerados na calçada à esquerda do fórum. "Fora, coxinha" era um dos gritos mais entoados. À direita do prédio, em número menos expressivo, estavam movimentos como o Nas Ruas e o Revoltados Online. Aos opositores, gritam: "Vai trabalhar, vagabundo". Pequenos tumultos se iniciaram por volta das 10h40 e se intensificaram ao longo da manhã. Os grupos só se dispersaram depois das 13h, com o boneco furado e desinflado. Manifestantes de esquerda comemoraram a vitória aos gritos de "não vai ter golpe".

    "A gente não poder inflar um boneco porque eles consideram uma agressão e ficaram instigando o tempo todo no microfone para causar discórdia e raiva para que eles viessem em cima da gente. Isso denota que eles não têm o mínimo de respeito pela manifestação alheia."

    Em um dos confrontos, o manifestante da CUT Michel Adriano Szurkalo foi detido pela PM e levado ao 23º DP por ter agredido um dos líderes anti-Lula, Marcello Reis, a socos. Já libertado, ele pretende registrar queixa, alegando que tratou-se de agressão mútua. Segundo Raimundo Bonfim, coordenador-geral da CMP (Central de Movimentos Populares) e membro da Frente Brasil Popular, quatro manifestantes pró-Lula ficaram feridos. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, cinco pessoas ficaram feridas no protesto e foram socorridas.

    Ao longo do dia, lideranças de esquerda defenderam, do alto de um caminhão de som, que um Pixuleko inflado seria uma "provocação muito grande" e que não seria possível conter os manifestantes. "O pessoal lá não iria aceitar que levantem Pixuleko", disse Bonfim.

    Ele afirmou que havia um acordo firmado com a PM para boneco não fosse usado, informação negada pelos manifestantes antipetistas e pela polícia.

    O major Eliseu Chaves de Oliveira, da PM, disse à Folha que chegou a alertar os movimentos anti-Lula do risco de confronto caso o Pixuleko fosse inflado. "Eles estão em número maior, é difícil controlar", explicou. "Ficam muito nervosos com esse negócio", acrescentou, ressalvando que tratava-se apenas de recomendação.

    Com o cancelamento do depoimento do ex-presidente, deputados petistas que iriam participar do ato em sua defesa se reuniram com o ex-presidente na sede do Instituto Lula. Parte deles foi para o ato no fórum.

    Leitor
    Michel Adriano Szurkalo, manifestante da CUT detido nesta em confronto nesta quarta
    Michel Adriano Szurkalo, manifestante da CUT detido nesta em confronto nesta quarta

    FERIDOS

    Um dos feridos, o sociólogo Nelon Kanesin, da CUT, afirmou que ficou com ferimento na perna devido aos cassetetes da tropa de choque. "Fui me aproximar do boneco que estavam tentando inflar. A polícia estava protegendo, não sei por que, e foi para cima", contou. Ele disse que tinha a intenção de desinflar o Pixuleko.

    Fotógrafos registraram ferimento de outro manifestante pró-Lula, que ficou com a cabeça ensanguentada e foi carregado por companheiros.

    PEQUENOS CONFRONTOS

    Ainda no período da manhã, Bonfim chegou a pedir a policiais que não deixassem o boneco ser inflado. Neste momento, os grupos começaram a se xingar e atirar garrafas uns nos outros. A polícia interveio para separar os manifestantes, que se espalharam e tomaram a rua. Uma força tática da PM saiu de dentro do fórum e se posicionou entre os dois grupos na tentativa de impedir uma escalada do confronto.

    Antes, às 10h40, militantes da Frente Brasil Popular acenderam fogos de artifício e jogaram uma bomba perto de onde manifestantes anti-Lula estão situados.

    Depois disso, os dois lados ameaçaram invadir o acesso ao fórum, que separava os manifestantes. Em seguida, uma manifestante da Central de Movimentos Populares foi socorrida por policiais. O motivo teria sido uma pedra lançada do lado dos movimentos antipetistas.

    ATUAÇÃO DA PM

    No período da tarde, a direção estadual do PT e a bancada de deputados estaduais do partido repudiou a postura da PM. Em nota, eles afirmam que duas pessoas foram feridas pelos policiais. Criticaram também a proteção dada ao boneco Pixuleko.

    "Há tempos a sociedade paulista tem sido vítima da política truculenta da PM comandada pelo PSDB, que resiste em conviver com o direito democrático de manifestação", diz nota da sigla.

    Bomfim também criticou a atuação policial. "Ficou comprovado que o pessoal da tropa de choque protegeu o lado de lá", disse.

    A PM não quis estimar o número de manifestantes.

    OFENSAS

    Alguns dos manifestantes de esquerda começaram a debochar do guarda-chuva que a líder dos Nas Ruas, Carla Zambelli, usava para se proteger do sol.

