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    folha, 95 anos

    Encontro Folha de Jornalismo debate crises política e econômica

    DE SÃO PAULO

    20/02/2016 02h00

    A recessão econômica, a Operação Lava Jato, a crise política e a guerra na Síria, temas que estão no centro da cobertura feita pela imprensa, foram debatidos no segundo dia do Encontro Folha de Jornalismo, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS), que celebrou os 95 anos do jornal.

    O primeiro painel de discussões, mediado por Maria Cristina Frias, colunista da Folha, teve como foco a crise econômica brasileira.

    Recessão e inflação

    Para os economistas Samuel Pessôa (colunista da Folha) e Eduardo Giannetti, a recessão foi, em parte, causada por escolhas feitas na Constituição de 1988, que criou um Estado de bem estar social com padrão europeu e centralizou a distribuição de tributos a partir do governo federal.

    "O Estado brasileiro hoje não cabe em si próprio", afirmou Pessôa.

    Erros do governo de Dilma Rousseff, como grande intervenção na economia, teriam piorado a situação.

    O colunista da Folha Vinicius Torres Freire ressaltou que, em sociedades com instituições mais sólidas, a forte aceleração do gasto público a partir de 2010 talvez não tivesse acontecido.

    Para os três palestrantes, a crise econômica deve se estender por muito tempo.

    CONFLITOS

    Cobertura em áreas de conflito

    Com o tema "Não Atire, Sou Jornalista", a segunda mesa tratou do desafio que impõem as coberturas jornalísticas de conflitos armados, com mediação da repórter especial da Folha Patrícia Campos Mello.

    O jornalista irlandês James Harkin, autor do livro "Hunting Season" (Hachette Books), sobre o Estado Islâmico, destacou os motivos que levaram a mídia internacional a recuar na cobertura do conflito na Síria, como os sequestros e decapitações e os custos altos da cobertura: "A Síria hoje é um buraco negro de informação".

    A correspondente de guerra espanhola Mayte Carrasco acrescentou que hoje há uma grande confusão entre jornalismo e o chamado jornalismo cidadão, feito por não-profissionais.

    "Quando chegamos a um hospital, pedimos para ver um médico, e não um médico cidadão", brincou ela, que já cobriu conflitos em países como Geórgia, Afeganistão, Líbia e Síria.

    João Wainer, repórter especial da Folha e autor do documentário "Junho - O Mês que Abalou o Brasil", abordou a "guerra não declarada na periferia de São Paulo".

    O jornalista questionou a atenção dada à repressão da polícia contra manifestantes e jornalistas, em contraste com a falta de cobertura nos bairros.

    LAVA JATO

    Bastidores da cobertura da Lava Jato

    No terceiro painel, os repórteres investigativos Thiago Herdy, de "O Globo", e Mario Cesar Carvalho, repórter especial da Folha, falaram sobre a Operação Lava Jato, que apura a corrupção na Petrobras. O debate foi mediado por Mônica Bergamo, colunista da Folha.

    Herdy e Carvalho destacaram a dificuldade de processar o grande volume de informações gerado pelo processo que, embora abra muitas possibilidades de cobertura, também traz desafios.

    "São tantas informações que nem os procuradores conseguiram apurar tudo", disse Carvalho.

    Herdy, também presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), destacou que, em meio à atual recessão, "falta gente nas redações para dar conta de tanta informação".

    CRISE POLÍTICA

    Jornalismo de opinião

    O encontro foi encerrado com um debate sobre jornalismo de opinião, mediado por Bernardo Mello Franco, colunista da Folha.

    Os jornalistas Reinaldo Azevedo, Ricardo Melo e Josias de Souza afirmaram que, por mais polarizado que esteja o momento político, ele não é o pior da história.

    Para Melo, diretor da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), as crises que levaram à morte de Getúlio Vargas e ao golpe de 1964 foram mais acentuadas. Na opinião de Azevedo, que é colunista da Folha, é preciso radicalizar ainda mais o debate, mas só "no verbo". Já Souza, blogueiro do UOL, afirmou que o risco a temer no país é de "venezualização", com as diferenças de opinião chegando à violência.

    Encerramento

    No encerramento do evento, o editor-executivo da Folha, Sérgio Dávila, afirmou que os principais desafios enfrentados pelo jornalismo atualmente foram debatidos nos dois dias de encontro.

    "Sem hipocrisia e graciosamente, os 23 debatedores mostraram coragem e independência ao aceitar nosso convite para debater o futuro do jornalismo", disse Dávila.

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