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    o impeachment

    Para pesquisador da crise política, Congresso é 'trágico'

    GABRIELA TERENZI
    DE SÃO PAULO

    21/02/2016 02h00

    Divulgação
    Leonardo Avritzer, cientista político autor de "Impasses da Democracia no Brasil"
    Leonardo Avritzer, cientista político autor de "Impasses da Democracia no Brasil"

    Os protestos de junho de 2013 abriram as comportas a uma torrente de insatisfações, que foram do transporte público à corrupção. Mas essa espécie de "caos criativo" pode não ser a forma mais produtiva de superar a crise por que o país passa.

    É o que avalia o cientista político Leonardo Avritzer, que acaba de publicar "Impasses da Democracia no Brasil" (Record). Para ele, o esgotamento das formas institucionais de participação –como conselhos e orçamentos participativos– é uma das raízes da atual crise política.

    Entre os impasses, o professor da Universidade Federal de Minas Gerais coloca também o combate à corrupção, que representa, ao mesmo tempo, um avanço na independência das instituições, mas que, segundo ele, precisa de ajustes.

    Leia trechos da entrevista.

    *

    Folha - Um dos elementos da crise descritos no livro são as limitações do modelo de participação social, que ficaram claras a partir de junho de 2013. O que isso significa?
    Leonardo Avritzer - O Brasil é um dos países que levou mais adiante um modelo de participação institucionalizada. A Constituição de 1988 introduziu a ideia de participação nas políticas públicas, especialmente na saúde e na assistência social.

    A partir de junho de 2013, há uma mudança. Um conjunto grande de atores fala que quer participar mais, mas não diz como.

    A mobilização fora das instituições é ruim para a democracia?
    Não é ruim, mas inconclusiva. Ela expressa uma insatisfação, mas não mostra o que é possível fazer para superá-la. A insatisfação pode ser mais produtiva. É preciso transformar essas demandas numa renovação das formas institucionalizadas de participação. Quem sabe ampliando-as para o campo da infraestrutura, que precisa melhorar suas práticas.

    Como fazer isso?
    A área de infraestrutura funciona do mesmo jeito que nos anos 70. Os grandes fornecedores do setor público são muito ineficientes e altamente ligados à corrupção. Na minha opinião, uma estrutura de conselhos, com a participação da sociedade, que fosse capaz de bloquear algumas dessas relações corruptas, poderia ajudar na eficiência dessa área.

    O sr. afirma, no livro, que as investigações de escândalos de corrupção revelaram a incapacidade do governo de estabelecer os termos da autonomia da Polícia Federal. Como seria essa forma?
    A PF fortaleceu sua independência nos últimos 15 anos, mas existem questões preocupantes sobre a sua atuação: o vazamento de informações, que viola direitos dos acusados; a expressão de posicionamentos quase partidários de membros da PF; e os abusos nas prisões. É importante ter uma polícia forte para coibir a corrupção, mas ela tem que ser mais bem controlada pelo Ministério da Justiça e o Judiciário.

    Essas instituições não têm sido eficientes nesse controle?
    Acho que não. O ministro da Justiça é absolutamente ausente, assim como as instâncias intermediárias da Justiça. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região e o Superior Tribunal de Justiça são ausentes na sua capacidade revisora. O único que faz um bom papel é o STF.

    O fortalecimento do Judiciário, porém, também é causa de impasse, segundo seu trabalho.
    As consequências de um Judiciário forte são parcialmente positivas: um presidente menos forte, o que é importante, mas um Legislativo muito fraco, quase permanentemente checado pelo Judiciário, como ocorreu no processo de tramitação do impeachment de Dilma. A trajetória do Congresso é trágica. Isso está criando um desequilíbrio dos Poderes.

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