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    Lava Jato

    João Santana, marqueteiro do PT, se afastou de Lula e Dilma

    MARINA DIAS
    DE BRASÍLIA
    JOÃO PEDRO PITOMBO
    DE SALVADOR

    22/02/2016 10h33

    Nos últimos meses, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava irritado com João Santana. Reclamava a aliados que o marqueteiro baiano priorizava campanhas eleitorais fora do Brasil no momento em que o PT e o governo da presidente Dilma Rousseff enfrentavam sua crise mais aguda.

    Chegou a pedir à cúpula do partido que encontrasse outro nome para substituir, pelo menos na produção das propagandas do PT, o marqueteiro responsável por sua reeleição, em 2006, e pelas duas campanhas vitoriosas de Dilma, em 2010 e 2014.

    Fase 'Acarajé'
    Deflagrada na manhã desta segunda-feira (22), a 23ª fase da Operação Lava Jato tem como alvo o publicitário João Santana e a empreiteira Odebrecht

    Nos bastidores, Lula reclamava que João Santana estava "cobrando muito caro" para quem não se dedicava integralmente ao projeto. Para as últimas inserções do PT no rádio e TV, por exemplo, o marqueteiro indicou um homem de sua confiança, Maurício Carvalho, para tocar as peças. Fez apenas a supervisão do trabalho.

    Desde que elegeu Dilma em 2010, Santana comandou as campanhas de Danilo Medina (República Dominicana, em 2012), José Eduardo dos Santos (Angola, 2012), Hugo Chávez/Nicolás Maduro (Venezuela, 2012) e José Domingo Arias (Panamá, 2014). Perdeu somente a última.

    O publicitário recebeu a notícia por advogados nesta segunda-feira (22) de que sua prisão temporária, expedida na 23ª fase da Operação Lava Jato, intitulada "Acarajé", havia sido decreta e que havia mandado de busca e apreensão em todos os seus imóveis no Brasil. Ele e sua mulher e sócia, Mônica Moura, estão na República Dominicana, onde trabalham na campanha para a reeleição de Medina. Sua defesa ainda discute que dia e hora voltarão ao Brasil.

    Na campanha de Marta Suplicy (PT) para a prefeitura de São Paulo, em 2008, Santana se envolveu em polêmica ao elaborar um comercial que questionava a vida pessoal do adversário, Gilberto Kassab, então candidato do DEM. Na campanha, um locutor disse que o leitor deveria saber se Kassab era casado e se tinha filhos.

    'VULCÃO E RAIO LASER'

    Aliados do ex-presidente dizem que o publicitário nascido em Tucano (BA) foi se afastando de Lula e do PT a partir do momento em que se tornou um dos principais conselheiros de Dilma Rousseff. "Lula é vulcão e Dilma é raio laser", dizia Santana sobre criador e criatura.

    Mas até mesmo da presidente ele tem estado mais distante. As últimas gravações de Dilma para TV e internet foram gravadas pela EBC (Empresa Brasil de Comunicação), não pela equipe de Santana.

    Durante o primeiro mandato de Dilma, ele era o único quadro não-político que fazia parte do restrito núcleo de conselheiros a quem a presidente escutava.

    O publicitário, de 63 anos, se casou pela sétima vez há mais de 15 anos com Mônica Regina Cunha Moura, seu braço direito e sócia na Polis Propaganda e Marketing.

    Quem conhece o casal, diz que Mônica trata de todas as questões práticas da vida deles e da empresa. De personalidade forte, é ela quem faz o contato com a maior parte dos fornecedores, empregados e até com a imprensa quando jornalistas querem falar com o marido, avesso a entrevistas.

    DUDA

    Jornalista de formação, João Santana foi trabalhar com Duda Mendonça em 1994, quando decidiu que o jornalismo não lhe renderia dinheiro.

    Era funcionário mas, depois, virou sócio de Duda, marqueteiro que elegeria Lula presidente pela primeira vez, em 2002, depois cairia em desgraça com o ex-presidente e o PT ao admitir, na época do mensalão, que o partido pagou a ele em contas fora do Brasil.

    Em 2001, ainda durante a campanha de Lula, Santana desistiu da sociedade com Duda. Amigos dizem que ele se cansou de ficar em segundo plano e abriu sua própria empresa ao lado de Mônica.

    OS CLIENTES DE JOÃO SANTANA - Marqueteiro trabalhou em campanhas no Brasil e no exterior

    Editoria de Arte/Folhapress

    BAHIA

    O publicitário baiano mantém um apartamento em Salvador, no Corredor da Vitória, e uma casa de praia no condomínio Interlagos, em Camaçari, região metropolitana de Salvador –ambos alvos da nova fase da Lava Jato.

    Desde 2012, quando comandou a campanha de Fernando Haddad (PT) à prefeitura paulistana, Santana fixou residência em São Paulo. Seu apartamento na capital baiana costuma ficar vazio ou ocupado por familiares. Por isso, ele costuma ir pouco à Bahia.

    Após comandar a campanha presidencial de 2006, que reelegeu o ex-presidente Lula, Santana chegou a ter um complexo com dois restaurantes e uma livraria em Salvador. Os estabelecimentos foram erguidos num prédio envidraçado em formato de pirâmide no bairro do Rio Vermelho.

    Na época, Santana costumava ciceronear em seus restaurantes políticos e empresários que iam a Salvador. Em 2009, recebeu o então recém-eleito presidente de El Salvador, Maurício Funes, de quem comandou a vitoriosa campanha naquele ano.

    Na inauguração de um deles, o Ocho Cheviche Bar, em 2011, Santana teve a presença do então governador Jaques Wagner.

    PATINHAS

    Antes de atuar como publicitário e marqueteiro em campanhas eleitorais, João Santana trabalhou em Salvador como jornalista nos jornais "Tribuna da Bahia" e "Jornal da Bahia". Na época, era conhecido entre os colegas pelo apelido "Patinhas".

    Patinhas é um apelido de adolescência, referência ao personagem Tio Patinhas. O apelido foi dado a ele porque Santana foi tesoureiro do grêmio estudantil do colégio Maristas, em Salvador.

    Com esse nome, o marqueteiro assinou algumas canções como compositor. Entre elas está a música "Um Sinal de Amor e Perigo", gravada pela cantora Diana Pequeno.

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