    Ela se recupera de uma cirurgia para retirada de tumor na cabeça e buscava cobrir a cicatriz. Ao dizer que usava o guarda-chuva por motivos de saúde, foi xingada de zika e acusada de não saber ler.

    A reportagem também ouviu xingamentos como "biscate". Uma mulher gritou: "Mostra os peitos!".

    MOVIMENTOS

    A Frente Brasil Popular –que reúne mais de 60 entidades dos movimentos sindical e social, além dos partidos PT, PC do B e PDT– convocou seus militantes para chegar às 10h e manteve a convocação mesmo após a suspensão do depoimento de Lula.

    Já o MBL (Movimento Brasil Livre), que defende o impeachment, cancelou o chamado que lançou a seus seguidores, o que pode explicar o baixo número de manifestantes antipetistas. Nesta terça (16), Kim Kataguiri, um dos líderes do MBL e colunista da Folha, havia pedido demonstração da "legitimidade popular" dos movimentos contrários a Lula, Dilma e PT.

    LIMINAR

    Uma decisão liminar do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) suspendeu nesta terça (16) os depoimentos de Lula e de sua mulher, Marisa Letícia, ao Ministério Público de São Paulo.

    Os dois haviam sido intimados a depor sobre a situação do tríplex no condomínio Solaris, em Guarujá (SP), e sobre suspeitas de irregularidades na transferência do condomínio da cooperativa Bancoop para a OAS.

    O conselheiro Valter Shuenquener de Araújo, porém, acatou um requerimento do deputado petista Paulo Teixeira (SP), em que ele alega que o inquérito teria que ter entrado no sistema de distribuição do Ministério Público paulista. O deputado fala ainda em "flagrante perseguição política".

    Teixeira questionou a atuação do promotor Cassio Conserino, afirmando que ele não era o promotor natural para conduzir a investigação. O promotor já afirmou à imprensa ver indícios para denunciar Lula.

    "É fundamental o respeito à Constituição pelos agentes públicos", disse o deputado Teixeira à Folha.

    Ele contou com a orientação de pessoas do entorno do ex-presidente para entrar com o pedido de liminar. A ideia inicial era que Lula prestasse o depoimento –isso mudou após alertas de aliados.

    DISTRIBUIÇÃO

    Segundo o deputado Teixeira, o caso do tríplex está sendo apurado atualmente na 5ª Vara Criminal do Foro Central Criminal de São Paulo, sendo que é a 1ª Promotoria de Justiça a responsável pelos casos dessa área. Conserino seria da 2ª Promotoria.

    Para Teixeira, se não fosse direcionado para a 1ª Promotoria, o caso deveria ter tido, ao menos, livre distribuição.

    Araújo afirma que a representação criminal foi feita "de forma nominalmente direcionada ao requerido [Conserino] e a dois outros membros do Ministério Público, sem que se tenha notícia de qualquer distribuição ou mesmo decisão ministerial no sentido de que o requerido seria efetivamente o promotor de Justiça com atribuição na matéria".

    O conselheiro avaliou que é melhor paralisar o caso até mesmo para não colocar em risco as investigações.

    "Não é recomendável a manutenção de ato a ser presidido pelo requerido [Conserino] designado para amanhã [quarta] sem que antes o plenário deste conselho possa apreciar as alegações de ofensa ao princípio do promotor natural no âmbito do Ministério Público do Estado de São Paulo. A manutenção do ato poderia, acaso se entenda, em momento futuro, pela falta de atribuição do referido membro e da necessidade de livre distribuição do feito, até mesmo ensejar uma indesejável nulidade no âmbito penal", disse o conselheiro em sua decisão.

    O conselheiro alega ainda que as notícias que grupos favoráveis e contrários a Lula protestariam em frente ao Fórum da Barra Funda poderia "comprometer o regular funcionamento e a segurança" do local.

    A decisão vale até que o plenário do CNMP avalie o caso.

    JUSTIFICATIVA

    Sobre o tríplex, Lula justifica que comprou uma cota da Bancoop que dava direito a uma unidade no condomínio, mas desistiu de comprar o imóvel. Há a suspeita de que o tríplex, que está em nome da OAS e foi reformado pela empreiteira, estaria reservado para a família do ex-presidente e seria uma forma de favorecê-lo.

    A linha de defesa do ex-presidente sobre o triplex e o sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, ainda está sendo traçada por sua equipe de advogados, por isso, qualquer pronunciamento precipitado é considerado arriscado. Aliados e envolvidos na defesa do petista estão tomando o máximo de cautela em relação a manifestações públicas sobre as suspeitas.

    Triplex no Guarujá

    Colaborou BELA MEGALE, de São Paulo

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